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Conteúdo no acostamento

Como os algoritmos estão definindo a nossa educação e cultura

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Tudo travado…

Imagina você parado naquele trânsito na estrada. Aquele sol, tudo travado, os carros andando a 5km/hora e o Waze recalculando o tempo de chegada incluindo mais 20 minutos a cada atualização. Você, no papel do bom cidadão, ali no seu lugar na faixa única, e começam a passar diversos carros pelo acostamento. Em qualquer outra situação, a falta de respeito ou civilidade dos outros não necessariamente te prejudicaria diretamente, mas nesse caso, sabendo que a estrada passa por rotatórias e pontos nos quais o acostamento termina, cada carro que passa pelo seu lado está na verdade colocando você uma posição para trás, e ajudando o Waze a recalcular mais um pouco o seu tempo de chegada. Ou seja, você não consegue parar de se achar um idiota, e que, se “todo mundo está fazendo”, na verdade “todo mundo esta te f… por tabela”. Já parou para pensar que a produção de conteúdo hoje em dia passa por algo parecido?

Trânsito de conteúdo

Estamos vivendo na era em que tem muito “conteúdo andando no acostamento”, na qual produzir conteúdos de qualidade e profundo por vezes não te levam ao destino tão rápido quanto pegar o caminho que fura a fila, e cada vez mais pessoas e empresas tendem a criar a sua Bettina, já que, ao não fazerem isso, e verem seus concorrentes fazendo, se sentem como alguém perdendo posição no trânsito enquanto o Waze, nesse caso que monitora a concorrência, segue recalculando a sua posição. 

Num resumo rápido, os algoritmos das grandes plataforma de atenção (sim, são as teóricas plataformas de “conteúdo”, mas que no final, podemos dizer que são na verdade plataformas focadas na sua atenção e não no conteúdo) buscam priorizar os conteúdos que geram maior engajamento e compartilhamento, ao mesmo tempo que aumentam a capacidade de monetização, pois no final do dia os dois objetivos são; gerar mais audiência e monetizar mais a audiência. Dito isso, chegamos ao ponto em que o conteúdo que alimenta, informa e, muitas vezes até educa, diversas pessoas foi criado com o objetivo de ser aceito e alavancado pelos algoritmos, e não pensado na sua qualidade.

O problema é tão grande que vem fazendo com que grandes empresas comecem a repensar seus algoritmos, como o próprio Linkedin que na última semana afirmou estar alterando seu algoritmo para impedir as chamadas “iscas de engajamento” na plataforma, porém nesse caso menos focado na qualidade do conteúdo, mas em outras “artimanhas” para gerar engajamento.

Web1, 2, 3 e valendo…

O assunto do momento tem sido a Web3, com sua proposta de descentralização da internet, da propriedade, dos serviços, das finanças e do conteúdo. O conteúdo em si talvez tenha sido o primeiro destes a começar a passar por um processo de descentralização, desde quando as novas plataformas gratuitas de distribuição de conteúdo surgiram permitindo que qualquer um pudesse gerar conteúdo.

Colocando de forma simples o conteúdo no contexto das “3 gerações da web”, podemos simplificar com; na Web1 o conteúdo era gerado por poucos players capazes de produzir e distribuir conteúdo, sejam eles plataforma de jornalismo ou plataformas de grandes marcas. Na Web2 esse movimento começou a migrar em direção aos usuários. Com o surgimento do CGC (Consumer Generated Content) o novo comportamento das pessoas produzirem conteúdo tentava ser abraçado pelas empresas com esforços para que os próprios consumidores, ou usuários, gerassem conteúdos sobre as marcas. O vetor de criação de conteúdo inverteu, mas o intuito continuava o mesmo, olhar para o umbigo das marcas para levar a sua mensagem para terceiros, porém, agora por meio de outros usuários. Já na Web3, com o avanço do conceito de descentralização, o conteúdo, assim como os serviços, as finanças e outros itens, tendem a ter cada vez mais “independência”. Mas será que essa independência total é possível?

OpenSea é uma das maiores plataformas do conceito de Web3, sendo o marketplace dos NFTs. Se você abrir agora a aba explore, você será direcionado para uma lista de NFT’s, que provavelmente estão ali por decisão de algum algoritmo, ou seja, num mundo descentralizado, porém com grande volume de conteúdo ou informações numa estrada afunilada, algo ou alguém está criando uma regra para definir o que você vai ver ou consumir antes.

