Ghost Interview
GHOST INTERVIEW #10 | Os bastidores do Duolingo
A gente navegou na onda do mobile perfeitamente, e foi um dos segredos para o nosso sucesso. Foi tudo uma questão de timing correto. Nós lançamos o aplicativo do iOS numa terça, e na quinta-feira ele já era o número um no segmento de educação.
Estar no Mobile permitiu que uma vantagem grande para a gente. Estabelecidos como app, ficou mais difícil competir contra a gente porque conseguimos levantar muitos dados e, com esses números, o nosso sistema ficou mais inteligente. E é algo que se retroalimenta: quanto mais inteligente fica o nosso sistema, mais inteligente fica o fenômeno e a experiência.
(Entrevista à GeekWire, 23 de fevereiro de 2018)
O que os cursos oferecidos na internet fazem de errado é que eles basicamente pegam algo que é oferecido no mundo real, no mundo off-line, e colocam na internet. A gravação de uma palestra é, geralmente, pior do que a palestra em si. Assistir em vídeo não é tão bom quanto estar ali, na vida real. Eles pioram algo que tinha certa qualidade. As coisas mais bem-sucedidas na internet são aquelas que conseguem ser melhores na internet do que no mundo real. O e-mail é um bom exemplo – ele é muito melhor, mais fácil e rápido do que mandar uma carta. Por isso fez sucesso.
Acredito que a educação deve ser oferecida através de celulares. Há cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo que não tiveram acesso à educação de qualidade, e a maioria dessas pessoas vai possuir smartphones nos próximos dez anos. Por isso, acredito que a educação será oferecida através desses aparelhos. Ou terá de ser. O formato em que isso será feito deverá ser o mais bem adaptado para os dispositivos móveis. Assistir a um vídeo no celular não costuma ser a melhor das experiências. As coisas que mais fazem sucesso nos celulares são os jogos. Por isso, a educação terá de se aproximar desse formato: parecer um jogo tanto quanto possível. É o que tentamos fazer com o Duolingo. Tentamos fazer com que ele pareça um jogo, seja muito interativo.
(Entrevista dada à Revista Época em 24 de julho de 2014)
Nosso esforço maior foi transformar o aplicativo em uma experiência divertida e conveniente. Quando lançamos, 15% das pessoas que entravam no app voltavam no dia seguinte. Hoje, o número é acima dos 50%. Chegamos nisso ao adicionar vários elementos de games nos aplicativos: você ganha pontos se faz algo bom, a gente manda notificações em push para lembrar os usuários a continuarem a estudar, por exemplo.
(Respostas no fórum do The Next Web, em 9 de novembro de 2017)
Melhor do que o esperado. Os anúncios foram colocados porque precisamos ganhar dinheiro. O jeito mais simples seria cobrar pelo uso do aplicativo, mas isso é contra nossa missão, que é oferecer ensino de idiomas gratuito.A publicidade nos permite ganhar dinheiro e manter a gratuidade. Também temos uma assinatura para eliminar os anúncios, mas você pode continuar a aprender de graça. O segredo para ter uma boa aceitação da publicidade foi colocá-la ao final de cada lição. Só com a publicidade, conseguimos mais de 10 milhões de dólares por ano.
Sobre o preço de assinatura, primeiro testamos os preços nos Estados Unidos. Inicialmente, apenas convertemos o preço de 10 dólares. Depois, fizemos testes com preços mais baixos, porque o Brasil tem poder de compra menor. O fato curioso é que isso foi pior.
Nossa conclusão é de que a maioria das pessoas no Brasil não paga por aplicativos, e vamos ganhar dinheiro com elas por meio dos anúncios. Para pessoas que pagam e tem relativamente mais dinheiro, a diferença de preço não faz diferença. Mas também acho que há o fato de que você pode ter acesso a tudo, menos às aulas off-line, sem precisar de uma assinatura.
(Entrevista à revista Exame, em 2 de fevereiro de 2019)
Quando começamos com o aplicativo, percebemos que as teorias de ensino de línguas se contradiziam, existiam milhares e nenhuma era apoiada por dados. Mas, ao trabalhar em escala, com milhões de usuários tivemos vantagem para descobrir quais métodos funcionam para cada grupo de pessoas. Por exemplo, nós podemos olhar para os nossos números e ver que vários usuários têm tido dificuldade para aprender como os adjetivos de uma língua funcionam. Então testamos novos formatos de ensinar e adaptamos para essas pessoas com dificuldade. Os dados nos mostram o que funciona melhor e o que não funciona. Não é um tipo de sistema que você consegue criar com salas de até 50 pessoas.
(Entrevista dada ao site da Forbes em 28 de maio de 2014)
Um outro exemplo, se a gente quer saber se deve ensinar plurais antes de adjetivos, nós aplicamos um teste A/B com 50 mil usuários e medimos para entender como eles aprendem melhor. Em alguns dias, conseguimos achar uma forma mais eficiente de atingir e ensinar essas pessoas.
A gente também cruza as bases com demografia e localização geográfica. Conseguimos observar quais são as línguas mais populares e descobrir alguns detalhes, como o fato de, por alguma razão, mulheres italianas aprendem inglês mais rápido do que os italianos.
(The Guardian, em 27 de agosto de 2014)
O que mais me interessa, hoje em dia, é exatamente esse tema. Muitas pessoas pensam que a educação cria igualdade, mas creio que o que acontece hoje em dia é o contrário, porque não são todos que têm acesso à educação com o mesmo tipo de qualidade. A IA poderá mudar esse jogo pois ela pode tornar a educação equalitária, ou seja, com a mesma qualidade para todos. No futuro, creio que a IA irá replicar a qualidade de um tutor humano, o que dará chance de todo mundo ter acesso ao melhor tipo de ensino.
(Entrevista à revista Dinero, a 17 de julho de 2018)
Os computadores estão ficando mais inteligentes, e, acredito que, em algum momento, eles serão tão inteligentes quanto os humanos. É bem claro que isso vai acontecer, só que é impossível dizer quando. Não sei quando irá acontecer. Provavelmente não nos próximos cinco anos, mas estamos num momento interessante para esse segmento.