Trends
Businessfulness!!!!
Como estar realmente presente para o seu negócio
O conceito de mindfulness originou-se da antiga filosofia oriental e budista, há cerca de 2.500 anos, e deriva de sati, que tem como base o “remember to observe”, ou do português, “lembrar de observar”. Pela prática as pessoas podem atingir um estado mental de atenção plena e total para o momento presente, com a mente aberta a todos os fenômenos que se manifestam na menteconsciente, ou seja, pensamentos, fantasias, recordações, sensações e emoções.
Mas por que estamos trazendo uma explicação sobre mindfulness para dentro de um Morse Trends? Porque acreditamos que muito do que existe hoje de falta de atenção plena às manifestações cotidianas de nossa vida pessoal acontece também com “a vida das empresas”. Partindo do pressuposto que uma empresa é formada por um grupo de pessoas, podemos dizer que ela possui uma vida própria. Diversos livros sobre cultura empresarial apontam que uma empresa se porta como um indivíduo, transitando por momentos que são pautados por suas próprias fantasias, recordações, sensações e emoções, assim como a mente humana age de forma individual.
Empresas em momentos muito desafiadores ou de muito sucesso aguçam a fantasia das pessoas sobre o que pode estar acontecendo, de demissões em massa à expectativa de um grande bônus de final de ano. Em outros momentos uma empresa ainda pode estar sendo impactada nos dias atuais por recordações do passado, que por vezes limitam ou travam o avanço seja por uma nostalgia, seja por medo de tropeços realizados. Isso sem falar de sensações e emoções que podem ser sentidas diariamente desde pequenas interações em uma reunião até outras questões relacionadas à mercado, concorrentes e clientes.
Com isso em mente, em um de nossos momentos de atenção plena ao Morse, e olhando ao nosso redor, pensamos que se algumas manifestações individuais do ser humano podem ser melhor analisadas, compreendidas, organizadas e direcionadas através de uma prática como o mindfulness, será que poderíamos adaptá-la para as mesmas questões que se manifestam de forma coletiva, dentro de um ambiente de negócios. No Morse Trends “Oportunidades Disfarçadas” quando falávamos justamente de como muitas vezes desafios e oportunidades estão ali, simplesmente esperando a nossa atenção, trouxemos a provocação do businessfulness, e como essa poderia ser uma prática aplicada aos negócios.
Um estágio no seu próprio negócio
Quem aqui se lembra dos primeiros dias em um novo emprego? Olhos abertos mapeando tudo ao redor e a atenção direcionada a tentar entender o contexto deste novo mundo no qual você estava sendo inserido. Porém, com o passar do tempo, e com a sensação do “agora eu já entendi” ou “agora eu já sei”, essa vontade de tentar entender o que está acontecendo vai perdendo um pouco de sua energia, até muitas vezes desaparecer. Em um outro Morse Trends, que na época chamamos de “Os 3 Porquês“, trouxemos a provocação de como as crianças muitas vezes questionam tudo antes de fazer uma tarefa e nós, adultos, por vezes saímos fazendo algo na inércia sem mesmo saber ou entender o porquê, correndo o risco de, por não estarmos realmente presentes ali no momento entendendo o que acontece ao nosso redor, estarmos fazendo atividades que muitas vezes já nem mais são necessárias, mas que ficaram na inércia de nosso dia a dia que nunca é reavaliado ou questionado. Se você estivesse começando hoje no seu trabalho, para realizar as tarefas que você precisa realizar, quais delas você questionaria, ou ao menos tentaria entender melhor, antes de sair fazendo? E num olhar mais amplo, para a sua empresa como um todo, quais atividades você olharia com os mesmos olhos?
Inner Game of business
Em uma passagem do livro “The Inner Game of Tennis“, de Timothy Gallwey, é falado sobre como as vezes o simples fato de observar algo externo, e depois observar a si mesmo, mesmo sem o conhecimento técnico e nem prático sobre o assunto, faz com que uma pessoa já comece a entender onde podem estar os erros e oportunidades de melhoria. No caso do jogo de tênis, observar o swing e a batida correta de um profissional, e depois observar os mesmos movimentos, em sua própria execução, já nos permitem entender o que podemos estar fazendo errado, seja você um tenista, ou mesmo alguém que nunca pegou numa raquete. A prática, apesar de parecer simples, demanda um nível de atenção, paciência, e dedicação aos detalhes, que nem todos conseguem ter, seja pela ansiedade do dia a dia, seja por acharem que ao ver os primeiros minutos ou movimentos, já acham que sabem tudo. Pode parecer simplista para alguns, mas saber identificar os problemas é uma grande etapa rumo à resolvê-lo. Essa é inclusive a base da Lei de Kettering, de Charles Kettering, engenheiro, inventor e filósofo social norte-americano, que diz: “um problema bem definido é um problema meio resolvido”.
Estar presente vs ser presente
Enquanto discussões sobre modelos de trabalho remoto, híbrido ou presencial, continuam em pauta em algumas empresas, muito se fala sobre modelos, metodologias e processos sobre a presença física de colaboradores dentro de seus espaços físicos, mas pouco se fala sobre o “ser presente” ao invés do “estar presente”. Em um mundo em que muitos sofrem cada vez mais com a dissociação, sabemos muito bem que uma pessoa pode estar presente no escritório, ou em qualquer outro local, sem realmente estar ali, aberto a observar e entender o que acontece ao seu redor. Os esforços de empresas, e seus líderes, pode começar a estar cada vez mais focado em trazer para o dia a dia uma forma de provocar esse entendimento de cada colaborador em seu momento presente dentro do contexto de trabalho.
Businessfulness na prática
Seja para perceber as oportunidades ou desafios disfarçados, seja para avaliar os movimentos de sua empresa versus seus concorrentes, assim como no jogo de tênis, a necessidade de se ter um momento para isso é fundamental. Se, como dito por Kettering, de todos os problemas ou desafios do seu negócio, a resolução de 50% deles parte do fato de você saber identificá-los e defini-los, ter tempo e metodologia para “lembrar de observar” os seus negócios se torna fundamental. Mas, como tudo no trabalho, sem metodologia e processo nada acontece, então criar uma “cultura de businessfulness” demanda criar oportunidades para que isso aconteça. Obviamente que não temos como dizer aqui o que funciona ou não para cada negócio, mas o simples fato de se provocar sobre o tema pode abrir a cabeça para possibilidades. O Walking Meeting, que já falamos por aqui, é um exemplo de como mudar a forma de se encarar uma reunião pode mudar completamente o resultado esperado. Além disso, metodologias como 1on1 foram implementadas com foco em criar momentos frequentes entre gestores e suas equipes, talvez um 0on1, ou seja, um momento frequente no qual cada colaborador possa, sozinho mesmo, refletir sobre si e sobre o negócio, pode trazer para sua empresa bons frutos para o coletivo, assim como o mindfulness traz para cada indivíduo.