Ghost Interview
Não óbvio com Rohit Bhargava
Conheça o autor e estrategista de marketing conhecido por ideias inovadoras e perspicazes sobre o futuro dos negócios e da tecnologia
Rohit Bhargava é um autor, palestrante e estrategista de marketing conhecido por suas ideias inovadoras e perspicazes sobre o futuro dos negócios e da tecnologia. Bhargava é autor de vários livros de sucesso, incluindo “Non-Obvious: How to Think Different, Curate Ideas & Predict The Future”, que foi nomeado um dos melhores livros de negócios de 2015 pela Inc. Magazine, e “Likeonomics: The Unexpected Truth Behind Earning Trust, Influencing Behavior, and Inspiring Action”. Ele também escreve regularmente para publicações de prestígio, incluindo Harvard Business Review, Fast Company e Forbes. Como palestrante, Bhargava já falou em vários eventos importantes em todo o mundo, incluindo SXSW, TEDx e MarketingProfs B2B Forum. Nesta semana ele esteve presente no MMA Impact Brasil 2023. Ele é conhecido por sua capacidade de inspirar e educar públicos de todos os tamanhos com suas ideias inovadoras e perspicazes. Bhargava também é fundador da Non-Obvious Company, uma empresa de consultoria que ajuda marcas e empresas a inovar e se destacar em um mundo cada vez mais competitivo. Ele trabalhou com marcas de renome, como Intel, American Express e Coca-Cola, entre outras. Além de suas atividades profissionais, Bhargava é um ávido viajante e fotógrafo amador, e seus interesses incluem história, cultura e tecnologia. Ele é um defensor da diversidade e inclusão, e trabalha ativamente para promover esses valores em todas as suas atividades.
Você já interagiu com o chatbot? De que maneira enxerga o uso dessa ferramenta?
Sim, e acho que tem muito potencial. Uma das perguntas que as pessoas nos fazem é se usamos o ChatGPT para escrever o livro. E a resposta é não, não o usamos para escrever o livro. Mas nós o usamos de várias maneiras para melhorar o que estávamos fazendo. Por exemplo, pegamos um capítulo do livro, colocamos no ChatGPT, e pedimos que ele escrevesse uma avaliação de uma estrela desse capítulo, ou seja, um avaliação ruim, e identificasse argumentos que precisávamos melhorar.
Outro exemplo: cada uma das 30 tendências que destacamos tem um ícone que a ilustra. Para alguns capítulos, sabíamos exatamente o que o ícone deveria ser. Para outros, não conseguimos decidir. Por isso, usamos o ChatGPT para sugerir alguns possíveis conceitos de ícones. E, então, pegamos esses conceitos e os entregamos a um designer, que nos ajudou a criar o ícone. Nesse caso, usamos o GPT como um parceiro de brainstorming.
Em ambos os casos, não usamos o ChatGPT para fazer um produto finalizado. Nós o usamos como um parceiro de colaboração para criar algo que poderia nos auxiliar a chegar ao produto acabado, seja ele feito por nós mesmos ou com outros profissionais.
Você possui hábitos que facilitam a descoberta de tendências reais. Quais são?
O primeiro hábito a adotar é ser mais observador. Olhe para o mundo ao seu redor e observe o que está acontecendo. Preste atenção especial às coisas insignificantes, coisas que os outros normalmente ignorariam. Ao fazer isso, você perceberá as tendências que outras pessoas também ignorariam.
Como todo mundo sugere ser mais curioso, eu compartilho um truque específico que eu uso para ser mais curioso. Eu entra em uma livraria do aeroporto quando estou viajando e compro uma revista que não é voltada para mim. Pode ser qualquer coisa, desde uma revista sobre a compra de facas até revistas para fãs de garotas adolescentes.
E além desses dois, você menciona a importância de ser atencioso, inconstante e elegante? O que isso significa na prática?
Tire um tempo para pensar. Você tem algumas de suas melhores ideias no chuveiro porque está se permitindo tempo para pensar. Eu faço isso coletando informações ao longo do ano, colocando tudo em uma pasta e revisando no final daquele ano.
Ser inconstante ao cultivar a capacidade de ver tendências. Quando você tem uma ideia, capture-a e siga em frente. Não fique preso a uma coisa ou perderá outras importantes tendências potenciais.
E por fim adote o hábito de ser elegante. Expresse as tendências que você vê de maneiras bonitas e descritivas. Ao explicar as tendências, seja descritivo, mas memorável; seja intencional com cada palavra que usar ao falar sobre tendências.
O que inspirou e norteou o seu mais novo livro ‘The Future Normal: How We Will Live, Work and Thrive in the Next Decade’?
Uma das perguntas que nortearam o livro foi “E se o futuro der certo?”. Quando começamos a fazer a pesquisa, tentamos encontrar inovações que achávamos que já estariam acontecendo. E nos deparamos com projetos realmente interessantes, que não conhecíamos. Por que não contar as histórias dessas pessoas que estão fazendo coisas incríveis? Esperamos que elas obtenham mais apoio, mais investimento e mais atenção
No livro “The Future Normal”, você e Henry abordam muitos aspectos diferentes da vida humana — das relações sociais ao modo como nos alimentamos, nos divertimos, trabalhamos e experimentamos a tecnologia. Você destacaria alguma tendência que deve ganhar relevância nesse futuro normal?
