A adoção massiva do trabalho remoto por algumas empresas – bem como toda a experiência de distanciamento social – mudou completamente o hábito das pessoas no espaço de trabalho e, até mesmo, a maneira com que elas veem e usam os ambientes de casa. Os números já mostram: as pessoas estão reformando mais, trocando mais de moveis, procurando por apartamentos maiores (e em áreas mais afastadas do centro) e cozinhando mais. O que isso significa para o setor imobiliário? E para o setor de varejo? E como o Geobehavior pode ajudar nesta transição?
DIY
Dentro de casa, as pessoas acabaram percebendo mudanças para fazer na decoração e em pequenas melhoras, inclusive para conseguir abarcar o Home Office. De acordo com dados da startup de arquitetura Archademy, 85% dos escritórios nacionais do setor geraram propostas de reformas para casas e empresas. Já números do GetNinjas mostram que a procura por arquitetos subiu 112% entre março e maio deste ano. Com o anúncio da retomada gradual das atividades, inclusive, a procura por serviços de reformas e reparos aumentou. As pessoas, de fato, começaram a mudar as suas salas, quartos e varandas – aqueles que não tiveram uma ajuda profissional, procuraram fazer mudanças sozinhos. O Farol do Varejo, ferramenta de análise de dados Mobile da Hands, indicou que houve, na verdade, aumento de circulação para lojas de casa e construção, como Leroy Merlin e Telhanorte. Tal tendência também foi vista nos Estados Unidos, onde a Home Depot se viu surpresa com a aceleração de pessoas dentro de suas lojas físicas.
Moving Out
E não é só mudando o espaço, as pessoas estão, de fato, se mudando dos espaços! Dados do aplicativo QuintoAndar, que cruzam a geolocalização do app com o uso da aplicação, mostram que, durante a quarentena, a procura por apartamentos de quatro quartos aumentou 58%, já a procura por apartamentos de um quarto (que era vista como uma tendência forte, tanto que os empreendimentos com apartamentos menores, mas com áreas comuns mais estruturadas, eram uma aposta da maioria das construtoras e dos investidores do setor) caiu em 37% . Além disso, a demanda por casas aumentou em algo próximo a 10%. Outro ponto que o QuintoAndar mostrou é que houve queda na procura por moradia em bairros mais centrais como Pinheiros, Bela Vista e Moema – porém aumento de pesquisa para moradia em Campinas e Taboão da Serra. O trabalho remoto, de fato, mudou esta postura dos imóveis residenciais, mas também dos imóveis comerciais: nada melhor do que a Faria Lima para exemplificar isso, a avenida paulistana, que antes abrigava uma série de empresas de tecnologia e de investimentos, tem visto uma diminuição de circulação, já que boa parte destas empresas aumentaram a exigência de Home Office – algumas até mesmo fazendo disso algo permanente. A XP Investimentos, inclusive, anunciou que fará um HQ em São Roque, bem, bem longe da Faria Lima. A expectativa é que, em São Paulo, sejam devolvidos 73,9 mil metros quadrados em imóveis “triplo A” – prédios grandes, ocupados por empresas maiores. Até mesmo nos Estados Unidos, a Amazon informou que não irá renovar o contrato de aluguel de um dos seus principais “offices” em Seattle….
Moving in
Como fazer senso e entender todas estas informações de transformação? A resposta pode estar na análise de dados a partir de algoritmos! Pelo menos foi a saída que a startup brasileira Mapfry encontrou. O sistema desenvolvido por eles cruza dados demográficos, lançamentos imobiliários e informações sobre abertura e fechamento de estabelecimentos comerciais, para prever como cada região vai se comportar. Por aí, por exemplo, eles acharam a tendência: a de valorizar os negócios locais – o home office fez com que as pessoas prestassem mais atenção em seus bairros e nas regiões onde moram (Uma tendência confirmada por esta pesquisa feita pelo Grupo Zap, onde 68% dos usuários disse que o comércio local e uma rede de serviços próximas se tornaram mais importantes durante a quarentena). Tal tendência, diz um dos criadores da Mapfry, vai fazer com que varejistas de rede precisem se adaptar às realidades hiperlocais e também vai dar um boost nas lojas dentro de condomínios ou em espaços comerciais no térreo de edifícios. Você imagina o que este sistema poderia fazer com o boost de dados de comportamento móvel? Dados de como as pessoas vivenciam os bairros, e de quais são os espaços que elas mais visitam – e quais elas estão deixando de ir? .
Money, please!
Há uma mudança na procura por novos tipos de formas de financiar a casa. Foi com isto em mente que a Cyrela e o QuintoAndar firmaram parceria nesta semana para oferecer um tipo de maneira digital de juntar dinheiro para pagar a casa ou o aluguel. Ambos perceberam que muitos casais deixam de se mudar por falta do dinheiro inicial – seja da entrada do imóvel, seja das primeiras parcelas do aluguel (falando em recém-casados, a Mapfry apontou que existe a tendência de casamentos com pessoas morando em residências menores), daí veio a ideia de transformar o Mude.me, site de lista de compras de casamento digital, em um espaço para arrecadar dinheiro para um casal conseguir quitar estes passos iniciais da mudança. Falando em dinheiro… as construtoras, inclusive, têm investido em parcerias, mas também em criar startups próprias. É o caso da Housi, do Grupo Vitacon, que recentemente entrou com a documentação para abrir capital.
Let’s Cook
Já falamos de mudança de ambiente, de casa, mas e nos próprios hábitos caseiros? Porque, sim, as pessoas começaram a cozinhar mais no dia a dia, o que impactou diretamente os supermercados. O Farol do Varejo apontou para um aumento significativo de circulação em hipermercados das grandes cidades brasileiras – uma tendência que estava caindo, tanto que as marcas estavam apostando em lançar lojas menores – como o Pão de Açúcar Minuto ou o Carrefour Express. Nos Estados Unidos, a Kroger também percebeu uma mudança parecida, só que do perfil de compra de quem vai aos hipermercados: houve alta de 30% das vendas da rede no país durante a pandemia, com alta específica para as áreas de massas e também para o de pães – só do fermento natural, feito para fazer pão em casa, houve 600% de aumento nas vendas. As compras também estão ficando maiores, um estudo feito pela McKinsey mostrou que 19% dos americanos compravam por comida mais de três vezes por semana – ou seja, idas rápidas e compras menores – o número caiu para 10%. No Brasil, as pessoas estão gastando mais no supermercado, comprando mais itens de alimentação, é o que indicou o estudo da startup de gestão financeira, Mobilis. Para os varejistas isso significa: estoque maior, lojas um pouco mais acomodadas e uma boa gestão de logística para delivery.
Planta de Casa
Talvez o que esses últimos meses mostraram de maneira mais forte para a gente é que os hábitos são mutáveis e que eles podem, sim, impactar o negócio final – e nem sempre da maneira esperada. E se tem algo que um setor como o imobiliário ou varejista não pode ter é surpresa negativa (até mesmo as positivas precisam de preparo, veja o caso que contamos da Home Depot, que não estava com as lojas preparadas para o aumento de volume de usuários). Para ficar atento a essas alterações e flutuações, ter acesso a ferramentas como o Geobehavior ou análise de dados móveis pode ser o diferencial para o negócio, já que ele pode perceber antes as tendências e fazer as alterações em seus investimentos – ou até no seu business – de acordo.