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Web 3.0: A internet descentralizada
O que é esse novo passo da internet que estamos transacionando e porque você deveria se importar
Se no ano passado fomos bombardeados por NFTs, agora temos algo que, de certa forma, é continuação desse assunto. Na verdade, é a convergência de diversos temas que vem se desenvolvendo nos últimos anos e que agora parecem de fato dar corpo ao que será a tal Web 3.0. Ou, na terminologia do momento, Web3.
E como é de costume nas provocações que gostamos de fazer por aqui, você deve estar se perguntando: “mas que raios é a Web3 e porque eu deveria me importar?”
E vamos de contexto…
A Web 1.0 (saudades do Yahoo!) era voltada especialmente para a disponibilização de informação. Era uma via de uma mão, onde algumas empresas administravam o conteúdo na web, que era consumido por todos nós.
Aí, veio a Web 2.0, onde a relação entre a Web e seus usuários passou a ser uma via de duas mãos. A era das plataformas, através das quais foi possível que o usuário passasse a ter um protagonismo maior no ecossistema digital. Olá Youtube, Instagram, Substack. O usuário não só consome conteúdo, mas é também o principal criador de conteúdo. E as plataformas existem para suportar essa infraestrutura. Essa ainda é a era da Web na qual estamos atualmente, mas isso aos poucos está mudando.
Bom, e qual é a grande revolução que está por vir? Isso é a Web3. E como falamos, ela se baseia em diversos temas que vem sendo cada vez mais proeminentes nos últimos anos. Criptomoedas, blockchain, NFTs e o metaverso são curiosidades distintas, com aplicações específicas e ainda muito embrionárias. A Web3 é onde todas essas coisas convergem, tomam forma e mudam novamente a nossa relação com o mundo digital.
Um novo mundo
É a era da web descentralizada, onde seus usuários conseguem executar transações entre si de forma segura, sem a dependência da validação de terceiros.
Que tal adquirir a licença de uma música de um artista através de um NFT, para usar em um evento no Metaverso e cujos royalties seriam pagos ao artista em criptomoeda? Tudo sem a necessidade de um banco de dados centralizado ou a validação de um terceiro. Isso é a Web3.
Historicamente a Web foi um lugar onde o conceito de propriedade não existia. Não havia segurança para bens digitais, tudo é copiado, transferido, baixado, alterado. Em função disso, ao longo das últimas décadas criou-se a presunção de que tudo na internet é de graça. E, portanto, os modelos de negócio em torno da internet tiveram que se adaptar a isso, especialmente na parte do conteúdo, que é mais facilmente copiado e reproduzido.
Foi assim que surgiu a dominância de plataformas como Google e Facebook, oferecendo a nós a internet gratuita, com múltiplos serviços e conveniências, mas monetizando nossos dados através da publicidade. Porque, afinal, ninguém quer pagar para ter uma rede social, um serviço de email e as notícias do dia. Ou, pelo menos, ninguém enxerga o valor real dessas conveniências, tampouco sabe o valor dos próprios dados que são monetizados através das plataformas de ads.
Com a Web3 esse modelo tem o potencial de ser virado de cabeça para baixo. À medida que as pessoas vão tomando conhecimento de como seus dados são usados e ficam mais preocupadas com privacidade, os modelos atuais passam a ser menos atrativos, especialmente se houver uma alternativa. Logo teremos serviços e aplicativos que rodam diretamente no blockchain, sem que seus dados tenham que ser compartilhados e monetizados por terceiros.
Pensemos em algumas situações específicas. A fotografia, por exemplo, perdeu valor com o digital. Todo mundo tem uma câmera em seu smartphone e tudo se copia na internet. Mas com o surgimento dos NFTs, a fotografia como arte digital teve uma certa ressurgência no ano passado, à medida que uma obra pode realmente ser única e ter sua propriedade claramente identificada e transferida.
Outro caso famoso é o do David Bowie, que em certo ponto da carreira decidiu securitizar os royalties futuros do seu catálogo de músicas. Era possível investir nesse catálogo, mas através de uma estrutura de investimento intermediada por terceiros. Com a tecnologia atual seria possível ser de fato o dono de uma parte da sua discografia, ou de uma música específica, ou até uma fração de qualquer um dos dois.
Marcas precisam estar preparadas. A Louis Vuitton precisará conseguir vender uma blusa virtual no Fortnite, que o usuário pode depois usar numa conferência virtual de trabalho no Teams e depois revendê-la num marketplace no Roblox, para ser usada por uma outra pessoa, em outro contexto.
E esse é um dos principais desafios da Web3: A possibilidade de portabilidade e interoperabilidade de dados. Para a realidade do metaverso e da Web3 realmente acontecer, ainda são necessários protocolos e padrões que devem ser comuns para que o seu dinheiro virtual e seus bens virtuais possam ser usados no ecossistema todo e não apenas em silos.
Essa discussão já acontece no mundo dos games, que já tem muitas das características do metaverso. São espaços compartilhados onde as pessoas vão para ter experiências juntas. Existe realmente uma comunidade e um senso de presença unida nesses locais. Muitas das crianças e adolescentes já estão habituadas a encontrar seus amigos no Roblox ou no Fortnite. Os NFTs também estão entrando no mundo dos games, com itens únicos que podem ser adquiridos e utilizados.
Mas hoje essas comunidades são estanques e poderiam se beneficiar de poderem conversar entre si. Não só pela facilidade e conveniência, mas também pela privacidade e segurança que isso ofereceria. Imagina poder bloquear um usuário com comportamento tóxico em uma plataforma e garantir que esse mesmo usuário não vai poder interagir com você em outras plataformas.
E esse é mais um tema espinhoso da nova Web, a moderação de conteúdo. Se hoje já acreditamos que as grandes plataformas não conseguiram produzir resultados positivos em termos de moderação de conteúdo falso, o metaverso não passa de um grande problema de moderação de conteúdo. Você não está apenas sob risco de estar lendo conteúdo falso, você pode estar totalmente imerso nele em toda a sua volta. Acrescente o componente de isso se carregar entre plataformas e parece ser algo que passará a ser inadministrável.
Mas essa realidade é uma que está se formando e não uma que já é presente em nossas vidas. Hoje essas diferentes facetas da Web3 ainda são desconectadas e a experiência do usuário é complexa. A sua avó conseguiria comprar um NFT, pagando com bitcoin, com a mesma facilidade que ela hoje usa o Instagram?
Mas é aí que está a oportunidade de negócio. O número de programadores trabalhando em soluções open source da Web3 atualmente é de aproximadamente 20.000 no mundo todo. Isso é uma fração do número de desenvolvedores de uma única empresa como um Google ou Facebook. Porém, o número de programadores nessa área vem crescendo de forma acelerada, 75% no último ano. Muito mais do que o crescimento no número de desenvolvedores em geral.
Esse é um indicador importante pois antes da Web3 realmente estar no nosso dia a dia, o que precisamos são das aplicações e serviços que ela pode oferecer. E à medida que o número de pessoas dedicadas a desenvolver isso dispara, em breve veremos a onda de novidades chegando e tomando conta da nossa experiência digital.
Na Web 2.0 de hoje você consegue acessar qualquer site, a partir de qualquer modelo de computador, usando qualquer provedor de internet. Esses padrões já foram estabelecidos. Para a Web3 isso ainda não existe. E tenho certeza que ninguém aqui vai querer viver apenas dentro do Metaverso do Zuckerberg.
A Web3 não está aqui completamente, mas está chegando em breve. Cada vez mais vamos ter novidades sobre o assunto, mas agora é o momento de agir para quem quer sair na frente na próxima revolução digital.
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