Ghost Interview

Ela dirige os carros autônomos!

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A Amazon pode comprar a Zoox, startup responsável pela tecnologia de veículos autônomos.  A empresa, segundo membros do mercado, está avaliada em US$ 3,2 bilhões e traria a gigante do ecommerce mais próximo da tão disputada “última milha”. Da parte da Amazon, o Ghost Interview tem as bases cobertas, afinal, já falamos com Jeff Bezos e com a galera toda da AmazonAds. Para equilibrar o jogo, chamamos a CEO da Zoox, Aicha Evans para o palco. 

Evans foi executiva da Intel por oito anos, lá, ela chegou ao posto de Chief Strategy Officer. Ela já entrou na Zoox em fevereiro de 2019, e, de lá pra cá, a companhia não só passou a fazer mais testes, como também expandiu o volume de parcerias. Ainda está perdido no que a Zoox faz? A gente explica, eles estão desenvolvendo uma frota de “táxis-robô”, e, acreditem, não é do jeito que você imagina. