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Community First, Product later

As comunidades que criam produtos, serviços e startups

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O caminho inverso 

Imagine que você está construindo um novo negócio ou quer lançar um novo produto no mercado. O primeiro passo seria começar a desenhar o MVP para ser testado e validado… Para esse MVP, você provavelmente terá que iniciar um trabalho de exploring, não apenas para mapear as “dores” e oportunidades de mercado, mas também para saber como levar o seu novo produto para essa audiência potencial. Mas qual o melhor caminho? Como saber o que o mercado realmente precisa? Como saber quanto ele pagaria por isso? Como saber a melhor forma de distribuir esse novo produto? Estas são algumas perguntas que surgem ao longo da jornada de desenvolvimento de um produto ou construção de um negócio. E justamente para tentar resolver essa necessidade, uma das estratégias que vem chamando a atenção de muitas empresas e, do próprio ecossistema, é a chamada “Community First, Product Later“. Apesar de não ser um conceito muito bem definido pelo mercado, a estratégia se trata de inicialmente você construir uma comunidade com o objetivo de aprender e entender as demandas dela, para daí sim desenvolver um produto de acordo com as dores e desejos ali apresentados ou identificados. Basicamente, é o caminho inverso. Ao invés de criar o produto fazendo validações durante o processo, o novo modelo propõe inicialmente construir uma comunidade, com o público de seu interesse e construir o produto só após o aprendizado com aquela comunidade.

Chega junto aê!

Mas se você pensa que construir uma comunidade se trata de apenas criar um grupo no WhatsApp ou Telegram e compartilhar conteúdos e notícias por lá, não é bem isso… Na verdade, o conceito de comunidade refere-se a um grupo de pessoas que compartilham algo em comum, sejam histórias, dores, características, desejos, valores, entre outros, e que também possuem uma relação de troca. Ou seja, não é uma relação de uma única via onde o seu negócio encaminha conteúdos e a sua “comunidade” só recebe. As comunidades possuem essa característica de “via de mão dupla” onde de um lado o seu negócio pode fornecer e contribuir, e do outro as pessoas também trocam, compartilham e contribuem para aquele grupo determinado, fazendo parte da construção de algo novo.  

Nascidas no digital 

As DNVBs (Digital Native Vertical Brands) são grandes exemplos de como exploram as comunidades na construção de produtos. A Sallve é uma marca de beleza brasileira, nativa digital, que desde seu início buscou construir uma comunidade, antes mesmo de desenvolver seus próprios produtos. Baseado no conceito de co-criação, estas comunidades servem como grandes mecanismos de pesquisa, medição, troca e ideias para a construção de produtos, serviços e projetos dentro das próprias empresas. 

Assim como marcas podem nascer do digital, grandes celebridades também. Como já comentamos no último Morse Trends, são várias as personalidades e influencers digitais que ao longo dos últimos anos construíram seus próprios produtos como forma de se diferenciar no mercado e potencializar suas receitas através de novos negócios. Para eles, a comunidade é um meio fundamental para essa construção. Com uma audiência gigantesca e uma troca em real time, os influencers conseguem ter percepções práticas, rápidas e em escala sobre potenciais soluções para sua comunidade. A família Kardashian é um grande exemplo de personalidades que construíram diferentes negócios a partir do aprendizado junto com suas comunidades. A própria Anitta, como líder criativa na Beats, constantemente comenta sobre a influência de sua comunidade na construção de diferentes soluções da marca de bebidas. 

Clube, Comunidades e Jantares

Falamos neste Morse Trends, sobre meios de pagamentos, como surgiu a Diners Club, e o conceito do cartão de crédito. Tudo começou com uma demanda identificada em um grupo de amigos, que se expandiu para um grupo de pessoas, antes mesmo de se ter o produto em si. E estamos falando dos anos 50…

Aqui no Brasil existem vários outros exemplos além da Sallve que citamos acima. A Enjoei é um grande exemplo de uma empresa que nasceu de uma newsletter, que virou uma comunidade, e que só depois se transformou em um produto com uma plataforma de comércio eletrônico. A StartSe também começou com uma comunidade, no caso com grupos de empresários que se reuniam para viagens de imersões no Silicon Valley em busca de novas tendências. Com o tempo, identificando as dores e as oportunidades, a StartSe não apenas produtificou as próprias viagens como também criou uma série de produtos derivados dos aprendizados que tiverem, dando maior escala para o negócio. Outro exemplo prático, brasileiro, é o nosso 🙂 O Morse quando nasceu tinha como objetivo agrupar pessoas que queriam trocar informações, conteúdos e experiências. Não nascemos como um negócio, nem com um produto e muito menos com um modelo de receita desenhado. Viemos a mercado para aprender e contribuir, e ao longo da jornada, nas trocas que tivemos com vocês, como nossos entrevistados, com os grupos de discussão, com nossos encontros etc, fomos mapeando onde existiam oportunidades, e uma delas, que nasceu ali mesmo, com a comunidade, foi o digitaliza.ai, que nasceu após diversas interações que recebíamos de nossa comunidade perguntando sobre dicas e recomendações de soluções para digitalizar negócios. 

