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Digitalização ou Datalização?
Sem dúvidas, a Netflix mudou o jogo no mundo digital. Muito menos pela forma que apresentou os filmes (em streaming), e mais pela forma que usou os dados para alterar sua plataforma e, num segundo momento, balizar suas produções. E uma das maiores barreiras que ela quebrou no mercado, como nos contou Ted Sarandos no Ghost Interview de quarta-feira, foi o fato de que ela usa os dados para compreender qual a audiência potencial de uma série ou filme, o que dá à empresa a dimensão dos investimentos a fazer. Sem querer (ou seria querendo?), eles apontaram para o futuro da digitalização: a datalização.
Game changer
Mas o que é, exatamente, datalização? Basicamente, é o uso de análise de dados vindos do digital para tomar decisões estratégicas e para alterar o serviço final. Não muito diferente da história do Oakland Athletics, time de baseball que resolveu usar, lá em 2003, a análise estatística dos jogadores para poder montar o melhor time da liga (mesmo este time não tendo lá muuuita grana para investir em grandes estrelas do esporte). O que mudou o jogo, neste caso literalmente, para o Oakland, foi a mesma visão que transformou o negócio de produção audiovisual e tem potencial de alterar toda e qualquer indústria que tocar, já que é a essência da digitalização. Isso porque ser digital não é apenas questão de criar algo de maneira digital, e sim de usar o poder dos dados para criar de maneira eficiente.
Além da Aula Online
Se tem um setor que a datalização faria a diferença no momento, seria o de educação. De uma hora para outra, as escolas tiveram que levar todas as suas operações para o modelo à distância. Ou seja, a digitalização foi forçada por questões além do controle de todos. Mas isso não quis dizer, exatamente, que as aulas se transformaram em espaços com experiências digitais. Assim como outros cursos feitos à distância, as classes só migraram para um lugar virtual, com o professor falando em um vídeo e os alunos assistindo na outra ponta. Essa linguagem, depois de um tempo, acaba afastando as pessoas das aulas, como mostra essa pesquisa feita unindo números de MOOCs (Cursos Online Abertos e Massivos) de plataformas como Courseira, HarvardX e MITx. O maior problema é a retenção: apenas 12% de quem começou um curso nesses espaços continuaram-no pelo segundo ano (e, olha só, 52% de quem se registra nestes cursos, nem mesmo chega a terminar as primeiras aulas!). Quando pensamos em uma escola, isso preocupa. O que pode ser feito? Segue o Moneyball.
Netflix da Educação
Existem dois pontos que o mundo digital proporciona a um serviço, o primeiro já foi atingido pelos cursos EaD – e até os MOOCs: a escala. O segundo, mais complexo, é a personalização. Diferente da aula física, onde é uma pessoa falando para dezenas, na aula online, é uma plataforma falando para milhares. E uma plataforma pode se recriar para cada um que utiliza, a Netflix que o diga! Um exemplo: se a universidade percebe que o estudante costuma logar em certos horários, ou em certas localidades, por que não oferecer um aviso um pouco antes do horário para lembrá-lo do curso? Para um público adolescente, entender quais são os gostos do aluno, quais matérias ele engajou mais (e comparar com o gosto de outros) pode levar a escola a criar materiais mais assertivos para cada tipo de “audiência”. Ou então, porque ele está querendo aprender aquele assunto? Várias pessoas podem estudar o mesmo assunto, mas para objetivos diferentes. Como customizar o aprendizado com base na intenção de aplicabilidade de cada um?
Nota 10!
Existem formas de se usar a criação e análise de clusters para, inclusive, mudar a forma de ensinar. Um exemplo é da Dreambox Learning, que criou um software capaz de entender se crianças estão aprendendo matemática. A plataforma deles compreende, enquanto a criança faz a lição, quais são os maiores pontos de dificuldade, se ela está fazendo da maneira ensinada e, depois, ainda prevê como ficará o desenvolvimento dela nessa matéria até o final do ano – o que abre espaço para a escola agir com antecedência, oferecendo ou aulas extras para caso de dificuldade ou lições mais avançadas, para o caso de que elas estejam aprendendo rápido.
Future now
E, já que falamos em formatos, por que não usar os dados para repensar o próprio currículo educacional? Universidades, por exemplo, podem entender quais próximas aulas podem dar, não a partir dos assuntos que são “da moda”, mas a partir dos temas que os alunos precisam estudar. Assim como a Netflix tem usado as informações cruzadas de sua audiência para compreender que séries de determinadas temáticas fazem mais sentido do que outras. Daqui a dez anos a combinação de inteligência artificial e mobilidade vai mudar o cenário profissional radicalmente – tem gente falando que, até 2030, 85% dos trabalhos serão de profissões que ainda NEM EXISTEM – o que isso significa para quem está sendo formado hoje? E como as escolas podem se preparar para prever os assuntos que vão importar para quem está em formação? Será que, com mais pessoas usando o meio digital para se formar, não é possível achar essas tendências a partir do analytics de conteúdo – assim como a Netflix fez? Ou pelo menos ajudar as escolas e faculdades a dimensionar os investimentos nas áreas corretas?
E não é só isso!
Se você acha que essa conversa é só pensando na formação de crianças e adolescentes, está bem enganado. Pesquisas mostram que a geração atual da força de trabalho terá que passar por 4 mudanças de carreira, no mínimo. O que nos leva ao termo “educação contínua” – que também pede um tipo de personalização e de conveniência por parte das instituições que apenas os dados são capazes de trazer. Afinal, ser digital é existir, a datalização (seja do seu serviço, seja da sua educação) é o que fará você se diferenciar.
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