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Ghost Interview

Rede Mulher Empreendedora

Conheça a Ana Fontes

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O Ghost Interview é um formato proprietário do Morse que recria narrativas em forma de entrevista para apresentar personalidades do mundo dos negócios, tecnologia e inovação. 


Em 2010, Ana Fontes criou a Rede Mulher Empreendedora (RME), a primeira organização de apoio ao empreendedorismo feminino do Brasil e atualmente a maior da América Latina. Ao longo desses 11 anos, a RME impactou a vida de nove milhões de mulheres por meio de programas de capacitação, mentoria e workshops. Atualmente, quase um milhão acompanha as plataformas da rede. Em homenagem ao dia da mulher negra latina-americana e caribenha, trouxemos Ana Fontes para contar sua trajetória, suas percepções sobre diversidade e como vem impactando as mulheres na América Latina. 

Quais são os desafios para mulheres negras hoje no mundo dos negócios, na sua visão?

O primeiro desafio de uma pessoa negra é ser reconhecida. As pessoas que hoje ocupam posições de tomada de decisão precisam olhar para as pessoas negras e entender seu histórico, sua jornada. O segundo é a pessoa negra poder acessar os ambientes de negócio, que são majoritariamente compostos por homens brancos, o que torna mais difícil conectar-se com esse ambiente. O terceiro desafio é desenvolver um networking que ajude a acessar esse ambiente. 

E como você enxerga a construção de um ambiente de negócio mais diverso? 

Ter construído uma carreira empreendedora, que inclui negócios que não deram certo, também me ajudou no desenvolvimento de habilidades que hoje são utilizadas nos conselhos. Em um país de maioria feminina e negra, é impossível que o board tome decisões que impactem positivamente essa pluralidade se sua composição for majoritariamente masculina e branca. As decisões partem de um lugar de conjectura, e não de reconhecimento. Um board que não representa a diversidade social deixa de ser estratégico.

Ainda existem empresas que não entenderam de verdade a necessidade de investimento no tema, e que ainda não compreenderam a conexão de diversidade, equidade e inclusão com os negócios. Existe a crença de que as coisas vão acontecer sozinhas, independentemente da intenção de se fazer a mudança – dizer que sua empresa é diversa não fará com que ela seja, se não houver intencionalidade seguida de ações. 

Qual o seu sonho como empreendedora? 

Meu sonho como empreendedora é que a gente não precise esperar 150, 200 anos para viver numa sociedade mais justa e inclusiva para mulheres. Que a Rede possa fazer um trabalho de capacitação e orientação e não precise fazer de inclusão, que a gente precisa fazer porque as mulheres não têm as mesmas oportunidades e condições do que os homens.

Como a Rede Mulher Empreendedora se adaptou à nova realidade com a pandemia?

Primeiro, tivemos de mudar completamente nosso modelo de negócio, já que mais de 90% das mentorias, eventos, capacitações e treinamento eram presenciais até fevereiro de 2020. De repente, nós, como organização, fomos levados a repensar nosso modelo para atender essa demanda. Passamos a produzir conteúdo muito focado na necessidade dessas mulheres, como organizar as finanças, diminuir o endividamento, fazer o desligamento de um colaborador de forma menos traumática, como transformar o negócio em digital, entre outros. Alguns desses programas que criamos no ano passado estão até hoje, como o RME Digitaliza. Passamos a atuar em função das necessidades delas.

Quantas mulheres empreendedoras vocês atenderam durante o período mais crítico da pandemia?

No ano passado, atendemos, de maio a outubro, mais de 25 mil mulheres com mentorias. Atendemos de maneira individual para entender qual era a dificuldade. Selecionamos um grupo de mentoras para que tivessem uma mão amiga, uma voz solidária que pudesse dar uma recomendação. Isso foi fundamental para essas mulheres buscarem um equilíbrio ou, pelo menos, a manutenção dos negócios. Para as mulheres em vulnerabilidade social, tivemos de trabalhar pesadamente em geração de renda. Tanto é que, no ano passado, trabalhamos muito fortemente em programas de geração de renda.

Quais foram esses programas?

