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De volta para o Futuro

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Desde o início da pandemia, você provavelmente deve se lembrar de algum lugar que deixou de frequentar, um produto que deixou de comprar ou um serviço que deixou de consumir. E, se isso ocorreu, existe uma grande probabilidade de ser um pequeno negócio ou um profissional liberal que estava na outra parte, perdendo você como cliente. Um restaurante, uma loja, um serviço… e a pergunta que fica: “isso foi pontual, durante a pandemia, ou mudou de vez?”. E, se isso foi apenas pontual, quanto tempo levaria para você voltar a consumir nestes lugares? E, o mais importante, da mesma forma que consumia antes… O que vai vir depois? Essa reflexão, somada a alguns conteúdos que pautamos ao longo dos últimos meses nos fez pensar um pouco sobre como podemos atuar para minimizar esse efeito colateral. Afinal, nem todos os impactos da tecnologia e da transformação digital serão positivos (bem nos diga Yuval Noah Harari, nosso Ghost Interview dessa semana) e a gente precisa se preparar, se estruturar e se organizar para isso. E, quem sabe o Morse não pode ajudar nesse processo!? Então, ajustem o relógio de suas DeLorean e venham conosco de volta para o futuro.

Marty, Doc, o que o futuro nos reserva?

A gente vive falando aqui das maravilhas da inteligência artificial e dos dados, e de como, combinados, eles conseguem criar produtos – e até startups inteiras. O lado B dela é um impacto que pode levar a gente a ter que se repensar como sociedade: o fim do trabalho como conhecemos. Poderíamos citar aqui uma série de especialistas, já que tem uma galera se debruçando no tema, mas talvez o mais citado seja esse relatório da McKinsey de 2017, que decretou que entre 400 milhões e 800 milhões de trabalhadores poderão perder seus empregos devido à automação até 2030. Além disso, eles ainda acrescentam: do total de trabalhadores que irão perder seus empregos, 75 a 375 milhões talvez precisem mudar de categoria ocupacional e aprender novas habilidades. Não à toa empresas como a StartSe estão se especializando como a alternativa aos que buscam se atualizar para o hoje e o amanhã profissionalmente. Em 2019, a UnB trouxe uma análise mais brasileira do assunto: 54% dos trabalhos formais do país podem deixar de existir até 2026. Os trabalhos que podem ser afetados pela inteligência artificial são de setores variados – desde agentes de crédito de banco até enólogos e fisioterapeutas. Ok, já assustamos vocês, agora chega mais?

Micro para o Macro

Outro assunto que costumamos falar por aqui: o crescimento dos apps de entrega e dos aplicativos da “gig economy”. Já abordamos aqui a briga dos apps de delivery, temos acompanhado a consolidação do setor lá fora – com fusões grandes, como a da Uber Eats e da Postmates; ou a JustEat comprando a GrubHub nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, a nova estratégia de entregas do Pão de Açúcar, que voltou a abarcar os apps rivais ao James Delivery, acendeu o sinal laranja para o mercado e sublinhou que existe, sim, uma dificuldade para novos entrantes no mundo dos apps de entrega. E, como bem falamos aqui quando lembramos o caso da Microsoft: concentração de mercado nunca é positiva para os pequenos negócios. Para se juntar ao fenômeno do delivery, vieram as “dark kitchens” – ou “ghost kitchens”. Basicamente, restaurantes que são apenas uma cozinha voltada para entregas. O negócio se expandiu aqui no Brasil que, neste ano, a Rappi decidiu fazer também as dark stores – sim, lojas voltadas apenas para as entregas. Lá fora, ele já é alvo de críticas de micro-empreendedores. Na Inglaterra, por exemplo, os donos de restaurantes pequenos estão saindo do Deliveroo porque perceberam que os dados de uso da plataforma e até de pedidos para os seus restaurantes têm servido muito mais às dark kitchens do que aos restaurantes.

O ponto de desequilíbrio

Os dados estão no cerne da discussão sobre os impactos negativos das grandes empresas de tecnologia no ecossistema como um todo. Há algumas semanas, conversamos com os criadores do Flores Online aqui no MorseCast, e um ponto importante do papo foi o papel dos marketplaces para as PMEs a encontrarem novos clientes, mas ao mesmo tempo o desafio que criam para se manter a clientela numa relação direta. Em entrevista exclusiva para o Morse, Pedro Saulo de Andrade, cofundador do AppJusto, comentou exatamente sobre isso. “Com as taxas cobradas, os apps de delivery são quase sócios dos restaurantes”, disse Pedro. Como as plataformas ficam com os dados de quem compra por ali – e não dividem essas informações com os restaurantes, no final das contas, elas têm apenas um cliente: o usuário final. Os restaurantes viram apenas um player nesse sistema, que eles deveriam dominar, afinal: o cliente deveria ser do estabelecimento. “No futuro, vai ficar difícil sair, já que essas plataformas [de delivery] viraram ferramentas de trabalho e sair vai significar como se o pedreiro não tivesse suas ferramentas em mãos”, afirmou. E, se vocês pararem para pensar, isso não ocorre apenas com os apps de entrega de comida, mas com os aplicativos da “gig economy” como um todo. O profissional liberal que faz parte de um Uber ou um 99 acaba ficando refém de uma plataforma fechada, sem ter capacidade de criar uma clientela ou, até mesmo, de ditar o preço do seu trabalho. Pense quantas pessoas um motorista de aplicativo não transporta em um ano de trabalho. E, após esse período, quantos poderão chamá-lo novamente para um novo trabalho? Em resumo, trabalha-se “apenas” pelo dinheiro e não para se construir um ativo proprietário… E não é por falta de tecnologia que se fica nesse looping, já que muitos desses profissionais passaram pela transformação digital de seus negócios exclusivamente por essas ferramentas. De alguma forma, eles ficam sem saber que podem usar um stack independente de soluções SaaS que podem ajudar o motorista, por exemplo, a ter funcionalidades de gerenciamento de clientes, agendamento de corridas e cobrança digital, tendo ele a autonomia sobre todo o processo. Como o que acontece com os profissionais do GetNinjas, plataforma que dá mais independência para os profissionais liberais do que o Uber.

