Ghost Interview
GHOST INTERVIEW #8 | Com o 1º unicórnio da meditação
Papo-zen
Ser mais zen era aquilo que estava na nossa lista de resoluções para 2019; era uma meta que também estava na nossa lista de 2018 e 2017, por isso, esse ano fizemos diferente: a gente foi atrás da fonte da Calma. Assim veio o Ghost Interview da semana: Alex Tew, co-fundador e co-CEO do Calm, app de meditação que chegou ao patamar de unicórnio na semana passada!
O poder de “escala” da primeira criação de Alex para a web, a “Million Dollar Homepage”, foi replicado no Calm, aplicativo que criou junto de Michael Acton Smith (que tem uma aparição especial aqui no Ghost) em 2013. O serviço demorou 4 anos para chegar aos 10 milhões de downloads, menos de 3 para ultrapassar a marca dos 40 milhões – tudo isso numa start-up com menos de 50 funcionários. Então, respira fundo e dê sua atenção total ao que ele tem a dizer:
Respira, inspira e pira
Meditação já era um interesse pessoal meu desde a adolescência, mas, lá no começo dos anos 2000, meditar me trazia olhares duvidosos da minha família e dos meus amigos. Sem contar que aprendi a meditar lendo livros e escutando CDs e DVDS, que comprava em livrarias místicas. Na época, o assunto ainda era ligado à religião.
O Calm sempre teve esse conceito de ser um produto e marca com o qual as pessoas pudessem se relacionar e aprender a meditar sem o véu da espiritualidade. Era para ser algo pé no chão, o que representa bem o significado do que é meditar, inclusive.Mas não foi fácil de levantar a grana no começo, lá em 2012 a turma da tecnologia, mesmo da Califórnia, ria do assunto. Depois que lançamos, ainda chamavam “aquele app de meditação”. Conseguimos, eu e Michael, levantar um milhão de dólares – dividido em dois investimentos de 500 mil dólares – não era muito, mas isso acabou sendo fantástico para gente: tivemos que nos virar com pouco, o staff foi reduzido, trabalhamos por muito tempo com 10 pessoas.Logo quando lançamos o modelo de assinatura, ela custava apenas 10 dólares por ano, era o que os outros apps do segmento de saúde cobravam, e, para a gente, era um valor bem baixo.
No ano seguinte, em 2014, já aumentamos para 40 dólares, algumas pessoas saíram do aplicativo, mas as que converteram, continuaram e o crescimento de receita foi substancial, hoje temos mais de 1 milhão de assinantes.Em 2017, a Apple nos pegou de surpresa ao eleger o nosso aplicativo como o preferido do ano. Eles só nos mandaram um e-mail perguntando se as artes que eles tinham do nosso aplicativo era condizente com o nosso conceito. E não acho que a Apple foi ingênua nisso, eles usaram o ranking para mandar a mensagem de que as pessoas podem usar o telefone para o bem, para ganhar saúde mental.
(This Week in Startups de 26 de outubro de 2018)
Primeiro, tem uma mudança acontecendo no comportamento das pessoas quando o assunto é saúde, o interesse nos últimos 15 anos tem sido apenas o foco no exercício físico. Agora tem uma mudança forte para pensar na saúde mental. O Calm entra nessa estrada. Mas a questão é: como chegar nessas pessoas? A gente precisa estar onde elas estão, agora, isso significa estar no celular.
Então, para mim, o Mobile é uma maneira incrível de atingir usuários e chamar atenção deles. O que as pessoas precisam entender é que o celular não é o inimigo, mas o que a gente faz com os telefones sim. Alguns aplicativos trazem a conveniência como agenda, mapas e serviços, outros apenas consomem nosso tempo de forma vazia – ficamos dando scroll em feeds infinitos.Nesse ponto, a interface também faz diferença: a gente escolheu o áudio. Assim, o engajamento não é tanto da atenção visual, é como alguém falando numa sala para a pessoa, isso tira a atenção do aparelho, não é como um feed. O Mobile também nos permite usar push notifications, o que percebemos que engaja as pessoas em termos de hábito. Nossos dados indicam que muitas pessoas lutam para adquirir o hábito de meditar, então usamos o poder do Mobile para isso. E tem dado certo.
(Conferência Wisdom 2.0, de 29 de março de 2018)
Na verdade, criamos a parte de “sleep histories”, mas não seria justo eu tomar esses créditos, porque foi toda ideia do Michael, foi insight dele.
(This Week in Startups de 26 de outubro de 2018)
Notamos que havia um enorme pico de uso no app por volta das 23h em diversas localizações em zonas de horário diferentes no mundo todo. Eram pessoas usando a meditação para ajudá-las a dormir todas as noites. E meditação não é feita para fazer dormir, então pensamos: essa informação é importante, tem algo nisso. Então decidimos criar as histórias para dormir para adultos, para ajudá-los nesse momento exato que é necessário “desligar” antes de dormir.
Chamamo-as de “sleep stories”, e isso tudo parece muito simples, mas não é, tem bastante ciência e análise de dados envolvida: as histórias são contadas com vozes bem calmas, criamos contos que começam de maneira engajada para ocupar a cabeça dos ouvintes num primeiro momento e impedir que eles pensem em suas preocupações, depois a história vai se tornando mais onírica, as palavras mais espaçadas até que a pessoa dorme. Foi um hit quando lançamos. E agora, é uma parte maior do que a parte de meditação do aplicativo, tem mais usuários. É um mercado enorme, afinal 7,5 bilhões de pessoas vão dormir todas as noites, e escutar uma história feita para fazer você dormir me parece uma melhor escolha do que uma série do Netflix, que foi projetada exatamente para o contrário.
(Michael Anton Smith em apresentação na WebSubmitt de 2018, em novembro)
A insônia é uma epidemia moderna. A busca por essa cura é o nosso Santo Graal, e a GDPR pode ser nossa melhor esperança. Novas leis não são feitas para serem excitantes e animadoras. Esse não é o papel delas. Mas a GDPR é tão longa e complexa que consegue sedar um búfalo.(Mashable em 23 de março de 2018) Alex, o Calm já conseguiu mapear que domingo é o dia de maior nível de insônia nos Estados Unidos e no Reino Unido, quais outros dados legais você acha interessante de dividir com a gente?A partir de nossos dados de uso, chegamos à conclusão que Washington é a capital da insônia nos Estados Unidos. Nenhuma outra cidade chega perto disso. Ou seja, hoje em dia, Frank Sinatra e Liza Minelli teriam que pensar duas vezes antes de cantar a frase “I want to wake up, in the city that never sleeps”, de “New York, New York”.