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Ghost Interview

Pavel Durov, o polêmico criador do Telegram

O russo não dá entrevistas oficiais desde 2016, mas solta o verbo em seu canal do Telegram. Aqui, você lê tudo!

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Já que começaram as retrospectivas de 2021, podemos falar que, com certeza, foi o ano dos apps de mensagem “alternativos’ ao WhatsApp. Seja pela mudança de política de privacidade, ou pelas quedas do sistema do Facebook, de fato, mais e mais pessoas procuraram o Telegram. O app recentemente liberou uma área de ads conversacionais, o que nos acendeu para procurar e “achar” o Ghost Interview de hoje: Pavel Durov, cofundador e CEO do Telegram.

A busca foi quase que de detetive, já que Pavel não dá entrevistas oficiais desde 2016. Boa parte de suas novas publicações são por meio do seu canal oficial do Telegram. De qualquer forma, a história do aplicativo parece vinda de um filme de espionagem. Até porque, teve um pouco de espionagem governamental nisso. Pavel foi, durante muito tempo, considerado o “Mark Zuckerberg russo”, pois tinha colocado no ar o VKontare, “o FB” da Rússia. Pois bem, o governo do país começou a exigir que fossem tirados certos tipos de grupos e mensagens nesta rede, coisa que Pavel (um cara cheio de opiniões fortes e polêmicas, como lerão daqui a pouco), se recusou. Por volta de 2013, as tensões com o governo russo chegaram a um ponto de perseguição mesmo, o que levou Pavel e seu irmão Nikolai saírem do país, levando parte da equipe do VKontare. Nessa época, já existia um protótipo do Telegram, que ambos levaram para os Estados Unidos nessa “escapada”. Em 2014, ambos saíram do VKontare e abriram o Telegram. De lá para cá, o app não passou esse tempo ileso de controversas. E Pavel encontrou um outro “inimigo número 1”: as Big Techs. Com essa introdução toda, agora sim, aproveitem o Ghost: 


Pavel, alguns comentam que o VKontar foi uma “cópia” do Facebook. Conta para gente qual foi a inspiração. E conta as implicações que você ser o criador da rede social acabaram tendo para você?

Pavel Durov: Um amigo meu me mostrou uma página do Facebook na época, ainda estava no começo do Facebook, e acabei aprendendo a partir daí. Os layouts das primeiras versões do VKontare foram bastante influenciados pelo Facebook. Ou teria levado anos para eu criar [a rede], já que eu não sou um designer profissional. 

(…) Em 2011, o Governo russo me processou, pedindo para que eu tirasse usuários e comunidades do partido opositor do VKontare. Eu respondi com este Tweet. Na noite depois de eu ter feito este Tweet, a polícia apareceu na frente da minha casa, em São Petersburgo.

Eles tinham armas, e pareciam muito sérios. Eles estavam tentando arrombar a minha porta. Nesse momento, eu liguei para o meu irmão [Nikolai Durov, o cofundador do Telegram], e percebi que não tinha um meio de comunicação a salvo com ele. Foi assim que o Telegram começou. 
(Fala editada a partir da reportagem do New York Times publicada em 2 de dezembro de 2014)

Em 2013, você ofereceu uma vaga para o Edward Snowden na VK, quando ele estava indo se exilar na Rússia. Qual a relação que ele tem na criação do Telegram?

Pavel Durov: Serei sempre grato ao Edward. De certa forma, ele é a razão para que o Telegram exista. Ele mostrou que os problemas de vigilância de mensagens e digital que eu passava [com o governo russo] não eram específicos apenas de um país. 

(Entrevista à revista Wired publicada em 12 de janeiro de 2015 )

Mas, sabendo que já existiam muitos apps de mensagem, incluindo aí o WhatsApp e o iMessage, qual é o ponto do Telegram? Por que colocaram no ar?