It`s the data…

Um ponto que o AppJusto faz é exatamente dar aos restaurantes os dados dos clientes que compram nesse restaurante. “O cliente também é do restaurante, essa é a forma justa e transparente de lidar com o mercado”, disse Pedro. Isso tem ocorrido também nos marketplaces. A Amazon, por exemplo, começou a liberar que algumas marcas continuem mandando e-mail marketing para os clientes e futuros clientes dos seus produtos. A mesmissíma Amazon foi pega usando dados de venda para enriquecer as suas próprias linhas de produtos, ou seja: a mesma plataforma que diz ajudar, é aquela que, com dados, vai ser usada para diminuir ainda mais o espaço dos pequenos negócios. O Google tem também sido criticado por causa da maneira que dispõe os produtos no Google Shopping, os clientes acabam ficando apenas no espaço da Big Tech – trocando dados com elas – e não no lugar de quem está vendendo. Nesse sentido, sim, temos que falar de como a relação dos Big Techs com esse setor é sempre um grande “bate e assopra”: dá o espaço, mas tira os dados, dá a audiência para, depois, em minutos, alterar as regras de como chegar nessa mesma audiência. Para um pequeno empreendedor, estar numa dessas grandes plataformas, como Facebook e Google, é quase como entrar no jogo contra o campeão, que é dono do estádio e também dono das regras do jogo.

Out in the Open

Uma das formas de se munir contra os impactos negativos da tecnologia é usar exatamente a própria tecnologia. Mas com um objetivo de ganhar autonomia e transparência. Para Pedro, do AppJusto, a transformação digital é inevitável, e também é inevitável que novas tecnologias surjam para desafiar as grandes empresas estabelecidas. “O que desenvolvemos hoje em um ano, teria levado 4 ou 5 vezes mais para ser feito há 5 anos. Isso é uma constante na tecnologia, vai ser muito mais fácil criar um negócio que antes parecia tarefa impossível”, explica o cofundador do AppJusto. Por isso, a aposta do app é usar o código aberto. “O código livre é importante, pois se a gente consegue desenvolver e deixar ele aberto, facilita a entrada de concorrentes no mercado”, comentou Pedro.

Fight back

A nossa opção para as pequenas e médias empresas está no meio do caminho entre desenvolver tudo do zero e mergulhar de cabeça em uma grande plataforma que provê tudo, que é ter a visibilidade das áreas que se podem usar ferramentas diferentes. Como por exemplo, um serviço de bots para o WhatsApp, que pode ajudar uma loja a se manter conversando com seus clientes de marketplaces; ou uma solução para CRM para algum profissional do GetNinjas ou do Uber. Assim, as empresas ganham a independência e a autonomia para tirar o melhor proveito do superapp. Podem ficar atentos, que o Morse terá novidades em breve nesse ponto 😉

Full Circle

Para fechar o ciclo, voltamos ao emprego. No pós-pandemia, alguns especialistas passaram a questionar os cálculos sobre a perda de profissões, comentando que a automação é um processo caro e que talvez esse futuro não esteja tão próximo assim. O que eles falam é: novos empregos serão formados. De qualquer forma, o que vimos rolando no Universo Mobile nos conta uma história diferente: a mudança chega mais rápido do que se consegue calcular e quem fica parado, acaba sendo levado pela onda. O que significa que, no nível profissional, é importante que todo mundo se mantenha atualizado com conteúdos e cursos mais pragmáticos (como os da StartSe que falamos acima), mas também se mantenha de cabeça mais aberta para a flexibilização. Yuval, o historiador que falamos no Ghost dessa semana, frisa que o quanto mais a gente reforçar todas aquelas características que nos fazem humanos (o que o mercado de trabalho chama de “soft skills”), mais a gente se diferencia de máquinas nos nossos trabalhos, blindando-os de serem tomados pela automação. As empresas também podem tomar esse desafio, de entender as formas de reaproveitar os talentos que já existem para novos setores – vendo as skills, mais do que as exigências técnicas. Quase que dando um match entre pessoas e vagas (espaço para um autojabá: já conhecem o MorseMatch?). Por fim, o negócio é entender que a tecnologia pode mudar tudo, sim, mas que, ao se preparar, a gente pode surfar essas ondas e não sermos engolidos por ela.

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