Ghost Interview

It’s Jay-Z time!

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O Verão chegou!

Sim! O ano acabou e chegou a merecida época de relaxar um pouco. Mas como aqui acreditamos que conteúdo e conhecimento são sempre importantes, no lugar de entrar de férias, o Ghost Interview vai entrar no clima de férias.

Teremos uma versão light (e bem Morse) do Almanacão de Férias da Turma da Mônica (obrigado Maurício!), o nosso Summer Ghost. De agora até final de Janeiro teremos alguns grandes nomes do esporte, música e cinema para entender qual o papel deles no mundo da tecnologia, dados, mobile e inovação. Então passa o protetor solar, pega sua água de coco, se estica aí e se prepara a leitura.

Sr. Carter vai falar

Para estrear o formato fomos atrás do primeiro bilionário do mundo do rap – e um dos maiores empresários da nossa época (segundo Warren Buffet): Shawn Corey Carter, o Jay-Z!

A carreira de Jay Z no rap começou “tarde”, ele tinha 26 anos, já nessa época ele criou sua própria gravadora para poder lançar seu primeiro álbum. De lá para cá, Jay lançou artistas (como Rihanna!), abriu uma nova empresa de entretenimento, fez acordos com o mundo dos esportes, criou um fundo de Venture Capital e até mesmo investiu em startups de tencologia – já deu um funding Series B para o Uber em 2011 inclusive. Não conhecemos inspiração maior que essa:


MORSE: Jay, você sempre teve uma visão empreendedora, já em 1996 você criou a Rock-A-Fella, seu próprio selo musical para poder lançar seu primeiro álbum. Em 2008, você criou a Roc Nation, que não era apenas uma gravadora, mas uma agência de entretenimento “full-service”: ou seja, agência de talentos, de tours, produtora de shows, de filme, conta um pouco desse processo para a gente.

Jay-Z: O plano inicial era criar vários braços para a companhia, todos eles ligados ao entretenimento. Na Roc-A-Fella eu olhava o modelo e não entendia porque áreas parecidas não trabalhavam juntas: como a gravadora não era junto da área de publishing. Tinha o feeling que era por questão de contabilidade, mas achava que tinham que andar de mãos dadas. Na Roc Nation a gente juntou essas áreas separadas, tanto que não lançamos um artista por 3 anos, assinamos com escritores e produtores, a gente tomou conta das “máquinas” primeiro, para manter a empresa andando. Assim, ganhamos tempo para achar os artistas e lançá-los no momento correto. Num mercado que tudo acontece ao mesmo tempo, as pessoas têm a atenção curta, é importante saber como chamar essa atenção. O público está sempre preocupado com muita coisa, quando você consegue prender a atenção dele por um minuto, é melhor que seja com algo muito bom. E você precisa manter. 

Eu sou mais focado em fazer coisas incríveis, se isso toma um dia ou 10 anos, não importa para mim. O tempo é um conceito criado pelo homem, então você pode fazer o que quiser com ele. Você sempre pode tentar ser incrível, fazer coisas incríveis.

Fonte: Entrevista à BBC Radio 1 em 17 de julho em 2013

MORSE: Você começou nos anos 90, como a tecnologia mudou o negócio da música e de ser artista? Como você reagiu a isso?

Jay-Z: Por muito tempo, um álbum com hits resolvia todos os seus problemas, porque não tinha internet, Youtube e outros muitos fatores. Era apenas a música. Esse modelo de lançar artistas e ver o que funciona ainda existe. À medida que a máquina começou a se mover mais rápido, muitas coisas se perderam no processo, como o desenvolvimento do artista. 

Chegou a um ponto em que, como empresa, lançávamos centenas de álbuns todos os anos, e as porcentagens eram realmente baixas, como nos 56 álbuns que quatro artistas trabalhavam. Na Def Jam, eu queria trazer toda a cultura para ela. Eu queria um fundo para poder fazer outras coisas além de contratar artistas, como comprar uma estação de televisão ou um clube onde possamos desenvolver esses artistas, ou lançar alguns fones de ouvido, todas essas coisas diferentes. Eu não acho que naquela época eles realmente poderiam entender isso. Não é algo que eles estavam dispostos a fazer. Eu apenas senti que seria um desperdício lá. Então eu comecei minha própria coisa, Roc Nation, e é isso que fazemos. Temos praticamente tudo: publicação de música, compositores, gravação, turnês.

Fonte: Entrevista com Warren Buffet na Forbes em 23 de setembro de 2010

MORSE: Em 2015, você comprou a norueguesa Aspiro, que era dona do serviço de streaming de música Tidal. Quando e por quê você acabou indo para esse tipo de negócio? 

