Ghost Interview

Elon Musk no Ghost 100!

Elon Musk fala tudo que o inspirou em um único lugar.

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Ele chegou às estrelas em 2020, bateu recordes, abordou assuntos polêmicos e ainda chegou no final do ano prestigiado pelo mercado. Isso tudo em um formato único, diferente de outros players do mercado, de forma alegre, divertida e com novos conhecimentos e ensinamentos para quem o acompanha. Estamos falando, lógico, do Ghost Interview! Nosso formato de newsletter que, hoje, chega a incrível marca de 100 entrevistados! Brincadeiras à parte, o escolhido para a Ghost de hoje viu o valor da sua empresa quintuplicar em 2020 – de US$ 100 bilhões para US$ 500 bilhões – e lançou dois astronautas ao espaço com a sua outra companhia, tinha que ser ele: Elon Musk.

Aqui, queremos deixar a vida pessoal e as opiniões (muitas vezes polêmicas) de Musk de lado e focar no seu lado empreendedor e futurista. Afinal, se você tivesse apenas dez perguntas para fazer para Musk, quais seriam? Estas são as nossas:


Elon, você começou no mundo do empreendedorismo com a Zip2, startup que criou com seu irmão em 95, e que foi vendida para a Compaq. Logo depois, veio a x.com, que se tornou a PayPal. O que eram essas empresas e como uma se tornou a outra?

Em 95, não era muito claro o que a internet se tornaria, nem que ela teria um apelo comercial. Eu e meu irmão criamos a Zip2 apostando no crescimento da internet para empresas de mídia, pensamos que as empresas teriam uma grande necessidade em converter o conteúdo de mídia para eletrônico. E era um setor que tinha dinheiro. Portanto, se pudéssemos encontrar uma maneira de ajudá-los a enraizar sua mídia na internet, essa seria uma forma óbvia de gerar receita. Não havia receita de publicidade na internet na época. Essa foi realmente a base do Zip2. Acabamos focando em um software para a indústria de mídia; principalmente, a indústria de mídia impressa. Portanto, tínhamos esses investidores e clientes; Hearst Corporation, Knight Ridder, a maioria das principais editoras impressas dos Estados Unidos. Tivemos a oportunidade de vender para a Compaq no início de 99, por um pouco mais de US$ 300 milhões em dinheiro.

Logo depois da venda, eu tirei um tempo de folga. Mas, no começo de 99, eu queria continuar empreendendo na internet. O setor financeiro era um que ainda estava fora da internet, e, se você pensar bem, o dinheiro é apenas uma entrada no banco de dados. A forma de papel do dinheiro é realmente apenas uma pequena porcentagem de todo o dinheiro que está lá fora. A internet daria um empurrão para o dinheiro. Com isso, pensamos em combinar todas as necessidades de serviços financeiros em um site. Foi um problema complexo. Em seguida, tivemos um pequeno recurso que nos levou cerca de um dia para fazer: tratava-se de uma ferramenta que enviava dinheiro por e-mail de um cliente para outro. Você poderia digitar um endereço de e-mail ou, na verdade, qualquer identificador único e transferir fundos ou ações, fundos mútuos ou qualquer outra coisa de um titular de conta para outro. E se você tentasse transferir dinheiro para alguém que não tinha uma conta no sistema, ele encaminharia um e-mail para essa pessoa dizendo, ei, por que você não se inscreve e abre uma conta? Foi um recurso muito popular e, apesar de não ter sido o mais trabalhoso que fizemos, focamos nele. Portanto, concentramos os negócios da empresa em pagamentos por e-mail. No início do jogo, nossa empresa se chamava X.com. Havia outra empresa chamada Confinity, que também começou em uma área diferente. Eles começaram com a criptografia Palm Pilot e tinham como aplicativo de demonstração a capacidade de enviar pagamentos simbólicos de um Palm Pilot para outro pela porta infravermelha. Então, eles tinham um site chamado Paypal, onde você reconciliava os pagamentos transferidos. E o que eles descobriram foi que a parte do site era na verdade muito mais interessante para as pessoas do que a criptografia do Palm Pilot. Então, eles começaram a inclinar seus negócios nessa direção. No início de 2000, a X.com adquiriu a Confinity e, cerca de um ano depois, a Paypal começou no início de 2000.

