Se você é empreendedor, diretor, analista ou estagiário de um negócio que ganhou escala (ou quer ganhar escala) não será uma surpresa dizer para você que os dados são o novo petróleo. Inclusive, é capaz de você já ter escutado tanto essa frase que ela parou de fazer sentido. Por isso, a gente quer fazer essa pergunta: se os dados são o novo petróleo, e você precisa de gasolina, será que você precisa ter os barris com você, ou, pior, você precisa ter todas as sondas de perfuração? Em outras palavras: uma empresa precisa captar todos os dados para ser data driven?
Marie Kondo, só que do Big Data
Esta discussão está longe de ser nova no mercado, tanto que, como boa tendência do mercado de tecnologia, já tem nome e acrônimo: data minimization ou YAGNI O primeiro é um termo usado já há algum tempo, inclusive em leis de proteção de dados, para falar sobre como as empresas podem diminuir a captação de dados não essenciais para seus algoritmos (só este detalhe já dá uma outra newsletter, já que cientistas estão treinando seus algoritmos de machine learning para operar com o menor número de inputs possível). É o que a Apple tem feito ao apostar no edge computing, nesta semana, ao apresentar o iOS14, a empresa de Cupertino está dando espaço para os usuários não compartilharem a localização exata de seus devices com aplicativos – diminuindo, assim, a captação desta informação para os apps que não têm a prerrogativa de usá-la. O mesmo caminho de também o que, olha só, o Google tem também ao anunciar, nesta semana, que irá deletar o histórico de localização dos usuários automaticamente depois de 18 meses. Já o tal YAGNI é a sigla de “You Aren’t Going To Need It” (no português, “você não vai precisar disso”, é que não ficaria legal VNVPD), um pensamento de que se a companhia não vai precisar da informação, ela não precisa captá-la.
First rule of the DataClub
E isso leva à primeira pergunta para uma estratégia data driven tem – e que é crucial na hora de se pensar nos pontos de captação de informação: o que faz sentido para o seu negócio? Tomar decisões data driven é core de qualquer empresa, mas capturar os dados não é exatamente atividade essencial. Ser data driven significa muito mais usar do que coletar dados. Uma coisa não tem diretamente a ver com a outra. E, nem sempre, quem tem as informações sabe, de fato, usá-las – não é a toa, já que estamos falando de aquisições, que tantas companhias grandes têm ido atrás de startups de analytics nos últimos anos.
Controle de Danos
É uma verdade (inconveniente) que serve tanto para big data, quanto para o petróleo: os vazamentos podem ter consequências catastróficas. O que significa que, depois de responder à primeira pergunta que fizemos, sua empresa precisará estar pronta para se certificar que os sistemas são capazes de conter todas as informações que capta. Nas últimas semanas, as notícias não foram favoráveis neste sentido. Tivemos grandes empresas digitais sofrendo vazamento de dados, e até mesmo grandes marcas que estão migrando para o modelo D2C tendo informações de clientes expostas. É um risco que deve ser colocado em pauta, sim.
Sutileza que faz a diferença
Um dos pontos que chama atenção quando falamos de vazamento de dados é ver o quanto de informações que as empresas têm do usuário (em alguns casos, até o nome da mãe das pessoas estava na lista). E, é esse o ponto que queremos frisar: esses dados se transformaram em personalização total na ponta final? Se a resposta for “não exatamente”, talvez esteja na hora de repensar o por que dessas informações estarem sendo captadas neste momento. Uma pesquisa feita entre profissionais do Marketing norte-americano mostra que mais de 30% das companhias não analisa nem 20% dos dados de seus consumidores – seria a hora de captar mais? Ou de analisar melhor?
Minimalismo
Uma parada para a esta frase da CMO da norte-americana Bazaarvoice, Sara Spivey, em uma entrevista para a Forbes: “A saturação de dados está em todos os lugares. Nós sempre tínhamos essa crença que mais é melhor, no entanto, isso não é o caso quando falamos de dados. A expansão rápida em nossa habilidade de coletar dados não veio coordenada com a nossa habilidade em apoiar, filtrar e gerenciar estes dados. Como um exemplo, pense na primeira reclamação quando as cidades começaram a crescer: as ruas estão muito cheias. A infraestrutura não dá vazão. O segmento de Marketing está passando pelo mesmo problema. Muito dado, com pouca estrutura para gerenciar e trazer uma aplicação significativa para eles”.
Mixed Signals
De certa forma, o mercado nos leva a acreditar que “quanto mais dados melhor”. Só pensar na movimentação dos últimos meses: compra da Moovit pela Intel, da DarkSky pela Apple; da Fitbit pelo Google. Todas companhias grandes indo atrás de pontos de captação de dados com os usuários finais – em outras palavras: todo mundo querendo o dado bruto, quanto mais melhor, certo? Mais ou menos. Se você colocar uma lupa, entende que tais dados fazem sentido nas estratégias de cada uma das grandes empresas: a Moovit, por exemplo, vem para captar informações para a divisão de veículos autônomos da Intel, faz sentido na hora de fazer um carro autônomo , ter uma ponta final para captar informações de trânsito na rua. Assim como, para a Apple, faz sentido ter um aplicativo que capte informações de temperatura para adicionar aos seus apps nativos. Já o Google, que tem avançado e investido bastante em soluções de health, os dados do Fitbit são super relevantes.
At your service
No caso da Intel com a Moovit, ou até da IBM, que comprou os assets digitais da Weather Channel (por US$ 2 bilhõe , devemos lembrar), são empresas com foco B2B, certo? Que prestam diversos serviços de inteligência de dados. Vide a IBM com Watson. O ponto é que, com as aquisições, e com dados próprios, eles podem ir além de apenas fornecer as ferramentas para gerar insights com dados de Cliente que podem ter, ou não, seus próprios dados, elas podem oferecer soluções “self service”, ou data insights as a service. No mundo dos supera-apps e negócios digitais, há importância em analisar informações e ter acesso a elas de maneira visual. A saída pode estar na parceria com empresas que captam os dados e os oferecem de forma interativa, não em forma de relatórios, mas de dashboards inteligentes. Afinal, num mundo que precisa ser mover rápido, não é todo mundo que tem tempo, espaço e investimento para transformar todo petróleo em gasolina.