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O negócio de Ecossistemas

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Você pode não lembrar, mas há 10 anos, apenas uma marca detinha as máquinas de café em cápsula. A companhia também era a única responsável pela venda das cápsulas que faziam o café. Até 2013, a máquina da Nespresso era protegida por 1,7 mil patentes. As protecões em volta da empresa foram ruindo, com os concorrentes entrando na Justiça e exigindo a quebra do ecossistema. Em 2016, o cenário não era mais este, e a Nespresso detinha “apenas” 18% de vendas mundiais no setor.

What else?

Isso não aconteceu só no reino do cafezinho, mas também no segmento de pagamentos – com a interoperabilidade das bandeiras nas maquininhas, lembram que antes Visa só passava na Visanet e Mastercard na Redecard? Está acontecendo no setor de bancos, com o Open Banking e as plataformas abertas de investimento e, agora, está próximo de ocorrer no mundo dos aplicativos – sejam os de delivery, seja nas lojas de app e todos os diversos ecossistemas digitais e mobile. E o que acontece quando um ecossistema fechado abre as portas? Ou quando não quer abrir?

Para viagem

Só em 2019, ele movimentou R$ 11 bilhões. Em 2020, foi um setor mais do que essencial: estamos falando do delivery de alimentos. O crescimento do iFood, Rappi e UberEats foi gigantesco em 2020, para vocês terem uma ideia, só em São Paulo, houve aumento de 700% no download (e de 243% na utilização) de aplicativos de entrega durante a primeira fase da pandemia. Segundo pesquisa realizada pela NZN Intelligence, 45% das pessoas afirmaram que estão gastando mais com alimentação; destas, 34% estão comprando mais fast-food. O crescimento, no entanto, não se traduziu em retorno para os restaurantes que entraram nesses ecossistemas diferentes. Para muitos estabelecimentos, não vale a pena estar em todos os aplicativos devido ao custo que é gerenciar e, de fato, entregar em muitas plataformas. Isso levou a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) a iniciar o projeto do “open delivery”. A ideia é ser uma plataforma centralizada, para padronizar regras de apps de entregas e também as programações dos apps, que ligaria restaurantes e prestadores de operação de serviços delivery de última milha – sejam esses aplicativos como iFood, ou como, por exemplo, Magazine Luiza.

Wait, what?

No Open Delivery (OD), o usuário entrará em contato com todas as formas de entrega que aquele restaurante oferece – seja por aplicativo, por mensagem. Para os marketplaces o OD pode ser um boost, já que a Abrasel informou que o sistema será compatível com espaços de ecommerce que, como comentamos, já fazem o “last mile”. Seria uma oportunidade mais do que atraente para apps como MagaLu ou MercadoLivre, uma vez que o delivery de comida dá algo essencial para um superapp: a recorrência dos usuários (uma pesquisa mostrou que 43% dos paulistanos usaram delivery de comida entre duas e três vezes a cada 15 dias; enquanto 33% usaram até seis vezes neste período). Não é à toa que varejistas apoiaram a criação da plataforma. Para o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, o OD pode facilitar a entrada de novos players no mercado, já que padroniza o sistema. “O setor é um oligopólio. Hoje, muitos restaurantes dependem das maiores empresas do setor. O iFood tem 70% do mercado de delivery”, disse Solmucci. “Com a nova solução, a tendência é que o setor fique mais competitivo. Mais players poderão entrar no segmento, já que haverá um padrão na troca de informações”.Já vimos isso acontecendo nos meios de pagamento, certo?Isso sem contar nos dados dos clientes, que poderão voltar à posse dos restaurantes – uma das reclamações dos estabelecimentos que utilizam apps de entrega.

Taxas aqui e ali

Quando só há uma entrada, o dono da porta também é o responsável pelo pedágio. Para restaurantes, isso significa ficar à mercê das tarifas cobradas pelos aplicativos de entrega – que, segundo esta reportagem chegam a ser 27% sobre o valor do pedido no iFood. “Quem é o número 1 do mercado acaba colocando a taxa lá em cima para ditar a regra do jogo”, disse um empresário do setor nesta mesma reportagem. Como já falamos por aqui, o poder de um marketplace está em fortalecer o elo dos usuários e dos vendedores, mas até que ponto esse modelo se sustenta quando há um repasse das tarifas e dos preços para o usuário final? E como fica a conta para a entrada de estabelecimentos de bairro, que não conseguem absorver ou mesmo repassar essas tarifas?

