Twitter, Facebook, TikTok e Snapchat estão desenvolvendo ferramentas desse tipo. O Substack ganha dinheiro assim. O Clubhouse entrou nessa dança. Sim, o pagamento direto aos criadores de conteúdo está mudando tudo que conhecemos nas dinâmicas das redes. E o Ghost Interview foi atrás de um dos pioneiros dessa tendência: Tim Stokely, criador e CEO do OnlyFans.
O OF começou em 2016 voltado para o conteúdo adulto – e seus consumidores – como uma plataforma para que os maiores de 18 anos conseguissem pagar uma assinatura direta para modelos, atores, atrizes e strippers se apresentassem online para eles (quase que uma subscription de nudes ao vivo). Esse sistema acabou chamando atenção de influencers e músicos, afinal, dava espaço para que eles monetizassem e falassem diretamente com a sua audiência. E isso não é uma exceção, a indústria pornográfica historicamente é precursora de diversas inovações e tecnologias, como o próprio modelo de pagamento On-line em si, que o filme Middle Men conta a história. Além disso, outras inovações; do primeiro e-mail com anexo (imaginem o que foi enviado no anexo), passando pelo VHS e chegando as experiências em AR e VR, o pornô tem alavancado tendências. Não à toa, em 2016, nós fizemos um evento chamado Tech Rouge que justamente apresentou as tendências trazidas pelo lado oculto da tecnologia. (Se você foi no evento, lov u). Bom, voltando ao Ghost de hoje: com US$ 400 milhões em receita anual, 100 milhões de usuários mensais e, mais importante, uma mudança radical na relação entre público e criadores de conteúdo, temos uma nova tendência surgindo? Para chegar até aqui, Tim, que tinha já empreendido em três outras plataformas de conteúdo 18+, trilhou um caminho duro. E é isso que você vai ler agora.
DISCLAIMER: Ah, sim, precisamos avisar isso para vocês: o conteúdo desta newsletter é, como parte do OF, adulto. Logo, alguns dos links que estão dispostos ao longo do texto podem ter umas imagens que podem ser… ahn… complicadas de entrar caso esteja num device da sua empresa ou se estiver em um lugar público. Click Safe 🙂
Tim, antes do OnlyFans, você teve o GlamWorship, o Custom4U e o 121With, os dois primeiros eram marketplaces que criavam a conexão do criador de conteúdo adulto com o usuário; o último era um “marketplace de pequenos serviços”. O que aprendeu neles e te inspirou para o OF?
Eu ganhei um entendimento melhor sobre como a relação entre criador e fãs funciona. E foi o que me fez olhar também para o que estava acontecendo no meio de influencers nas mídias sociais.
Em 2016, a gente já via a explosão do marketing de influência, e víamos que as marcas estavam lucrando com os criadores maiores com as campanhas publicitárias e o endosso de produtos. Então pensei: “E se pudermos construir uma plataforma que funcione de maneira semelhante às mídias sociais existentes, mas com a diferença fundamental de um botão de pagamento?’”
(Entrevista à Fast Company em 26 de março de 2021)
O que você aprendeu da experiência em outros marketplaces que acabou levando para a dinâmica do OF?
Um dos erros que cometi nas outras plataformas foi me concentrar em construir o que eu sentia ser um ótimo marketplace. Mas, por inexperiência, não dei consideração suficiente ao plano de crescimento: como atrairia os usuários para este mercado? Esse problema foi resolvido, no caso do OnlyFans, com a criação de um programa de Member get Member, que incentivava terceiros a trazer criadores para a plataforma.
(Entrevista à revista GQ, publicada em 16 de março de 2021)
Por que o tal do “botão do pagamento” dentro da plataforma do conteúdo te diferenciou das redes sociais?
Quando o OnlyFans foi lançado, ele era a primeira plataforma que permitia o pagamento direto e foi deliberadamente configurada para hospedar todos os tipos de criadores de conteúdo. Já havia muitos criadores produzindo conteúdo incrível, mas nas redes sociais gratuitas. Com o OF, todos esses criadores, que estavam fazendo esse conteúdo incrível de graça, tinham uma maneira muito simples de ganhar com esse conteúdo.
Em outras plataformas, não havia uma solução única para monetizar o conteúdo além dos publis de produtos ou anúncios patrocinados. Esse modelo de negócios atendia apenas os influenciadores maiores, enquanto o nosso funciona para todos os criadores de conteúdo, independentemente do tamanho da base de fãs.
(Entrevista à revista GQ, publicada em 16 de março de 2021)
Vocês começaram num meio que estava meio nebuloso para as redes sociais, como isso ajudou o produto?
Como comentei, as maiores oportunidades de monetização que existiam para influencers, como os publis e as campanhas, não estavam, exatamente, na mesa para os criadores de conteúdo adulto. As redes sociais passaram a banir esse tipo de conteúdo.
(Entrevista ao The Information em 17 de novembro de 2020)
Eis uma pergunta incômoda: por que o OF resolveu começar a partir do conteúdo para maiores de 18 anos?
Decidimos desde o início que era uma regra sensata e segura todos os usuários terem mais de 18 anos, principalmente por causa do elemento de pagamento para a plataforma. Mas, é claro, com todos os usuários maiores de 18 anos e todo o conteúdo seguro atrás do mural pago, isso nos permitiu ter políticas de conteúdo mais progressistas e liberais do que outras plataformas de mídia social. Mas, desde o primeiro dia, o OnlyFans foi lançado para todos os criadores de conteúdo – nunca o comercializamos para nenhum setor específico.
(Entrevista à revista GQ, publicada em 16 de março de 2021)
Qual foi o maior benefício e o maior desafio de ter começado escolhendo esse segmento?