Pavel Durov: Não importa quantos aplicativos de mensagem existem se todos eles são uma porcaria. Para mim, e para maior parte do meu time, o WhatsApp é o pior de todos. Se você tem WhatsApp no telefone, e a bateria do celular acaba, do nada, você não pode ter mais acesso às suas mensagens do aplicativo em um outro device. Não é sincronizado, não tem ligação cross-device. Há limitações nos grupos e não é privado. Não sou um grande fã do WhatsApp.

(Apresentação no TechCrunch Disrupt San Francisco 2015, publicado em 23 de setembro de 2015)

Agora, diz para a gente como você explicou para os acionistas e jornalistas russos sobre o seu projeto misterioso quando foi para os Estados Unidos criar o Telegram?

Pavel Durov:

Telegram e a Liberdade de Expressão

O Telegram foi um dos primeiros apps de mensagem que permitem você passar o seu histórico para outros aplicativos. Mas foi em 2021 que vocês colocaram a oportunidade de trocar os históricos também do WhatsApp. Por quê?
Pavel Durov: O recurso atualmente importa mensagens para o final da conversa de destino do Telegram, mas mantém os carimbos de data / hora originais das mensagens. Algumas pessoas têm perguntado se podemos misturar as mensagens existentes em um chat do Telegram com as mensagens importadas em uma linha do tempo unificada. Isso deve ser possível se o chat de destino (para onde você importa as mensagens) tiver menos de 100 mensagens, então começamos a trabalhar nisso.

Também forneceremos APIs gratuitas para desenvolvedores terceiros criarem ferramentas que permitirão aos usuários importar mensagens para o Telegram de qualquer lugar. Tenho esperança de que essas ferramentas ajudarão a adicionar suporte para mais aplicativos do que esta primeira onda de três – e também permitir que os usuários importem vários chats ou sua caixa de entrada inteira de uma vez.

O significado original do avião de papel no logo do Telegram significa “liberdade”. Para nós, liberdade de escolha e portabilidade de dados são fundamentais. As pessoas devem ter controle total sobre seus próprios dados – e suas próprias vidas. 

(Mensagem publicada em seu canal pessoal do Telegram em 29 de janeiro de 2021)

O Telegram levantou muitas críticas por demorar a criar filtros para quem manda mensagem no app. Como anda a liberdade de expressão na era digital?

Pavel Durov: Geralmente assumimos que o mundo está se tornando um lugar melhor a cada ano. Mas quando se trata de liberdades individuais, o oposto é verdadeiro. A maioria dos estudos mostra que a humanidade está menos livre do que há vários anos.

Há 20 anos, tínhamos a Internet descentralizada e um sistema bancário relativamente irrestrito. Hoje, a Apple e o Google censuram informações e aplicativos em nossos telefones, enquanto Visa e Mastercard limitam os bens e serviços que podemos pagar. A cada ano, cedemos mais poder e controle sobre nossas vidas a um punhado de executivos corporativos irresponsáveis ​​que não elegemos.

A maioria de nós carrega de bom grado dispositivos de rastreamento – nossos telefones – e permite que as empresas usem nossos dados privados para nos direcionar com conteúdo que nos mantém distraídos com entretenimento de baixa qualidade. Ao contrário de 20 anos atrás, agora estamos cercados por câmeras de vigilância, que em países como a China usam IA para garantir que ninguém possa se esconder.

Em 2017, a China ultrapassou os EUA como a maior economia do mundo em poder de compra, mostrando ao mundo que as liberdades individuais não são necessárias para o desenvolvimento econômico. Olhando para o sucesso da China, mais países se tornam autoritários, restringindo direitos humanos essenciais, como liberdade de expressão e movimento.

(Post em seu canal pessoal do Telegram publicado em 30 de agosto de 2021)

Mas como dá para melhorar essa situação?
Pavel Durov: As mentes mais ativas e criativas de nossa geração estão ocupadas demais brincando na caixa de areia que encolhe rapidamente chamada de “livre empresa” ou produzindo conteúdo digital para manter todos os outros grudados em seus dispositivos por mais tempo. O resto parece estar muito distraído com a abundância de entretenimento digital barato para avaliar criticamente a tendência e agir.

