Ghost Interview

Coragem de ser vulnerável com Brené Brown

Autora de Best-Sellers, pesquisadora, professora e apresentadora

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O Ghost Interview é um formato proprietário do Morse que recria narrativas em forma de entrevista para apresentar personalidades do mundo dos negócios, tecnologia e inovação. 

Você tem coragem de ser vulnerável? E você sabe, afinal, o que é vulnerabilidade e a sua importância não só para a sua vida pessoal, profissional mas também para seu negócio e processo de inovação? 

A nossa convidada do Ghost Interview de hoje é Brené Brown, professora e pesquisadora na Universidade de Houston e autora de best-sellers como a A coragem de ser imperfeito e Mais forte do que nunca: Caia. Levante-se. Tente outra vez. Ela é também apresentadora dos podcasts Unlocking Us e Dare to Lead. Ela é mundialmente conhecida também por sua palestra TEDx de 2010 sobre vulnerabilidade. 

Segundo ela, temos que passar pela vulnerabilidade para chegar à coragem, portanto… abrace o que é ruim. Devemos ser grato todos os dias, e seu lema é “Coragem acima do conforto”.

Em relação a sua pesquisa sobre vergonha, pertencimento e vulnerabilidade, como foi o processo de entender a relação desses itens? 

Só uma variável separava as pessoas que tinham um forte sentimento de amor e pertencimento das pessoas que realmente lutavam por isso. As pessoas que tinham um forte sentimento de amor e pertencimento acreditavam que mereciam amor e pertencimento. Só isso. Elas acreditam que merecem. E para mim, a parte difícil da única coisa que nos mantém desconectados é nosso medo de não sermos merecedores de conexão.

Era algo que, pessoal e profissionalmente, eu sentia que precisava entender melhor. Então peguei todas as entrevistas e via pessoas vivendo desse jeito, e dei uma olhada apenas nessas. O que essas pessoas têm em comum? Eu tenho um pequeno vício por material de escritório, isso daria outra palestra, mas eu estava com uma caneta grossa, uma pasta de arquivo, e estava pensando: como vou chamar essa pesquisa? E a primeira palavra que me veio à mente foi coração pleno.

São pessoas de coração pleno, vivendo desse senso profundo de merecimento. Escrevi isso na parte de cima da pasta e comecei a olhar os dados. De fato, fiz isso no início de quatro dias de uma análise de dados muito intensa, na qual retomei essas entrevistas, as histórias, os incidentes. Qual era o tema? Qual era o padrão?

E o que você descobriu?

Elas tinham em comum um senso de coragem. A definição original de coragem, vem da palavra latina “cor”, que significa “coração”, e a definição original é contar a história de quem você é com todo o seu coração. 

Então essas pessoas tinham, simplesmente, a coragem de serem imperfeitas. Tinham a compaixão de serem gentis consigo mesmas e então com os outros, porque não podemos praticar compaixão por outras pessoas se não conseguimos nos tratar com gentileza. 

E como essa coragem funciona na prática?

Elas estavam dispostas a abandonar quem pensavam que deveriam ser a fim de ser quem elas realmente eram, algo que você absolutamente tem que fazer para se conectar. A outra coisa que elas tinham em comum era isto. Elas abraçavam completamente a vulnerabilidade. Elas acreditavam que o que as tornava vulneráveis as tornava lindas. Elas não falavam de vulnerabilidade como algo confortável, nem como algo doloroso, como ouvi antes na entrevista sobre vergonha. Falavam apenas que isso era necessário. Elas falavam sobre a disposição de dizer “eu te amo” primeiro. A disposição de fazer algo quando não há garantias. 

Afinal, conseguimos deixar de ter vergonha? 

Nunca podemos nos livrar da vergonha, o que podemos fazer é desenvolver resiliência à vergonha, então, quando isso acontece, ela passa por cima daquela lavagem quente que faz você se sentir pequeno e insuficiente quando isso toma conta. 

Em seu livro ‘A coragem de ser imperfeito’ você aborda a questão sobre o medo de ver vulnerável e como isso como impactar as nossas vidas. Mas como de fato adotar isso na prática?

O medo de ser vulnerável pode desencadear crueldade, crítica e desconfiança em todos nós. Assumir a responsabilidade pelo que dizemos é o modo de verificar nossas intenções. Além de andar na corda bamba, praticar a resiliência à vergonha e formar uma comunidade segura que me apoie quando eu me sentir atacada ou magoada, adotei duas estratégias adicionais. 