Jay-Z: Por volta de 2013, comecei a perceber o movimento [dos streamings] e entendi que esse muito provavelmente seria o último formato de música que nós veríamos na nossa vida. Não gostávamos da direção que a música estava indo e pensamos que ainda poderíamos participar dessa onda; o que a gente queria era que, no mínimo, as empresas repensassem os seus sistemas de serviço pago e os de graça e promover uma troca justa. Isso já seria uma vitória para a gente [músicos] de qualquer forma.

Imagine a sua vida sem música. Música é uma parte valiosa da vida das pessoas. Mas as pessoas não estavam respeitando a música ao desvalorizá-la. Por muito tempo as pessoas sentiram que a música deveria ser de graça, enquanto pagam US$ 6 por uma garrafa de água. Você pode tomar água de graça direto da torneira, e é uma boa água. E mesmo assim as pessoas topam pagar por água. 

Então começamos a conversar com cada serviço de streaming que existia, exploramos as opções, incluindo a criação de um white label. Mas, no final do dia, nós entendemos que precisaríamos dar forma para esse mercado da maneira que vemos para ter algum tipo de independência. E isso se tornou a nossa melhor proposta – não foi a mais fácil, para falar a verdade.

Então veio a Aspiro, uma pequena empresa de fora dos Estados Unidos. Tivemos que nos mover bem silenciosamente porque queríamos criar o serviço sem interferência externa. A Aspiro também conseguiu oferecer áudio de alta qualidade e vídeo. Novamente, nós estávamos falando em respeitar a música e a arte. 

Fonte: Entrevista à Billboard em 30 de março de 2015

MORSE: Ainda no mundo da música e tech: você acha que o streaming é mesmo uma forma melhor de se escutar música?

Jay-Z: Tome o rádio, por exemplo. É basicamente um modelo baseado em publicidade. Você liga as estações pop, eles estão de olho numa audiência de mulheres brancas com idade entre 18 anos e 34 anos. E eles levam esses números para as agências de publicidade; a audiência é só um número a mais para eles. Não são exatamente lugares baseados em música. Nem a playlist [das rádios] é baseada em música. Se você pensa num artista como o Bob Marley, se ele vivesse agora ele não tocaria numa estação pop. O que é louco. 

Eu acho que, com toda a tecnologia que temos hoje, temos um jeito muito mais eficiente de escutar música – e de lançar músicas. Porque é como fazer um festival de vários estilos musicais. Quando eu comecei, tinham os clubes específicos de hip-hop. Hoje todo clube pode ser de hip-hop – mas todos eles acabam tocando o mesmo tipo de música.

É lamentável, porque com a tecnologia e tudo se movimentando, nós tínhamos que fazer a melhor forma de se tocar música em todos os lugares, nas rádios, nos bares. Isso tudo poderia ser um instrumento para as artes. É melhor para a audiência que a música chegue em lugares diferentes. 

Fonte: Entrevista ao programa de rádio do Frank Ocean blonded Radio em 24 de fevereiro de 2017

MORSE: Falando em negócios e tecnologia especificamente: você investiu no Uber em 2011, numa rodada Séries B, além de ter também investido em uma série de empresas de tecnologia. Em 2014,, a Roc Nation até criou um fundo de venture capital chamado Arrive. Qual a ideia dele?

Para isso, deixarei com o head de New Ventures da Roc Nation, Neil Sirni:

Neil: O Arrive foi criado para elevar a nossa experiência e recursos [da Rock Nation] em criar marcas, desenvolver negócios voltados para os consumidores, gerenciar novos artistas e representar atletas. Nós abrimos essa nova vertical mais diversificada e global para empreendedores e seus negócios no começo. 

Fonte: Comunicado de imprensa da Arrive de 6 de março de 2017

MORSE: Por último, Jay, você foi o primeiro rapper a entrar no seleto ranking de bilionários, sabemos que sua infância e juventude foram mais próximo do pessoal do outro lado dessa ponta. Como o que você aprendeu enquanto estava em BedStuy te ajudou no mundo dos negócios?

Jay-Z: Eu aprendi tudo sobre orçamentos. Eu fui um traficante. Estar no mundo do tráfico de drogas significa que você precisa saber, exatamente, o que você pode gastar, e o que você precisa devolver – e o quanto precisa ganhar no final. 

Fonte: Entrevista à Vanity Fair em 1º de outubro de 2013

Jay-Z: Acho que muito do que aprendi nas ruas pode ser aplicado em negócios. Você precisa ter incríveis instintos na rua, é a diferença entre viver e morrer – ou ficar preso, que é pior que morrer. Além disso, nas ruas é preciso ter integridade alta, assim as pessoas topam comprar de você. Em negócios é a mesma coisa: é preciso ter honra, ser um homem de palavra. 

Fonte: Entrevista ao Lock n Biz em 1 de outubro de 2011

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