E assim foi a evolução da empresa. Mas a Paypal foi um exemplo perfeito de marketing viral via e-mail. Onde o usuário acabava virando como um vendedor, já que, para finalizar a transação com o outro, deveria convidar o outro para participar. Tivemos um crescimento exponencial por causa disso. Foi como uma bactéria numa Placa de Petri. Eu fiquei à frente da Paypal nos seus primeiros dois anos, quando chegamos à marca dos milhões de consumidores. E não tínhamos um VP de vendas. Nem de Marketing.

Em pouco tempo, a PayPal abriu capital, foi razoavelmente bem. E, em junho de 2002, o eBay entrou em contato e, em julho, compraram a PayPal por mais de US$ 3 bilhões. Coincidiu com a minha saída da empresa, eu acabei utilizando o dinheiro para investir em um assunto que já estava pesquisando há um tempo: a indústria aeroespacial.(Apresentação na Universidade de Stanford em 8 de outubro de 2003)

Sabemos que saiu da Paypal em 2002 e logo fundou a Space X. A Tesla veio em 2004, depois de um investimento que você fez na empresa. Até então você era um cara de software, o que te fez ir para esse lado do hardware?

Na PayPal, foi importante ver que o pagamento por e-mail fazia sucesso e que valia a pena seguir por ele. Portanto, é importante procurar coisas assim e focar nelas ao vê-las e acertar suas suposições anteriores. E então saindo do PayPal, pensei que queria fazer algo diferente, pensando nas pessoas também. Me perguntei: quais são alguns dos outros problemas que provavelmente afetarão o futuro da humanidade?

Realmente não foi da perspectiva de qual é, na ordem, a melhor maneira de ganhar dinheiro. Mas foi realmente o que eu acho que mais afetará o futuro da humanidade. Acredito que o maior problema terrestre que temos é a energia sustentável, a produção e o consumo de energia de forma sustentável. Se não resolvermos isso, o século em que estamos estará em sérios problemas. O outro problema que pensei está no campo da extensão da vida que temos aqui – como torná-la multiplanetária.

Então. O último é a base para a SpaceX e o primeiro é a base para a Tesla. E quando comecei o Space X, na verdade, inicialmente pensei que, bem, não há como alguém abrir uma empresa de foguetes. Eu não era tão louco. Eu pensei, bem, qual é a maneira de aumentar o orçamento da NASA?

Esse era realmente meu objetivo inicial. (Entrevista ao podcast Moonshots, episódio 81, publicado em 28 de maio de 2020)

A intenção fundamental da Tesla era acelerar o advento de energia sustentável. Por isso eu deixei as patentes abertas, é o único jeito de fazer a transição para a energia limpa. A mudança climática é uma das maiores ameaças que a humanidade vai encarar, só perde para a Inteligência Artificial. (Entrevista à revista Rolling Stone em 15 de novembro de 2017)

Sobre a SpaceX, especificamente, não é especialmente uma ideia lucrativa criar uma empresa de foguetes, alguns diriam que é meio maluca, não é?

As pessoas não são nada tímidas em falar isso, mas eu concordo, porque é uma ideia maluca. Maluca, se o objetivo era atingir o melhor retorno ajustado ao risco. Mas não é esse o meu objetivo. Eu logo cheguei à conclusão que se nada acontecesse para melhorar a tecnologia de foguetes, nós ficaríamos na Terra para sempre. As grandes empresas aeroespaciais não têm interesse em fazer a inovação radical. Tudo o que eles querem é tentar melhorar, de maneira leve, a tecnologia todo ano. Mas, de fato, o que aconteceu é que essa tecnologia piorou com os anos.

Particularmente, [a tecnologia de] foguetes está bem ruim. Em 69, a gente conseguia ir até a lua com a Saturn V. Não fazemos mais isso, zerou. A tecnologia não melhora automaticamente ano a ano, precisa que pessoas trabalhem como loucas para fazê-la melhorar. Se as pessoas não trabalham nela, a qualidade da tecnologia tende a declinar.

Existem muitos exemplos na história que nos provam que a entropia não está a nosso favor.

(…)

Mas devo dizer que, quando comecei a SpaceX, eu pensei que as probabilidades de ter sucesso com a empresa eram menores que 10% e eu aceitei que, provavelmente, eu perderia todo meu investimento. Mas, se eu fizesse algum progresso, se conseguisse puxar algo para frente, uma outra empresa poderia nos comprar e seguir investindo nas descobertas que teríamos feito, o que seria bom.