Propósito e Causa como forma de unir pessoas

Criar comunidades e unir pessoas com um objetivo comum, apesar de parecer simples como forma de suportar a sua estratégia de novos produtos e negócios, tem o seu próprio desafio, que é o de conseguir agrupar e engajar as pessoas. E aqui existe um grande desafio e uma grande oportunidade. O desafio é porque por vezes profissionais que possuem capacidades técnicas muito boas para construir produtos por vezes não possuem as habilidades para construir as comunidades, não à toa, algumas StartUps e empresas acabam contratando um Community Leader como forma de ajudar nessa etapa caso não tenham dentro de casa essa capacidade. A oportunidade fica por conta de quem tem essa capacidade e pode aproveitar esse potencial, seja para ajudar a criar novas comunidades, ou seja, para aportar uma comunidade já existente dentro de um negócio. Essa habilidade de construir comunidades, atrair pessoas, gerar engajamento para depois criar os produtos e serviços fica bem evidente em projetos sociais. Muitas ONGs nasceram e nascem desta forma. A Gerando Falcões, do Edu Lyra, que já falamos algumas vezes por aqui, é um grande exemplo de uma comunidade que nasceu, cresceu, e depois se desdobrou em inúmeros “produtos” e “serviços” em prol da causa. O conceito de ajudar não precisa estar apenas em ONGs, alguns pequenos grupos  nascem para ajudar pessoas ou profissionais em assuntos específicos, e com isso começam a ganhar corpo. O Amigos do Mercado, como apresentando em seu próprio site, “nasceu de um grupo de WhatsApp com o propósito de unir o mercado publicitário através de inúmeros canais, e hoje é uma comunidade que reúne mais de 41 mil publicitários” e possui alguns produtos e serviços criados a partir das necessidades ali apresentadas.

Na Web3 

No universo da web3, como já contextualizamos aqui, as comunidades são parte fundamental desta nova era da internet. O conceito da comunidade permanece, o que muda é a sua importância e papel ainda mais ativo na construção de negócios e relação de troca entre membros, profissionais e empresas. Um exemplo prático é a comunidade da Reserva X no Discord. A Reserva X é uma iniciativa de web3 da Reserva que oferece uma série de NFTs, as “Pistol Birds” (referência ao pica-pau, ícone da marca) e uma série de benefícios para os holders (detentores dos NFTs).  Entre os benefícios está o acesso a uma comunidade fechada e exclusiva do discord, nela são realizadas diversas trocas tanto entre os membros quanto da própria Reserva X e a comunidade. Naquele ambiente ocorre diversas oportunidades de aprendizados com a própria comunidade, onde a Reserva X consegue aprender junto com seus membros e entender suas principais demandas, e os próprios membros conseguem contribuir, trocar, gerar negócios e oportunidades entre si, seja no universo de web2 ou web3. 

Outro exemplo muito interessante de comunidades na web3 é a Bankless BR DAO que é considerada a primeira DAO (organização autônoma descentralizada) no Brasil. Ela é um braço da Bankless DAO, uma das principais organizações descentralizadas do mundo, produtora de conteúdo digital sobre educação cripto com a missão de atingir 1 bilhão de pessoas. Qualquer pessoa pode participar da comunidade do discord do Bankless BR DAO. O grande ponto é que além de acompanhar e possibilitar diversas trocas, é possível que os membros (já que adota um modelo descentralizado) votem e direcionem o futuro daquela comunidade. Para ter poder de voto e participar de todas as imersões exclusivas, é necessário ser um membro bankless e adquirir o NFT de governança (Já falamos por aqui os inúmeros benefícios atrelados aos NFTs, leia mais aqui). 

Na prática 

Mas não pense que construir uma comunidade é fazer um plug and play de contatos. O primeiro passo para iniciar a comunidade na verdade parte de reflexões internas do empreendedor ou negócio: Quais são meus valores e princípios? Estamos dispostos a contribuir antes de colher? Quem eu quero atrair para a minha comunidade? Como vamos atrair? Como vamos retribuir? O que estas pessoas têm em comum? Como posso uní-las e criar uma relação de troca de ambas as partes? Como será esta relação?

Após entender estas e outras questões importantes para definir como será a sua comunidade, os primeiros membros serão aquelas pessoas chaves que te permitirão abrir mais e mais portas. Assim como early adopters, os primeiros membros não só compartilham dos valores e princípios que você propôs para a comunidade, como também influenciam e advogam para mais pessoas entrarem. Independente se a sua comunidade for pequena ou grande, os early adopters serão fundamentais nesta construção. 

E o ambiente desta comunidade? Definir o local onde essa comunidade irá interagir e trocar é um ponto fundamental na construção de sua estratégia. Para definir isso, entenda bem a sua audiência e o grupo que está sendo construído. A plataforma Discord para comunidades de web3 e tecnologia pode fazer sentido, já para um segmento onde o público não está familiarizado com a ferramenta pode ser uma barreira. Redes Sociais, ferramentas internas, encontros e espaços físicos, e-mail, o próprio metaverso, dentre outros, são ambientes que você como empreendedor ou como negócio podem explorar de acordo com a sua audiência. 

Independente se o seu negócio for na web2, web3, varejo, digital ou físico, construir a sua própria comunidade te abrirá portas para desenvolver novos produtos e negócios baseados em conexões e feedbacks reais, espontâneos, numa relação de troca constante em um ambiente propício com pessoas que compartilham de interesses em comum. 

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