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Vivemos sempre eufóricos e apressados. Nos acostumamos a isso. Afinal, se estivermos sem algo em casa, pedimos um delivery que pode chegar em até 10 minutos, se precisarmos nos locomover, chamamos um carro que chega em 5 minutos, se estivermos sem inspirações ou informações para algo, podemos buscar em segundos no Google ou ChatGPT, e se essas plataformas demorarem mais do que os minutos, ou segundos, à que nos acostumamos, já começamos a ficar nervosos e ansiosos! A verdade é que, pelo crescimento acelerado da forma como consumimos e interagimos com as empresas, querendo tudo cada vez mais rápido, nós passamos a influenciar a formatação dos negócios de hoje em dia, refletindo essa pressão na concepção dos produtos, nos processos, nas metas, objetivos e resultados de empresas. Falamos sobre este tema no Morse Trends “Qual a sua fatia na Great Resignation“, no qual abordamos justamente o fato de que algumas pessoas, que de um lado estavam se demitindo por não aguentarem, ou querem, a pressão dos ecossistemas de negócios nos quais estavam envolvidos, por outro lado, enquanto consumidores, viviam colocando pressão em outros negócios, criando quase que um efeito boomerang…
Ecossistema de pressão
Atender a demanda e as vontades de clientes e usuários que foram “mal acostumados” por Big Players demanda um ganho de escala em velocidade acelerada. Com isso, Startups em estágio inicial, na busca pelo ganho de escala para buscar essa eficiência, são pressionadas pelo crescimento a qualquer custo, e os desafios de um ambiente cada vez mais competitivo exigem pressa e adaptações rápidas dos profissionais. Que “o sucesso não vem da noite para o dia” é algo que todos nós escutamos inúmeras vezes. Mas parece que poucos de nós entendemos isso de forma prática, e realmente mantemos uma sanidade mental em meio a pressa que nos envolta.
Slow and always 🙂
O mundo dos negócios, que vinha sendo forjado por validações rápidas, crescimento acelerado e lucros imediatos, vem percebendo um movimento contrário… o Slow Growth. Esse movimento, inspirado pelos princípios do Slow Living e da sustentabilidade, propõe uma abordagem mais equilibrada e consciente para o desenvolvimento de empresas e startups, principalmente as que estão em fase inicial. Muitos de nós, em nossa busca pelo reconhecimento e pelo progresso, tendemos a comparar o sucesso e crescimento com uma corrida de 100 metros rasos – intensa, frenética e repleta de ansiedade. No entanto, o movimento Slow Growth aborda uma visão muito mais voltada à uma maratona, pensando no longo prazo, e enfatizando que um processo lento pode, paradoxalmente, ser a estratégia mais eficaz para prosperar em um mundo empresarial em constante mudança e desafios imprevisíveis.
Valorizar o aprendizado da jornada
O que o movimento enfatiza é priorizar a qualidade, o longo prazo e o aprendizado durante a jornada. O Slow Growth dá tempo suficiente para construir as ações, estrutura e estratégias necessárias para atingir os objetivos do negócio. Desde uma validação de mercado e produto muito bem feita, até a própria operação, afinal, surgem inúmeros desafios nos quais é preciso adaptação, aprendizado e mudança, e a metodologia considera justamente isso. Fazer as coisas com calma e atenção, principalmente na fase inicial de um negócio, pode ser a diferença entre acertar ou não um caminho. Sabe aquele dia que você sai de casa, já achando que está atrasado, e sai dirigindo antes mesmo de ligar o Waze e definir a rota? E depois percebe que andou alguns quarteirões desnecessários por simplesmente estar com pressa e não esperar a rota ser traçada? No mundo dos negócios isso acontece, e muito. Saber o momento de pausar, ou encerrar alguma atividade, sem entender que isso é um fracasso mas sim uma decisão sábia dentro de uma planejamento e execução bem estruturada é um ponto importante na jornada. Já falamos sobre isso no Morse Trends “Encerrar não é desistir“, no qual fizemos a provocação dos OQRs, “Objectives and Quit Results”.
Foco na qualidade
O Slow Growth é uma metodologia que incentiva a priorização da qualidade ao invés da quantidade ou velocidade. Isso significa que, em vez de lançar uma série de produtos ou serviços rapidamente, a startup pode se concentrar em criar algo excepcional. Falamos sobre isso neste outro Morse Trends sobre o conceito de MAP – Minimum Awesome Product versus os MVP – Minimum Viable Product. A diferença é que, na provocação do primeiro modelo, a ideia seria buscar um produto mínimo de lançamento que fosse realmente incrível (awesome), mesmo que isso demandasse mais tempo, enquanto no modelo “tradicional” de MVP, a idéia é buscar o mínimo necessário para ser lançado o mais rápido possível.
Parece óbvio, mas vale sempre considerar que um produto ou serviço de alta qualidade pode conquistar uma base de clientes leais e fornecer uma estrutura sólida para o crescimento futuro. Em vez de buscar um crescimento explosivo a qualquer custo, e prazos acelerados, as startups podem dedicar mais tempo à pesquisa de mercado e organização de ideias. Tanto que, hoje em dia, ferramentas de gestão de ideias, como o Miro por exemplo, vem ganhando cada vez mais espaço. Além disso, testes de produto e ajustes contínuos sobre cada etapa, com base no feedback dos clientes que pode ser feito facilmente com diversas ferramentas online de NPS, fazem toda a diferença. Isso leva a um entendimento mais profundo do mercado e permite que a empresa refine sua oferta de maneira mais precisa, para um crescimento mais sustentável e lucrativo no futuro. Vale ressaltar que o mercado nos mostrou muitos exemplos de que o crescimento acelerado a qualquer custo pode resultar em grandes perdas, por vezes de negócios e empresas que tinham tudo para vencer uma maratona, mas tropeçaram tentando correr mais do que deveria na largada.
Menos pressão, mais foco e clareza
É claro que o crescimento é importante. Mas isso não significa que ele deve ser a qualquer custo, e ele pode ser muito melhor elaborado e estruturado nas organizações e na nossa vida. De maneira prática, é como melhorar 1% a cada dia. Você define o seu objetivo lá na frente, mas entende as melhorias contínuas e diárias que deve realizar. Pequenos passos, porém importantes, e quando acumulados gerarão grandes resultados. É aquela famosa lógica da academia e emagrecimento. É mais sustentável você melhorar 1% a cada dia na sua alimentação e treino, do que entrar em uma dieta radical e restritiva que não no longo prazo. Com uma visão clara do objetivo, e dos pequenos passos nessa jornada, a pressão diminui, e é possível ter mais foco e clareza na maratona que você, sua startup ou empresa está inserida.
Slow Growth como pilar de cultura e estratégia de marketing
Provavelmente, ao longo deste texto, você deve ter pensado inúmeras vezes; “não tenho como desacelerar”, pois ficarei para trás da concorrência, ou “não tenho como ir mais devagar” pois meus clientes me demandam agilidade… O ponto importante aqui é que, realmente, simplesmente passar a fazer as coisas mais devagar, aumentando prazos de entregas sem ter isso aplicado de forma estruturada, não vai te levar à lugar nenhum. O Slow Growth deve ser implementado como uma metodologia, como pilar de cultura e valores, e até como estratégia de marketing. Sim, dizer para seus clientes que sua entrega irá demorar mais do que os concorrentes pode ser um argumento de vendas, desde que isso seja empacotado com um discurso de mais qualidade, sustentabilidade e de preocupação com a qualidade de vida dos colaboradores e da sociedade, e não apenas como um atraso.