(Entrevista no canal do YouTube da Y Combinator em 15 de setembro de 2016)

Se a sua expectativa era que a empresa tinha alta probabilidade de não dar certo, qual é a sua visão sobre falhar no campo da inovação?

Existe uma noção boba de que falhar não é uma opção na NASA. Mas falhar é uma opção lá e aqui. Se as coisas não estão falhando, significa que você não está inovando o bastante.

A taxa de erro de um primeiro lançamento [de foguetes] é geralmente alta e estamos dispostos a fazer pelo menos três deles antes de desistir. (Entrevista à Fast Company em 1 de fevereiro de 2005)

Saindo da Space e aterrisando para a Tesla. Enquanto a SpaceX pode ser algo meio “maluco”, a Tesla é um negócio mais sólido – e até lucrativo (principalmente em 2020). Queremos saber, qual a ideia por trás dos carros da empresa?

O princípio básico é que o carro é um computador com rodas. Se você tivesse um laptop com rodinhas, você gostaria de ter uma tela grande, uma interface touch e você também gostaria de ter a capacidade de fazer updates no software. Isso te dá muita liberdade para continuar melhorando o carro com o software. As features “over the air” foram bem aceitas pelos consumidores porque eles já estavam acostumados a fazer updates. Os PCs fazem isso com software há 30 anos ou mais. Então, se estamos fazendo um computador em rodas, ele deve se conectar à internet, ele deve poder ter updates, e precisa ter a capacidade computacional de um laptop.

E é algo óbvio que o carro consiga melhorar com o tempo. Parece loucura não querer um carro que esteja conectado e que consiga ter upgrades de software. (Entrevista ao site Motortrend em 16 de julho de 2019)

Os modelos da Tesla são conhecidos pelas features de auto-pilot que estão chegando bem perto da autonomia completa. Quais são os maiores desafios para os veículos autônomos? Alguns apostam que o governo terá que fazer alterações nas estradas para poder apoiar os carros autônomos, o que acha sobre isso?

O desafio principal é melhorar a rede neural para poder reconhecer todos os tipos de objetos em todas as oito câmeras que tem no carro [da Tesla].

Estamos rodando essencialmente oito redes neurais de complexidades diferentes. Precisamos integrá-las com os sistemas de planejamento de caminho e os de navegação do carro.

E os detalhes dos problemas que são desafiadores. As estradas são bem bagunçadas, então, por exemplo, o carro pode passar por marcas de pneu no asfalto, que podem parecer uma linha. As linhas podem estar pintadas erradas. Um ponto que tem sido difícil para os sistemas entenderem são as bifurcações nas estradas, porque o carro precisa saber em que lado ficar.

O carro precisa dirigir melhor do que um motorista humano usando as mesmas informações de um motorista humano. Os olhos são basicamente apenas câmeras. Todas as criaturas da Terra navegam com câmeras. Uma águia-pescadora pode ver um peixe de longe e levar em consideração o índice de refração da água, mergulhar e pegar os peixes de longe. Não há dúvida de que as câmeras e redes neurais de reconhecimento de imagem podem ser sobre-humanos ao dirigir apenas com câmeras.

(…)

Não acho que a solução virá dos governos. Poderia ter algo especializado, mas seria de uma cidade só. Seria muito específico, mas não ajuda a fazer com que os carros autônomos funcionem pelo mundo todo.

Acredito que os Governos precisam ser convencidos que os carros autônomos são seguros e que eles, estatisticamente, são melhores do que os humanos dirigindo.Se a probabilidade de acidentes com um “robô” dirigindo for metade da de um humano, acredito que os reguladores apoiarão os carros autônomos. Mas precisa ter uma base estatística grande e pegar quase todos os casos.

(Entrevista ao podcast Recode Decode em 5 de novembro de 2018)

Elon, você fala que quer morrer em Marte! Neste ano, a SpaceX foi a primeira empresa privada a lançar dois astronautas ao espaço em conjunto com a NASA. Para a gente, Marte ainda parece bem longe. Então, diz aí, quando você projeta chegar em Marte?