Assistindo isso, eu me pergunto o que será o legado de nossa geração. Será que entraremos na história como aqueles que permitem que sociedades livres se transformem em pesadelos distópicos? Ou seremos lembrados como aqueles que defenderam as liberdades que as gerações anteriores lutaram tanto para conquistar?
(Post em seu canal pessoal do Telegram publicado em 30 de agosto de 2021)

Telegram x Big Techs

Você falou sobre as Big Techs, e é considerado um grande crítico delas. No meio deste ano, o NYT surgiu com a notícia de que a Apple está envolvida no projeto do governo chinês em censurar o conteúdo nos telefones das pessoas. Esse ano mesmo, a Apple lançou um projeto de IA para analisar as fotografias de quem usa o iOS para rastrear imagens ligadas à pornografia infantil. Então, diz para a gente, qual sua opinião sincera sobre a Apple?

Pavel Durov: Essa notícia da Apple e o governo chinês foi triste, mas não é surpreendente: as grandes empresas de tecnologia geralmente preferem os lucros à liberdade.

A Apple é muito eficiente na busca de seu modelo de negócios, que se baseia na venda de hardware obsoleto e caro para clientes presos em seu ecossistema. 

Sempre que preciso usar um iPhone para testar nosso aplicativo para iOS, sinto que fui atirado de volta à Idade Média. As telas de 60 Hz do iPhone não podem competir com as telas de 120 Hz dos telefones Android modernos, que suportam animações muito mais suaves. 

A pior parte da tecnologia da Apple, porém, não são os dispositivos mais pesados ou hardware desatualizado. Possuir um iPhone torna o usuário um escravo digital da Apple – você só tem permissão para usar aplicativos que a Apple permite instalar por meio de sua App Store e só pode usar o iCloud da Apple para nativamente faça backup de seus dados. 

Não é de se admirar que a abordagem totalitária da Apple seja tão apreciada pelo Partido Comunista da China, que – graças à Apple – agora tem controle total sobre os aplicativos e dados de todos os seus cidadãos que dependem de iPhones.

(Mensagem publicada em seu canal pessoal do Telegram em 19 de maio de 2021)

Outra Big Tech que você costuma criticar é o Facebook. Por quê?
Pavel Durov: Ouvi dizer que o Facebook tem um departamento inteiro dedicado a descobrir por que o Telegram é tão popular. Imagine dezenas de funcionários trabalhando exatamente nisso em tempo integral. Estou feliz por economizar dezenas de milhões de dólares no Facebook e dar nosso segredo de graça: respeite seus usuários.

Milhões de pessoas estão indignadas com a última mudança nos Termos do WhatsApp, que agora dizem que os usuários devem alimentar todos os seus dados privados para o mecanismo de anúncios do Facebook. Não é surpresa que a fuga de usuários do WhatsApp para o Telegram, já em curso por alguns anos, tenha acelerado.

(Mensagem publicada em seu canal pessoal do Telegram em 8 de janeiro de 2021)

Apesar do Telegram existir há muitos anos, ainda existem algumas “fake news” sobre o app. Quais são elas, e como elas estão erradas?

São três mitos. 

Mito 1. “O código do Telegram não é open-source”. Na realidade, todos os aplicativos cliente do Telegram são de código aberto desde 2013. Nossa criptografia e API são totalmente documentadas e foram revisadas por especialistas em segurança milhares de vezes. Além disso, o Telegram é o único aplicativo de mensagens no mundo que possui compilações verificáveis ​​para iOS e Android. Quanto ao WhatsApp, eles ofuscam intencionalmente seu código, impossibilitando a verificação de sua criptografia e privacidade.

Mito 2. “Telegram is Russian”. Na verdade, o Telegram não tem servidores ou escritórios na Rússia e foi bloqueado lá de 2018 a 2020. O Telegram ainda está bloqueado em alguns países autoritários, como o Irã, enquanto o WhatsApp e outros aplicativos “supostamente seguros” nunca tiveram nenhum problema nesses locais.