Porque os usuários tinham que ter mais de 18 anos para ter uma conta no OF e ele tinha a segurança do paywall, conseguimos criar um espaço seguro para a entrada de criadores logo do começo. Muitos vieram para a nossa plataforma organicamente por causa dessas features.
Existem mais de 300 criadores dentro da nossa plataforma que conseguiram mais de US$ 1 milhão cada, então acho que somos uma grande história de sucesso.
Sobre ter começado na indústria de conteúdo adulto?! Bem, nós tivemos um pouco de críticas e preconceito, mas eu acho que isso vem com o território.
(Entrevista ao jornal Telegraph em 2 de abril de 2021)
Boa hora para falar que a gente respeita muio essa indústria. Já falamos numa news sobre isso, inclusive. E já ajudamos a coordenar um evento exatamente sobre os impactos positivos do segmento na tecnologia. Qual a sua opinião sobre a indústria de conteúdo adulto?
A indústria adulta está sempre à frente da curva quando se trata de tecnologia, e essa foi definitivamente a área de crescimento mais rápido. Mas à medida que continuamos a crescer, você tem criadores contando a outros criadores e fãs contando a outros fãs, e então você começa a ver mais e mais criadores de diferentes setores começando a ver o potencial do OnlyFans e o potencial de ganhos. E, você sabe, agora temos uma comunidade de criadores incrivelmente diversificada.
(Entrevista ao The Information em 17 de novembro de 2020)
Falando da diversidade desses criadores, é verdade que apenas os criadores muito famosos (tipo a atriz Bella Thorne, que ganhou US$ 1 milhão em apenas um dia no OF, para depois sair da plataforma) ganham mais no OF?
Você esperaria ver uma ligação clara [entre os criadores do OnlyFans] entre a renda e o quão famoso o criador é – quantos seguidores ele tem, por exemplo. Mas, na verdade, não são apenas as celebridades que ganham dinheiro, há uma gama muito maior de criadores de conteúdo se saindo muito bem. Isso está ligado à interação, que parece ser um fator maior do que qualquer outra coisa para as contas mais bem-sucedidas.
(Entrevista à revista GQ, publicada em 16 de março de 2021)
Você falou de growth, mas como você convenceu os criadores a estarem no OF?
Nosso pitch de venda era literalmente: “olha, você tem um milhão de seguidores no Instagram, se apenas 1% deles pagarem no OnlyFans…. Agora sabemos que a média que um criador cobra é de US$ 12, ou seja, os 1% dos seguidores da Kim Kardashian poderiam valer US$ 23 milhões mensais no OnlyFans.
(Entrevista à Bloomberg em 5 de dezembro de 2020)
Ainda tem a questão de que os fãs que pagam podem ser mais engajados do que apenas seguem, não é?!
Isso é interessante. Estávamos conversando com um agente há algumas semanas sobre exatamente isso: que o OnlyFans pode ter menos seguidores do que o Instagram, mas os que estão ali são os fãs mais engajados. Então, quando você faz uma enquete, por exemplo, para um milhão de seguidores, os dados que você vai obter disso serão muito menos úteis do que fazer uma enquete para 10.000 de seus fãs hardcore no OnlyFans. Acho que é uma das razões pelas quais está se tornando um espaço cada vez mais valioso para os criadores.
(Entrevista ao The Information em 17 de novembro de 2020)
Uma coisa que ficamos curiosos por aqui: vocês pensam em fazer um app para a App Store?
Um dos nossos maiores objetivos ao criar a plataforma foi garantir que pudéssemos criar um modelo de negócios que nos permitisse pagar comissões realmente altas aos criadores de conteúdo, porque são eles que produzem o conteúdo. É por isso que pagamos 80%. Quando você segue a rota do aplicativo, por causa dos vários custos de funcionamento de um aplicativo – compras no aplicativo, por exemplo – não tenho certeza se poderíamos oferecer a mesma comissão.
Nosso objetivo, e esperançosamente o que alcançamos, era construir um site móvel progressivo que tivesse a aparência de um aplicativo e funcionasse dessa forma. E então, quando estamos desenvolvendo novos recursos, e apenas geral [experiência do usuário], isso é algo que sempre temos em mente.
(Entrevista ao The Information em 17 de novembro de 2020)
Qual outro setor, além da música, que você vê uma oportunidade para o crescimento do OF?
Esportes! Eu estava conversando com uma série de esportistas aqui no Reino Unido. Uma das ideias que eles estão avaliando atualmente é o que está acontecendo com os clubes de futebol. Com os efeitos colaterais da pandemia, muitos clubes de futebol estão lutando, já que não conseguem o dinheiro da bilheteria. E uma das discussões foi que você poderia usar o OnlyFans de uma forma realmente positiva para arrecadar fundos, para doar a clubes de futebol em dificuldades.
Acho que é algo que veremos mais. … Agora as pessoas estão realmente começando a entender o enorme potencial de ganho do OnlyFans, vamos começar a ver perfis criativos e mais caridosos sendo configurados. E esse é apenas um exemplo. Em última análise, por que estamos vendo um crescimento nos esportes? É o mesmo que música, comida ou jogos; é porque ele serve como uma experiência extra para sua mídia social existente e fornece uma maneira fácil de monetizar o conteúdo.(Entrevista ao The Information em 17 de novembro de 2020)
Por que cobrar por algo que muitos usuários conseguem de graça?
Quando você paga pelo conteúdo, está pagando por uma interação, por um vídeo pessoal, que foi feito puramente para o seu prazer. Tem algo nisso que dá a sensação de valor, e de que dá a ideia de que vale a pena pagar. E, bem, nossos usuários concordam. Essa é a real diferença..
(Entrevista ao Vocativ em 19 de março de 2014)