Temos 30 capítulos e todos eles focam em algum setor diferente, portanto é difícil dizer que algum grupo específico está transformando tudo, porque, na realidade, todo mundo está mudando sua própria indústria. Mas eu diria que as pesquisas em terapias psicodélicas vêm ganhando atenção. Foram um dos grandes temas do SXSW nesta última edição. Há trabalhos sendo feitos em vários laboratórios diferentes. Visitamos um em Maryland, e eles estão fazendo testes clínicos sobre como usar terapia psicodélica para ajudar no tratamento da depressão. As novas abordagens para psicodélicos são um exemplo perfeito de algo que já está por aí, de que as pessoas já ouviram falar, mas ainda não perceberam o impacto que pode ter. Por muito tempo, as pessoas tiveram medo de testar esse tipo de tecnologia. E, agora, há trabalhos incríveis para mostrar que há um potencial real por trás disso, inclusive médico.
Como você analisa a questão da diversidade hoje?
Se há uma falha na conversa mundial sobre diversidade e inclusão, é esta: focar em apenas um aspecto de nossas identidades impede a oportunidade de entender melhor a nós mesmos e aos outros fora desse rótulo. Há um conceito que discutimos com frequência no livro Beyond Diversity, conhecido como interseccionalidade.. O termo, cunhado pela advogada americana e defensora dos direitos civis Kimberlé Williams Crenshaw, refere-se à ideia de que nenhum de nós pode ser definido por um único rótulo, mas apenas por meio de uma combinação de identidades sociais. Abraçar a ideia de interseccionalidade exige que mudemos para uma lente grande angular. E se tivéssemos conferências, programas de TV ou programas de recrutamento corporativo dedicados a reunir pessoas e perspectivas que, de outra forma, nunca compartilhariam o mesmo espaço? É emocionante imaginar os tipos de perguntas e tópicos que podem surgir.
(Kirkus)
Você e Henry adotam uma abordagem otimista sobre o futuro no livro. Ao mesmo tempo, pode ser desafiador escolher essa perspectiva quando vivenciamos um cenário com vários fatores de preocupação — a crise climática, as demissões em massa e o contexto socioeconômico são alguns exemplos. Como imaginar e criar esse futuro positivo, se vivemos em um presente tão alarmante?
O que tentamos fazer no livro não foi fingir que os problemas não existem. Queremos mostrar que, mesmo com muitos desses desafios, temos escolhas. Nos perguntamos: o que poderia acontecer se as coisas realmente corressem bem? Portanto, sim, o livro é otimista. Henry e eu somos otimistas de propósito. Nós escolhemos ser assim. E, às vezes, é otimismo demais, né? Algumas pessoas vão olhar para isso e dizer que estamos loucos. Você pode encontrar muitos exemplos de como as coisas não deram certo e argumentar que não vão dar certo. Mas, por outro lado, você também pode encontrar muitos exemplos de coisas dando certo e acontecendo bem. Não estamos fingindo que tudo está bem e fechando nossos ouvidos para fatos negativos, mas estamos tentando encorajar as pessoas a fazer a escolha de acreditar que há projetos dando certo, e que podemos apoiar quem está fazendo esse trabalho.
Você mencionou um lado interessante da realidade virutal em seu livro ‘Não Óbvio’, a empatia virtual? Pode explicar para a gente?
A empatia virtual é um lado não óbvio da realidade virtual. A realidade virtual nos permite nos colocar no lugar dos outros de uma forma que nunca experimentaríamos de outra forma, como ser um refugiado sírio. A empatia e a compaixão vêm de uma compreensão da existência dessa pessoa, mesmo que essa compreensão provenha de uma experiência de realidade virtual.
Em sua palestra no SXSW você também mencionou a crise de confiança que a humanidade vive. Há uma incerteza constante sobre o que é real ou não, o que é verdade ou fake. Qual a saída para resolver esse problema?
Vai ser muito difícil, porque não sabemos o que é real e o que é falso. À medida que as ferramentas de inteligência artificial ficam cada vez melhores, isso será um problema cada vez maior. Penso que a única reação humana possível a isso é confiar no que você pode ver e no que você sabe, e nas pessoas que você conhece. Quando digo o que você vê, não quero dizer uma imagem que você vê online, quero dizer o que você pode ver fisicamente, na sua frente. As pessoas vão começar a voltar a isso, a esse movimento de sair para o mundo e acreditarem no que podem ver ou experimentar. Isso sempre foi importante, mas acredito que ficará mais importante no curto prazo.
E a longo prazo?
A longo prazo, acredito que haverá mais tecnologia que nos permitirá certificar o que é verdadeiro e o que é falso. Os próprios fabricantes de aplicativos e plataformas poderão seguir esse caminho. Os criadores do ChatGPT, por exemplo, têm desenvolvido ferramentas para ajudar as pessoas a detectarem se o chatbot foi usado para criar algo ou não. Há muitas pessoas trabalhando para tentar encontrar uma solução tecnológica para um problema que é tecnológico. Ou seja: se podemos criar essa tecnologia, devemos ser capazes de ter uma tecnologia que nos permita resolver um problema que a tecnologia criou.
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