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GHOST INTERVIEW #18 | Adam Curry: o Pioneiro do Podcast

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Só em 2019, o Spotify gastou US$ 340 milhões no Anchor e na Gimlet; a Pandora acrescentou a feature de escutar podcasts, a Apple ultrapassou a marca de 29 milhões de episódios no iTunes, a Luminary lançou o “Netflix dos casts” e, lógico, a gente lançou o MorseCast. É, realmente, chegamos à era de ouro do podcast. Mas, diz aí, você sabe quem criou esse formato? A gente foi atrás e descobriu um dos pioneiros, o “Podfather”: Adam Curry. E é ele o convidado do Ghost Interview da semana.

Curry ficou conhecido no mundo da tecnologia por causa da música. Mas, diferente do Jimmy Iovine (de quem a gente falou lá no segundo Ghost Interview), Adam não produziu álbuns de famosos, mas os entrevistou, isso porque, entre 1987 e 1994, Adam Curry foi VJ da MTV norte-americana. O interesse pelo digital veio quando ele entrou em contato com os universitários primórdios da internet. Daí para o podcast foi um pulo de uns quase 10 anos. Quer ler essa história? Então segue a linha:

Escuta só…

Eu nasci nos Estados Unidos e me mudei para a Holanda quando tinha sete anos. Na época, a Holanda só tinha quatro estações de rádio, todas controladas pelo Governo. Quando tinha 15 anos, eu montei um pequeno transmissor e distribuía música para o meu bairro. Nessa época, acabei indo trabalhar em uma rádio pirata de Amsterdã, era ali que o pessoal escutava as músicas que tocavam nos bares e nas baladas. Da rádio pulei para a TV local. E, como sabia falar inglês, acabei apresentando e fazendo entrevistas com artistas que passavam pela Holanda, como David Bowie, Paul McCartney e Madonna. Numa festa da emissora, em 1987, recebi o convite da MTV norte-americana, para me tornar VJ. Já no começo dos anos 90, escutei falar sobre a internet como “o lugar onde a galera legal está”. Era um espaço de universitários, porque eles tinham acesso a redes e mainframes na faculdade. E, para minha sorte, eram também pessoas que passavam o dia todo assistindo à MTV. Juntou tudo. Pedi para uma empresa universitária para criar um e-mail para mim, para trocar mensagens com essa audiência e comecei a falar do assunto no ar. Foi nessa época que acabei sendo dono do domínio “mtv.com”, que fiz para ter um e-mail como VJ. Queria fazer um site para a MTV, mas a diretoria falava que já tinha a TV e não estava “preocupada com isso de internet”. Em 1994, eu não consegui levar o site para frente, mas queria trabalhar com a internet, então saí da MTV. Obviamente, não esperava que teria que passar por um processo judicial por causa do domínio “mtv.com”.

(Entrevista ao podcast New Media Interview em 23 de março de 2017)

O nome podcast só veio depois. A história do formato começa em 2000, quando conheci Dave Winer, um desenvolvedor de software e blogger. Na época, ele se dedicava ao RSS para blogs e para áudio. Nos Estados Unidos, os primeiros provedores de banda larga começaram a aparecer a partir dos anos 2000, mas a velocidade da internet não era boa ainda e a experiência de mídia na internet era horrível, principalmente porque era lento. Mas a banda larga permitia que a pessoa ficasse sempre online, então a minha ideia era transformar o áudio num produto final, que nem as notícias: sem o trabalho do download. Falei isso para o Dave e ele criou o “enclosure”, uma funcionalidade que permitia que o RSS conseguisse captar um endereço de mídia. Dave colocava alguns áudios online. Mas os primeiros programas mesmo vieram apenas em 2004, quando o iPod foi lançado. Nesse meio tempo, eu e ele nos mandávamos arquivos usando o RSS. Quando o iPod foi lançado, a gente pegou mais forte e tentou popularizar o formato. Porque não sei escrever códigos, mas sei fazer programa de rádio. Precisávamos de agregadores de RSS e de desenvolvedores interessados no assunto, então surgiu o “Daily Source Code”, um podcast que eu apresentava diariamente voltado para dar feedbacks – e para chamar atenção de programadores. A ideia toda era que não era possível desenvolver o produto se não tinha ninguém fazendo o broadcasting de programas. Não tinha como eles saberem o que funciona e o que não funciona nos agregadores.