A mesma coisa se aplica ao mercado de criptomoedas, somos influenciados constantemente por opiniões de criadores e influências que o algoritmo proporciona. Só em 2021 o crescimento no número de investidores em fundos e ETFs de criptoativos foi de 1266%, esse aumento se associa a diferentes fatores, um deles é o aumento da oferta desses produtos no mercado brasileiro. Diante disso, surgem as grandes estratégias para chamar nossa atenção “jogando o jogo” do algoritmo. A camada financeira da Web3 se baseia na transparência e descentralização, mas infelizmente, na maioria dos casos, ainda é centralizado e obscuro. 

Nem 8 nem 80

A educação tradicional foi construída baseada em um modelo que funcionava há muitos anos atrás, hoje cinco anos que passamos em uma faculdade é um tempo muito longo se comparado a grandes avanços tecnológicos, de consumo e de práticas. A educação que vem de um extremo tradicional está sendo fortemente impactada pelo conteúdo noticioso, por pílulas de conteúdos altamente influenciadas pelo algoritmo cheio de promessas e promessas que moldam a forma como nossa sociedade vem encarando a educação. Em meio a estes extremos, surgem soluções e aplicações interessantes na forma como podemos evoluir a educação. Nesta semana inclusive, está acontecendo o evento Bett Brasil 2022 onde há diversas empresas, projetos e instituições que vem criando soluções frente aos extremos fracos da educação. A Microsoft vem construindo diversas soluções educacionais, além de apresentar algumas soluções na Bett Brasil 2022, ela vem fazendo um trabalho bem interessante com a FIA online através da educação empreendedora com tecnologias de metaverso. Outra instituição que vem adotando soluções interessantes unindo a profundidade com tecnologias e praticidade é a Khan Academy

Fake News vs Dumb News

Existe um movimento nas redes socais que retrata bem os “conteúdos de acostamento” que estamos falando por aqui. E não é de Fake News que estamos falando… Se você entra no TikTok, por exemplo, e passar algum tempo na plataforma, poderá visualizar vídeos extremamente criativos, rápidos, práticos e puro entretenimento, contudo, abre também espaço para as chamadas “Dumb News”, criadores e vídeos expondo situações, notícias e informações com alta audiência e com pouca profundidade, entendimento e informações do assunto. São vários os casos de informações pela metade, opiniões sem dados, profundidade e contextos. Por um lado, temos os conteúdos extremamente rasos mas que possuem uma audiência gigantesca, enquanto aquele com profundidade, informações corretas e curadoria, se perdem no “flop” (fracasso de visualizações). Este movimento percorre todas as redes sociais e as “Dumb News” já tornaram pessoas extremamente famosas e bem-sucedidas financeiramente. O que nos questiona sobre como estamos mudando também a percepção sobre sucesso e trabalho das novas gerações, afinal, um dia argumentamos que a faculdade seria fundamental para a construção de uma carreira e uma vida bem-sucedida, ou que é através do trabalho duro, do tempo e consistência que vem os resultados. De repente, os cursos rápidos, as promessas de resultados sem esforço e os conteúdos mais valorizados pelos algoritmos se tornaram os mais relevantes. 

Marcas = autoridade e curadoria

Alguns anos atrás, na indústria da fonográfica, para você escutar uma música, você tinha que comprar o CD completo, hoje  com o streaming , e sua experiência descentralizada, você tem a liberdade de ouvir música por música. Com o acesso a milhões de álbuns e músicas na palma da sua mão, há também a dificuldade da curadoria para tantas oportunidades de escolha. Fazendo uma relação com as marcas, poderíamos facilmente escolher uma playlist de uma marca que é reconhecida pelo seu posicionamento ou cultura, como uma playlist de Rock da Harley-Davidson ou de carnaval e axé da Ambev, ou de canções para crianças da Disney. Para o universo de conteúdos, redes sociais e da própria descentralização, as marcas podem utilizar sua autoridade para se tornar grandes curadoras de informações, educação, entretenimento ou qualquer outro aspecto que seja relevante para suas audiências. Em meio ao trânsito que enfrentamos e os conteúdos de acostamento surgindo, pode-se surgir formas de organizar melhor este fluxo, mas para isso, sua marca já está se posicionando como autoridade?

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