Mito 3. “O Telegram não está criptografado”. Todos os bate-papos no Telegram foram criptografados desde o lançamento. Temos Chats Secretos de ponta a ponta e Chats em Nuvem que também oferecem armazenamento em nuvem distribuído e seguro em tempo real. O WhatsApp, por outro lado, teve criptografia zero por alguns anos, e então adotou um protocolo de criptografia financiado pelo governo dos Estados Unidos. Mesmo se assumirmos que a criptografia do WhatsApp é sólida, ela é invalidada por meio de backdoors múltiplos e dependerá de backups.

(Mensagem publicada em seu canal pessoal do Telegram em 8 de janeiro de 2021)

Telegram + Ads ?

O Telegram tem sido bastante usado por criadores de conteúdo, mas também pequenas empresas, para poder falar diretamente com seu público. Nesse sentido, vocês pensam em trazer ferramentas de monetização? Como os ads entram nesse contexto?

Pavel Durov: Gostamos da abordagem de serviços preocupados com a privacidade, como o DuckDuckGo: monetizar serviços sem coletar informações sobre os usuários. Portanto, se introduzirmos anúncios em canais um para muitos, eles serão contextuais – com base no tópico do canal, não direcionados com base em dados do usuário.

Estamos corrigindo anúncios que já estão aqui. Na maioria dos mercados, os criadores de conteúdo no Telegram já monetizam seu conteúdo com a venda de postagens promocionais em seus canais. Este é um mercado caótico com várias redes de anúncios de terceiros lançando anúncios intrusivos que criam uma experiência negativa do usuário. Queremos corrigir essa situação oferecendo uma alternativa preocupada com a privacidade para proprietários de canais. 

Os usuários poderão optar por não receber anúncios, mas acho que os anúncios com foco na privacidade são uma boa maneira de os proprietários de canais monetizarem seus esforços – como uma alternativa a doações ou assinaturas, que também estamos trabalhando para oferecer a eles. 

Nosso objetivo final é estabelecer uma nova classe de criadores de conteúdo – que seja financeiramente sustentável e livre para escolher a melhor estratégia para seus assinantes. As redes sociais tradicionais exploram usuários e editores há muito tempo, com coleta excessiva de dados e algoritmos manipulativos. É hora de mudar isso.

(Mensagem publicada em seu canal pessoal do Telegram em 11 de fevereiro de 2021)

O que nos leva às “Sponsored Messages”, que vocês lançaram na última semana…

Pavel Durov: Não haverá anúncios nos chats do Telegram. Se você usar o Telegram como o app que lançamos em 2013, você nunca verá uma mensagem patrocinada. Mensagens patrocinadas não podem aparecer em sua lista de bate-papo, bate-papos privados ou grupos pequenos.

Os dados do usuário não serão usados ​​para segmentar anúncios. Como em tudo o que fazemos, nossa principal prioridade é proteger os dados privados de nossos usuários. É por isso que, ao contrário de outros aplicativos, não usaremos seus dados privados para exibir anúncios.

As mensagens patrocinadas no Telegram serão exibidas apenas em grandes canais públicos um-para-muitos com mais de 1000 membros – e são baseadas exclusivamente no tópico dos canais públicos em que são exibidas. Isso significa que nenhum dado do usuário é extraído ou analisado para exibi-los.

Alguns administradores de canais um-para-muitos no Telegram já postam anúncios na forma de mensagens regulares. Esperamos que as Mensagens Patrocinadas ofereçam uma maneira mais amigável e menos caótica para as pessoas promoverem seus canais e bots.

Anúncios digitais não devem mais ser sinônimos de abuso da privacidade do usuário. Gostaríamos de redefinir como uma empresa de tecnologia deve operar, dando o exemplo de uma plataforma autossustentável que respeita seus usuários e criadores de conteúdo.

(Post em seu canal oficial do Telegram publicado em 18 de novembro de 2021)

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