A primeira é simples: só aceito e levo em consideração comentários de pessoas que também estejam na arena. Se você não está ajudando, não está contribuindo nem está lutando contra seus próprios desafios, não estou nem um pouco interessada em ouvi-lo. 

A segunda estratégia é simples. Carrego uma pequena folha de papel em minha carteira com os nomes das pessoas cujas opiniões sobre mim importam. Para estar nessa lista é preciso que você me ame por minhas forças e minhas dificuldades, e seja o que chamo de “amigo-estria”: uma relação que foi expandida e estendida de tal forma que se tornou parte de quem nós somos, como uma segunda pele, e com cicatrizes para comprovar isso. Em geral, temos bem poucas pessoas que se credenciem para essa lista. 

E usar a vulnerabilidade não é a mesma coisa que ser vulnerável, certo? 

O que não percebemos é que usar a vulnerabilidade não é a mesma coisa que ser vulnerável; é o oposto – é uma armadura. Às vezes nem sequer temos consciência de que estamos nos superexpondo como estratégia de defesa. Podemos despejar nossa vulnerabilidade ou nossas histórias de vergonha no desespero para sermos ouvidos. Deixamos escapar um segredo que está causando imensa dor simplesmente porque não conseguimos segurá-lo por mais um segundo. 

A intenção pode até não ser fazer isso para nos proteger ou para repelir as pessoas, mas o resultado de nosso comportamento vai ser esse. Quer estejamos do lado de quem desabafar ou do lado de quem escuta, o amor-próprio é fundamental. 

Precisamos dar um tempo quando revelamos muita coisa rapidamente e praticar a autocompaixão quando percebemos que não somos capazes de abrir espaço para alguém que nos ofusca com holofotes. O julgamento pode exacerbar o isolamento.

O que você diria para pessoas que acreditam que ser vulnerável pode ser fraqueza? 

Acreditar que vulnerabilidade seja fraqueza é o mesmo que acreditar que qualquer sentimento seja fraqueza. Abrir mão de nossas emoções por medo de que o custo seja muito alto significa nos afastarmos da única coisa que dá sentido e significado à vida. 

Qual o maior erro das pessoas sobre vulnerabilidade? 

Vulnerabilidade tem a ver com compartilhar nossos sentimentos e nossas experiências com pessoas que conquistaram o direito de conhecê-los. Estar vulnerável e aberto passa pela reciprocidade e é uma parte integrante do processo de construção da confiança. A exposição total é uma forma de se proteger da verdadeira vulnerabilidade. Portanto, informação em excesso não é um caso de “vulnerabilidade demasiada”, mas de falência da vulnerabilidade.

E o que a vulnerabilidade tem a ver com a inovação?

O assassino secreto da inovação é a vergonha. Não conseguimos medi-la, mas ela está lá. Sempre que alguém não compartilha uma nova ideia, que deixa de passar para seus gerentes algum feedback muito necessário ou que tem medo de se expor diante de um cliente, pode ter certeza de que a vergonha está por trás disso. Aquele medo profundo que todos temos de errar, de ser depreciados e de nos sentir menos do que o outro é o que nos impede de assumir os riscos indispensáveis para fazer nossas empresas avançarem. Se você quer implantar uma cultura de criatividade e renovação, em que riscos concretos têm que ser assumidos tanto em nível coletivo quanto individual, comece por desenvolver nos gerentes a capacidade de estimular a vulnerabilidade em suas equipes.

Você lançou recentemente um novo livro chamado ‘The Atlas of The Heart: Mapping Meaningful Connection and the Language of Human Experienc’. Nos conte mais sobre essa linguagem. 

Quantos de vocês conhecem a sensação de que sua vida está se desenrolando mais rápido do que você pode gerenciar? A linguagem é o maior portal humano que temos. Ter acesso às palavras certas … muda tudo. Estamos aqui para descobrir: Como podemos cultivar uma conexão significativa conosco e com os outros? 

É possível entender a conexão entre como as pessoas pensam, sentem e se comportam, e como essas três coisas são conectadas, você entende tudo. Acho que podemos ser realmente ousados em nossas aventuras com a linguagem certa e um coração grande e cheio.

Fontes: TED – O Poder da Vulnerabilidade;  A coragem de ser imperfeito; Podcast Lewis Howes

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