O que é aquilo no céu? Um pássaro? Um avião? Não! É o Twitter mais uma vez mudando de rota. Na mesma semana, a rede do pássaro azulzinho descontinuou o Periscope e tentou comprar o Clubhouse. O que isso tudo significa? A gente responde aqui:
O Twitter vai comprar o Clubhouse?
Ainda não, mas conversas estão rolando entre as partes. Nessa semana, a Bloomberg indicou que as duas empresas estavam em discussões para uma aquisição e até falou que existe um preço para o CH: US$ 4 bilhões. Aqui é um bom momento para lembrar do Spaces: feature de chats ao vivo por voz que o Twitter lançou oficialmente para todos os usuários (inclusive os de Android) no mês passado, e tem como proposta bater de frente com, justamente quem? O próprio Clubhouse.
O que vai ser do Clubhouse?
Eis a pergunta de alguns bilhões de dólares. A rede em si tem uma série de desafios de crescimento pela frente já que ainda está fechada apenas para usuários de iOS, e apenas para convidados. Isso sem contar no fato de que, bem, até o LinkedIn está para testar o seu modelo de chat ao vivo. Para o mercado, no entanto, o Clubhouse trouxe um tipo diferente de oxigenação: mostrou o poder de uma empresa novata em mudar o jogo dentro das grandes corporações, mesmo as já nascidas na era digital. Porque, mesmo se o Twitter não comprar o CH, sabemos de outra grande que fez uma aquisição para estar nesse espaço: o Spotify. Na semana passada, eles compraram a Locker Room exatamente para entrar no universo de “podcasts ao vivo”. O negócio aqui é que a existência do CH está mostrando para os Twitters e Snapchats que o poder está mais na rede de usuários do que no formato de mídia compartilhado na plataforma. E que para conseguir puxar as cordinhas dessa rede do jeito certo e em formatos novos, não é possível desenvolver tudo internamente (algumas empresas como a Disney também têm essa filosofia, vide o jeito que eles criaram o Disney+).
Mas, o Twitter já não fez algumas comprinhas nos últimos meses?
Sim, muito sim! A rede do Dorsey está diversificando seu portfólio de produtos exatamente via aquisições. Do final de dezembro até agora, o Twitter já fez o mesmo número de aquisições que fez nos anos de 2019 e 2020 combinados! Foi a Squad, startup de vídeo em tempo real, em dezembro; a Breaker, de “social-podcasting”, a Ueno e a DriverScale em janeiro; e a Revue, no comecinho de fevereiro (ou seria final de janeiro). Um bom momento para falar que, de todas, a Revue foi uma das compras mais relevantes, já que colocou Twitter na rota das newsletters e da monetização direta do conteúdo escrito.
Mas, e o Periscope?
Ah, sim. Lá nos idos de 2015, o Twitter pagou US$ 100 milhões pelo Periscope. O app, sobre o qual já falamos por aqui, foi o pioneiro no modelo de lives como conhecemos hoje em dia – permitindo o vídeo e comentários ao vivo num stream de mensagens, exatamente como todas as ferramentas que vemos hoje em dia. Nessa semana, o Periscope, no entanto, foi descontinuado. Em parte porque uma fatia considerável da sua tecnologia foi absorvida nas funcionalidades do próprio Twitter e em parte por algo meio doloroso no mundo da inovação: simplesmente o custo de manutenção estava alto demais, bem maior do que o fluxo positivo trazido pelos usuários. Sim, às vezes as empresas precisam fazer esses sacrifícios – até mesmo as grandes de tecnologia. O que nos lembra do Vine…
Ah, saudades do Vine! Ele também foi do Twitter?