Um deles, Heróis Usam Máscaras, foi um programa desenvolvido em parceria com o os bancos Bradesco, Santander e Itaú. Eles fizeram uma doação ao Instituto da Rede de R$ 38 milhões. Com esse recurso, produzimos, durante cinco meses, 12 milhões de máscaras com 6,5 mil mulheres, de Norte a Sul do Brasil. Selecionamos 60 organizações sociais, treinamos essas organizações, que passaram pelo nosso crivo legal e pela avaliação de compliance dos bancos e foram habilitadas a produzir e a recrutar as costureiras. Nós fizemos um levantamento – e, inclusive, esse projeto virou um case para nós -: geramos em média R$ 3 mil em renda para essas 6,5 mil mulheres. Esse projeto gerou ainda renda para a organização social local, para a costureira, para o fornecedor de tecido, elástico e linha, além de um impacto social, porque todas as 12 milhões de máscaras produzidas foram doadas para 200 organizações receptoras do projeto, como Médicos sem Fronteiras, Cruz Vermelha, Graacc, Cufa etc. Foi um projeto de ponta a ponta, com um impacto muito importante. 


Outro projeto significativo que ainda está ativo é o Potência Feminina, em parceria com o Google. É um projeto como se fosse um funil. Capacitamos 50 mil mulheres. Parte delas recebe uma aceleração dos negócios com mentoria e acompanhamento e algumas são escolhidas para receber capital semente e recurso financeiro.

Vocês estão planejando a continuidade de projetos como esses que ajudam as mulheres em situação de vulnerabilidade?

Não sabemos como vai ser daqui para frente. Se as empresas vão continuar com esse apetite social. Essa é uma grande incógnita. A gente espera e torce que sim, porque o trabalho que a gente faz tem relevância para essas mulheres. Continuamos trabalhando, buscando mais organizações que queiram investir em geração de renda para mulheres em vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, trabalhando para aquelas que buscam treinamento, conteúdo, capacitação e recurso financeiro.

Quantas mulheres já foram capacitadas desde que a Rede foi criada?

Nós impactamos a vida de 9 milhões de mulheres por meio dos programas de capacitação, mentoria e workshops. Atualmente, temos quase um milhão de mulheres nos acompanhando constantemente nas nossas plataformas. Somente em 2020, conseguimos viabilizar mais de R$ 30 milhões nesses programas de geração de renda. Trabalhamos muito para que os projetos gerem recurso para a ponta. Obviamente, temos um trabalho operacional, logística, contratação de pessoas para executar tudo isso, mas temos um cuidado muito grande nos nossos projetos para que a maior parte do recurso seja aplicado na ponta. Esse é o nosso grande foco. Agora na pandemia, com os cursos que a gente vem fazendo, só nos últimos meses, com programas de capacitação, conseguimos impactar mais de 260 mil mulheres. 

O que você recomenda para as mulheres que querem empreender?

Não tem fórmula para empreender, mas tenho algumas dicas que acredito ser fundamentais e que eu daria para mim há 14 anos.: Comece pequeno. Se a ideia é vender bolo, comece a fazer bolo dentro da sua casa e veja se as pessoas vão comprar. Não abra uma loja logo de cara. Faça parte de redes de apoio – não só da Rede Mulher Empreendedora, mas de qualquer rede de apoio. Empreender é muito solitário e quanto mais gente você tiver para trocar ideia, melhor. O terceiro ponto é: procure um mentor ou mentora. Seja cara de pau e acione sua rede de contatos. Procure alguém que já passou pela jornada empreendedora e que pode te ajudar dando um conselho, uma recomendação abrindo uma porta. Tive várias pessoas na minha jornada que me ajudaram muito com isso. A quarta coisa é buscar conhecimento. Tem de se capacitar. Hoje, com acesso à internet e a disponibilidade de cursos e programas gratuitos, dá para fazer. E, por último, é preciso trabalhar sua saúde emocional. Empreender é uma montanha russa. Perdi a conta da quantidade de vezes em que fui dormir falando “amanhã eu vou fechar”, então acordei e falei “não, vou tentar mais um dia”. Portanto, precisa ter muita resiliência. O ambiente empreendedor está muito glamourizado. As pessoas têm vergonha de falar dos erros. Os maiores aprendizados que eu tive foram nos meus próprios erros e com os de outros empreendedores. Converso muito com outros empreendedores e falo dos meus erros.

O que você planeja para o futuro?

Quero ver meu trabalho como política pública. Acredito, de verdade, que o meu trabalho, o da Rede, e de outras organizações sociais, são fundamentais para a gente diminuir a desigualdade social. O Brasil é o sétimo país mais desigual do planeta. Temos 20 milhões de pessoas que acordam todos os dias sem saber o que vão comer. Isso é desigualdade. Meu sonho é continuar valorizando o trabalho que a gente faz na Rede, mas empurrando como política pública. A gente não consegue mudar um país com 240 milhões de pessoas sem políticas públicas de inclusão. Temos um impacto gigantesco. Somos a maior organização da América Latina de apoio a mulheres, mas a gente não consegue mudar uma situação de 240 milhões de pessoas sem política pública para mulheres.

Fontes: Lider Inc, Uol, Forbes  

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