Nosso alvo é o ano de 2024. Eu não sei se eu irei ou não. Pode ser apenas uma missão sem humanos, sabe? Eu não tenho total certeza se terão pessoas a bordo. Mas há uma oportunidade de encontro com Marte, porque você só pode fazer um lançamento para Marte aproximadamente a cada dois anos. Então, por volta do período de 2024, há uma oportunidade de encontro para Marte, que espero que possamos alcançar.(Entrevista ao podcast Recode Decode em 5 de novembro de 2018)

Há uma em 2022…

Eu acredito que há altas chances de ter, pelo menos, uma missão sem humanos para Marte [em 22]. Iremos tentar. (Entrevista ao podcast Recode Decode em 5 de novembro de 2018)

Lá em cima, você comentou que a Inteligência Artificial é uma das maiores ameaças para a humanidade. Por quê? Com o que devemos nos preocupar?

Ninguém esperava pela Inquisição Espanhola [referência a esse sketch do Monty Python]. Na minha avaliação, as pessoas muito inteligentes estão deixando o problema da AI de lado porque elas não acham que um computador pode ser tão inteligente quanto elas. E isso é arrogância e, obviamente, falso.

Trabalhando com a IA diretamente na Tesla, posso dizer com confiança que estamos indo para uma situação em que a IA é muito mais inteligente que humanos e acredito que isso irá acontecer em menos de cinco anos. Não acho que tudo será um inferno em cinco anos. Mas as coisas começaram a ficar instáveis e estranhas.

Eu me preocupo com o DeepMind [laboratório do Google]. A natureza da IA que eles estão criando é uma que ganha dos humanos em todos os jogos e em todos os espaços. (Entrevista ao New York Times publicada em 25 de julho de 2020)

Entre Facebook, Google e Amazon e, possivelmente, a Apple – mas eles parecem se preocupar com a privacidade – há mais informações sobre você do que você consegue se lembrar. Há muito risco na concentração de poder. Então, se AGI [inteligência artificial geral] representa um nível extremo de poder, isso deveria ser controlado por algumas pessoas no Google sem supervisão? (Entrevista à revista Rolling Stone em 15 de novembro de 2017 )

Aqui entra a Neuralink, uma das suas empresas que está testando implantes cerebrais para estimular o cérebro por meio do computador. No momento, a Neuralink está testando os implantes para a melhora de doenças motoras, existe um plano de futuro para que ela seja uma plataforma diferente?

Eu acho que [a Neuralink] oferece uma forma de se ter uma simbiose com a Inteligência Artificial.

Eu acredito que é um dos caminhos que estamos seguindo. A IA está ficando cada vez melhor. Num cenário benigno, nós ficamos um pouco para trás. Não conseguimos competir, somos muito lentos.

Como embarcar na onda? Se unindo a eles. Nós já somos um pouco ciborgues em um certo grau, certo? Porque temos o nosso smartphone, ou laptop. Hoje em dia, se você esquece o seu telefone, parece que está faltando uma parte do corpo. A nossa taxa de transmissão de dados é lenta. Usamos nossos polegares, qual é essa taxa de transmissão de dados? Sendo otimista, 100 bits por segundo. E estou sendo generoso.

O computador pode comunicar a uns 100 terabytes por segundo. Então [com a simbiose] podemos resolver essa diferença de taxa de transmissão, tanto na entrada, quanto na saída das informações das pessoas. (Entrevista ao podcast Joe Rogan Experience em 7 de maio de 2020)

Por último, o que chama atenção sobre os produtos da Tesla, da SpaceX e de outras das suas empresas, como a Hyperloop, é o quanto eles não usam nada que já existe como base. Um exemplo é o Cybertruck, o caminhão elétrico da Tesla. Eles são criados a partir de leis da física e do que pode ser feito com elas. Qual o seu método para criação de produtos?

Nada mais do que o método científico, é assim que encontro formas de resolver problemas ou começar um negócio. E funciona assim:

  1. Faça uma pergunta
  2. Reúna o maior número de evidências o quanto possível sobre essa pergunta.
  3. Desenvolva premissas baseadas nestas evidências e tente atribuir a probabilidade de verdade para cada uma.
  4. Chegue a uma conclusão com base na irrefutabilidade para determinar. Estas premissas estão corretas? Elas são relevantes? Elas fazem o que necessariamente a essa conclusão e com que probabilidade?
  5. Tente refutar a conclusão. Procure a refutação de outras pessoas para ajudar a quebrar sua conclusão.
  6. Se ninguém pode invalidar sua conclusão, então provavelmente você está certo, mas não está 100% certo.

Esse é o método científico. É muito útil para descobrir as coisas complicadas.(Entrevista à revista Rolling Stone em 15 de novembro de 2017 )

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