The App Dilemma

Se estamos falando das tarifas, quer briga maior do que da Epic Games, Spotify (e mais um grupo de aplicativos) contra a “taxa de 30%” da Apple? Não há alternativa para um app que quer estar no iPhone ou iPad que não seja a loja oficial da própria Apple. Desenvolvedores reclamam que, nesse contexto, a taxa deste tamanho é um abuso de poder. Só o Spotify teve que deixar quase um quinto de toda a sua receita nos iPhones para a companhia de Tim Cook entre 2015 e 2018 (ou seja, US$ 670 milhões). Já a Epic Games, que foi banida da App Store em uma das maiores polêmicas do mundo mobile de 2020, já deixou US$ 360 milhões no pedágio da App Store. Mas tudo pareceu mudar nesta semana, a Apple mudou o sistema de tarifas para aplicativos, dos 30% para 15%. Com um pequeno detalhe de que tal alteração só vai servir para desenvolvedores que tenham até US$ 1 milhão de receita anual com seus aplicativos. De maneira prática, a redução da tarifa vai afetar a incrível fatia de 2% das receitas da App Store. Tal movimento não passou despercebido por Tim Sweeney, o CEO da Epic Games. Em entrevista anteontem ao Verge ele foi claro: “[A redução das taxas] Seria algo para se celebrar se não tivesse sido um movimento calculado da Apple para dividir os criadores de aplicativos e preservar o seu monopólio”.

Sem extras

Do outro lado, e é uma questão válida a ser feita: o que acontece quando a empresa que domina o mercado perde o poder de deter um dos seus maiores ativos, o ecossistema? O caso das App Stores é mais emblemático. O que acontece com a receita da Apple se ela abrir espaço para outras lojas de aplicativo? A perda de receita pode acontecer e o iOS teria que ser remodelado para abarcar, de forma segura, novas formas de entrada de apps – e nem vamos entrar aqui nas alterações que as novas políticas de privacidade da Maçã teriam que passar. Mas a Apple, como fabricante e provedora de serviços, poderia se beneficiar de abrir mais canais, mais possibilidades para desenvolvedores e para os usuårios. Já existe uma bússola apontando para a mudança: o Google informou, neste ano, que a nova versão do Android pode suportar outros espaços de venda de apps – uma notícia positiva para os fabricantes de celular, que poderiam deixar suas lojas de aplicativo embarcadas no device. Porém, permitir novas Lojas de Apps não quer dizer que a Big Tech está abrindo o espaço por completo, pois o sistema de pagamento precisa continuar sendo o do Google: “Qualquer aplicativo que ainda não está usando esse sistema para a venda de bens digitais deverá adicioná-lo até 30 de setembro de 2021”. Em resumo, abre-se o espaço do Marketplace de Apps mas mantém a “adquirência” através do seu sistema de pagamento que, inclusive, teve novidades essa semana com o relançamento do Google Pay.

360

Se a gente voltar lá para os primeiros parágrafos talvez a resposta já esteja pronta: a Nespresso. Apesar de ter passado por uma quebra de mercado, e por uma diminuição no share repentina (no Brasil, ela foi de única empresa (100%) para um share de 41% do mercado em um ano) e de uma diminuição no growth, em 2019 a companhia já tinha voltado ao crescimento: cerca de 5% ao ano. Com a combinação de D2C, comunicação personalizada e uma variedade maior de produtos, a Nestlé conseguiu manter a Nespresso relevante no mercado de café em cápsulas. O serviço embutido deles, no final das contas – e isso também passa pelos produtores de café – prevaleceu na hora da batalha. Sabemos que, no caso dos aplicativos de delivery, já há um esforço para oferecer mais do que apenas a plataforma de entregas aos restaurantes – inclusive falamos sobre isso há alguns meses. Para o consumidor final, isso também vem aparecendo, seja nas iniciativas de diversificação de portfólio dentro do próprio app (com uma área de entretenimento e games) ou das ofertas personalizadas da Rappi. No Mobile, tudo são apostas – e é melhor quando mais players tem oportunidade de jogar os seus dados também.

Open Business

Toda vez que um ecossistema é aberto, ou parcialmente aberto, surgem novos desafios mas também novas e grandes oportunidades. A interoperabilidade dos sistemas de pagamento suportou um novo mercado com surgimento de empresas bilionárias como PagSeguro e Stone. O Open Banking abrindo espaço para diversas Fintechs operarem crédito, como Creditas e várias outras, e o próprio segmento de maquininhas de café abriu as portas para diversos players, de Três Corações à Starbucks. Por isso, acompanhar de perto os ecossistemas de negócios e entender, quando e como, eles podem se tornar plataformas abertas é algo que deveria estar no radar de qualquer empresa em busca de fortalecer seus negócios ou explorar novas oportunidades.

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