Sim! E talvez seja um tanto quanto significativo o fato do aplicativo de microvídeos também ter sido descontinuado um pouco do surgimento do TikTok. Aqui teve um timing meio “fora do passo” (sim, às vezes as empresas precisam de timing – até mesmo as grandes de tecnologia). O Vine era um app de vídeos curtíssimos (até 6 segundos!) que foi comprado por US$ 30 milhões pelo Twitter em 2012 e explodiu em 2014 – chegou a um ponto que, em agosto de 2014, 4% de todos os usuários de Android no mundo tinham usado o Vine pelo menos uma vez por semana. O que aconteceu a partir daí a gente já conhece: Instagram e Snapchat! Os dois apps passaram a também habilitar vídeos curtos, o segundo inclusive chegando ao modelo que conhecemos dos “stories” (algo “ao vivo” só que por 24 horas). Nesse meio tempo, o Twitter deixou o Vine operar sozinho, mas também absorveu um pouco das funcionalidades de vídeo do app, e ele acabou perdendo muitos criadores de conteúdo – consequentemente, a audiência se esvaziou do app. Levando o Vine a ser descontinuado em 2016. Foi também em 2016 que o TikTok foi lançado na China e no ano seguinte, ele chegou nos EUA, pegando um pouco do conceito dos vídeos curtos e de alguns formatos do Vine. O TikTok aproveitou também que já havia entre os usuários uma certa familiaridade com a criação de vídeos curtos. Lá nos EUA, muitos chamam o TikTok de “o Vine 3.0”. O que nos lembra que, quando deu aquela briga toda entre Donald Trump e TikTok, o Twitter foi um dos que se apresentaram para comprar o app de microvídeos.
É verdade que o Twitter quase foi comprado pela Disney?
Ah, nada como o passado! Sim! Aqui é a prova de que o mundo não gira, ele capota! Lá em 2016, a Disney chegou a entrar em discussões para comprar o Twitter. E, em 2016 mesmo, surgiu um boato de que o Twitter estaria interessado em se juntar com o Yahoo! Mas divagamos….
Assim, na boa, tem algo de novo em que o Twitter esteja trabalhando?
A gente jura que sim. Uma das maiores apostas do site está sendo em criar uma ferramenta para que criadores de conteúdo cobrem uma pequena assinatura da audiência. Feature essa que, inclusive, o Clubhouse lançou nesta semana para alguns usuários: a capacidade de dar uma “gorjeta” para o moderador da sala. O Payments do CH promete deixar todo o dinheiro nas mãos do criador. E, não se enganem, a ideia, pelo menos por enquanto…, é muito menos criar receita para a empresa e muito mais para manter os criadores dentro da plataforma (evitando, assim, o esvaziamento que aconteceu com o Vine, por exemplo). No final de fevereiro, o Twitter lançou o Super Follows, que permite que alguns perfis cobrem até US$ 5 de mensalidade para sua audiência em troca de conteúdo exclusivo, à lá OnlyFans… Alguns acreditam, no entanto, que o Twitter deveria migrar para um modelo de assinatura mesmo, à lá Netflix, dos usuários pagarem para estar na rede social. Ou pelo menos alguns usuários, aqueles que têm o maior número de seguidores… Para outros, a rede social deveria já ter colocado essa ferramenta no ar há muito tempo, considerando que Jack Dorsey detém uma parte da Square…
O que isso tudo significa para mim?
Parece que nada disso se liga com o seu dia a dia, principalmente se o seu cotidiano não passa pelo microblog ou por redes sociais. Mas, não se enganem: a transformação “digital” vai chegar no seu meio e, quando isso acontecer (se já não estiver acontecendo nesse momento em que estamos falando aqui), você vai precisar ter algumas visões de como tentar e de como falhar. Porque é na tentativa e no erro que a inovação acontece; e nem sempre você consegue bancar essa jornada na sua empresa. E, nenhum aprendizado é maior do que ver uma grande empresa mudando seu negócio, criando e descontinuando ferramentas, testando águas e formatos.
**O formato de hoje é uma singela homenagem ao símbolo da internet, a bacia dos curiosos, o grande lugar de todas as nossas aflições e medos: Yahoo!Respostas, que foi descontinuado e deixará muita saudade!