(Entrevista ao The Week in Starttups, em 8 de outubro de 2010)

Encontrar o Michael Jackson foi muito legal, eu falei com ele algumas vezes. Mas quando eu recebi a ligação dizendo que o Steve Jobs queria me conhecer eu quase enfartei. Me falaram “por favor, venha a San Diego, Steve quer falar com você”. E eu fui, quase na mesmo minuto. Tivemos uma reunião de uma hora, ele falou que seguia podcasts e queria colocá-los no iTunes. Perguntei se deveria ter algum tipo de marca registrada da Apple nos programas e ele deixou claro que queria que o ambiente fosse aberto, para que todos pudessem criar. E, no final das contas, o mercado seguiu o caminho dele.

A Apple introduziu o podcast em 2005. Durante a apresentação, o Steve Jobs colocou um dos episódios do Daily Source Codes em que, sem querer, eu reclamava que meu Mac não estava funcionando. Foi bem engraçada a situação. De verdade, eu me senti o máximo por uns minutos depois disso.

(Apresentação na CUSP Conference 2012 em setembro de 2012)

Antes da experiência Mobile, nosso maior problema era fazer com que as pessoas entendessem que assinar um RSS não significava pagar por ele. Até no iTunes isso era complicado de explicar para os usuários. Então vieram uns caras de uma plataforma chamada Odeo e mudaram o termo “assinar” para “seguir”. A plataforma desses caras não deu muito certo e eles acabaram voltando com um outro nome de empresa – e outro conceito – o Twitter. Então as redes sociais se espalharam como fogo no mundo dos podcasts, e o interessante foi que o formato continuou a crescer num passo mais lento.  Até que os smartphones entraram na jogada e mudaram tudo o que a gente conhecia no mundo de armazenamento de mídia, os espaços para se escutar música aumentaram. O conceito de conteúdo serializado em episódios foi potencializado pelo Mobile.

Junto com isso, veio a melhora na conexão, o que transmite a experiência [de escutar o podcast] para o carro. Escutar rádio e conteúdo em áudio de maneira geral é um hábito que as pessoas têm quando estão em trânsito. Os carros conectados são um próximo passo da indústria. Ou seja, é bem óbvio que estamos num “pivot point” para os podcasts. Agora há mais interesse e as ofertas também aumentaram. Em termos de vozes, conceitos, assuntos abordados em podcasts, são muito enriquecedores. O mercado chegou a uma maturidade.

(Entrevista ao Podcast Legends em 21 de abril de 2017)

Antes de responder preciso dizer uma coisa: sou um grande entusiasta da Bitcoin. Uma coisa que as criptomoedas trouxeram para a gente é a discussão sobre as redes de valor e sobre o que cria valor. Como definimos essa rede é uma rede, que está em cima de outra infraestrutura de rede (a web), têm valor? E é aí que a criptomoeda da Dench [a MIC] entra, porque quando você tem uma comunidade de amantes de música, você fazer um ICO, abre espaço para o investimento em artista em troca de experiências e de um produto que eles vão gostar.

A criptomoeda é perfeita para esse tipo de investimento [em novos artistas], não só porque é fácil de usar, pode ser transacionada mundialmente, mas também porque quem investe consegue ver, exatamente, onde está criando valor.

A questão é que o negócio de música mudou radicalmente, graças ao Steve Jobs e o ao iTunes. E, claro, o streaming se tornou a forma de distribuir e de fazer dinheiro com música. Mas esse não é um modelo necessariamente benéfico para todos.

O público em geral não entende direito como o dinheiro circula no mundo da música, como vai para os artistas, e vejo o Blockchain como uma maneira de mudar esse método de distribuição, não só para a música, mas para o pagamento. E a gente quer ser a empresa que está pronta para se adaptar a esse novo modo.

(Entrevista ao podcast ICO Alert em 28 de setembro de 2018)

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