Quem diria que, num mundo cheio de novos canais, novas telas, novos modelos de distribuição, novos aplicativos, você estaria aqui, lendo esse texto numa newsletter? Ou que estaria dando play em um podcast, formato criado em 2004, de notícias (se for o MorseCast, melhor ainda)? Ou que estaria procurando se informar fora dos grandes portais, em sites especializados e nichados? E, melhor, quem diria que tudo isso tem a ver com o smartphone (e com o Big Data)? Chamamos esse movimento de “retorno da liberdade de escolha”, uma vez que as plataformas que surgiram para distribuir notícias e conteúdos acabaram influenciando o quê, como e quando os usuários acessam essas informações: a volta a canais considerados antigos significa que você quer ler sem a influência de algoritmos e que os lugares que produzem o conteúdo querem conversar com você de maneira direta, sem passar por terceiros.
E, já que o negócio é diálogo, a gente se abriu um pouco e conversou com um pessoal do meio para entender melhor:
Push me
E a gente começa falando dos nossos colegas do The Brief. “No The Brief, o e-mail é o principal canal. A newsletter é um push, ela chega até você”, afirmou o CEO da NZN, Sobhan Daliry. Parada para lembrar que o push tem sido usado por grandes nomes da mídia para utilizar o mobile; o New York Times chegou, até mesmo, a contratar um push manager. Neste ano, 63,6% dos usuários de sites e aplicativos de mídia optaram por usar push. A ideia é parecida com a das newsletters: criar uma conversa direta com o usuário.
You’ve got Mail
“A newsletter tem uma forma de interação com o usuário mais genuína, não precisa fazer ‘click bait’, ou se preocupar com os motores de busca ou os algoritmos da rede social. Há uma relação sem intermediários entre o conteúdo e o usuário”, disse Daliry. De fato, a vontade de se afastar dos algoritmos das redes sociais tem atraído cada vez mais usuários para aquela que é considerada “a forma mais antiga de se fazer comunicação na internet”. “O usuário tem tido um nível maior de escrutínio com o que vai para o inbox dele. Se manter no inbox de alguém é um ‘real estate’ valioso”, disse Daliry. Uma parada para lembrar que, em 2018, o mundo teve um pouco mais de 3,8 bilhões de usuários de e-mails diferentes. Até 2023, serão 4,374 bilhões.
Data driven news
Nos Estados Unidos, a Axios foi formada há um pouco mais de dois anos com o objetivo de ser “uma mistura de The Economist e Twitter”: a empresa passou a enviar os conteúdos em newsletters segmentadas por tema. No final do primeiro ano, eles tinham 200 mil assinaturas e, no começo de 2019, 500 mil! O caminho? Entender os dados de quem recebia e queria receber os e-mails da Axios. Ao entender o público, a Axios consegue direcionar melhor as notícias para cada usuário, se tornando ainda mais relevante. “A tendência são as newsletters continuarem crescendo, dá para receber e-mail em qualquer device, mas poucos players vão se manter. Quem for extremamente relevante vai começar a ficar, porque a caixa dos usuários é limitada. Quem entrega conteúdo só pelo conteúdo acaba morrendo também. Precisa entregar o conteúdo como serviço”, falou Daliry.
Diálogo é rei
Entender o que o usuário quer consumir é essencial na criação do conteúdo Mobile, para Léo Xavier, CEO da Pontomobi e responsável pelo Mobilize, plataforma que faz curadoria e análise das notícias do mercado de tecnologia. “Antes era natural os publishers pensarem no conteúdo pelo conteúdo, a audiência que fosse atrás deles. Essa é uma lógica que precisa ser subvertida com o Mobile. É importante compreender as plataformas onde os usuários estão, entender a jornada de consumo do conteúdo, para, então, fornecer a melhor experiência customizada para o usuário”, disse Xavier. Para ele, não é que o conteúdo não importe, mas “o rei é o leitor”, e estar “a serviço dos usuários” é algo que entra em pauta forte quando o assunto é o conversacional. “Você precisa entender que tipo de conteúdo faz sentido, qual linguagem deve ser usada e dar opções para esses novos lugares”.
Always on
Com essa parte da relevância em mente, chegamos a Carlos Sambrana, cofundador do Neofeed. Sambrana foi diretor de núcleo da Editora Três / IstoéDinheiro antes de fundar a plataforma. “O modo das pessoas consumirem conteúdo mudou completamente. Hoje tem muita informação, mas tem muita informação pasteurizada. Se você entrar em grandes portais, parece que estão lendo a mesma coisa. Sentia falta de uma curadoria maior, análise maior das notícias. A gente precisa de qualidade, muitos veículos ficaram refém da programática, por isso fomos atrás do componente da qualidade”, comentou. Para ele, junto com a qualidade, os meios em que está presente é importante. “O site foi desenvolvido mobile first, passamos 90% do tempo desenvolvendo para o celular. 80% da leitura acontece no celular. O Brasil ainda tem mais particularidades: quase 240 milhões de assinaturas de celular. Além disso, o Brasil é o segundo maior país do mundo que mais acessa notícia via Whatsapp, só pede para a Malásia. Ou seja, a experiência Mobile tem que ser melhor do que qualquer outra, é a chave do sucesso”, disse.
Escuta aqui!
“Produzo podcast desde 2003, tenho mais de mil episódios, criei outro podcast, diário. A maioria dos meus ouvintes está no trem, preso no trânsito. O podcast é uma boa maneira dele consumir o conteúdo sem utilizar muita banda e sem precisar focar 100% a atenção, como acontece na leitura “, disse o criador do Roda & Avisa e do Radinho de Pilha e Head de Exponential Mindset da BRQ, Rene de Paula Jr. No Brasil, 40% dos usuários de internet já ouviram podcast – e 19% são ouvintes regulares. Para Rene, o áudio não exige “atenção exclusiva” e é a mídia mais móvel. A popularidade dos áudios enviados em aplicativos de mensagens foi importante para o crescimento do podcast como meio viável para parte das pessoas, diz Rene. Nesse ano, o Spotify tem investido alto no segmento, e já comprou a Gimlet, o Anchor e outras empresas ligadas ao formato, isso, para alguns analistas é uma das razões para a explosão de ouvintes para os programas. Se o assunto é informação falada, no entanto, não é só falar de podcast. De fato, existem plataformas que pensam no áudio além do podcast: o Audima “lê” os textos do site, tecnologia utilizada por exemplo pelo Neofeed, que permite que os conteúdos do site, em texto, possam ser escutados on-the-go. E, óbvio, os “alertas de notícias” da Alexa. “O smartphone foi importante para tudo isso. Mas sabe o que foi mais? O fone. Sem ele, que foi trazido pelo walkman há 40 anos, nada disso seria possível”, brinca Rene. Brincadeiras à parte: com os Airpods e a possibilidade dos usuários ficarem com o fone no ouvido o tempo todo, o áudio se torna ainda mais relevante.
Give us some space!
“O smartphone é a vida da pessoa, ela cria o mundo ali, ela escolhe quem entra e quem não entra, que aplicativos tem, os assuntos que gosta. Isso é complicado para os grandes meios. Ela basicamente criou uma trincheira: para entrar nisso precisa ter muito contexto”, disse Rene. Estar no smartphone de alguém é realmente importante. Já pensou no seu? Quem é que você deixa entrar e que conteúdo que consome? Você já define o que consome, ou ainda está no que é definido por algoritmos? Se tiver newsletter legal, manda para a gente – responde por esse e-mail mesmo.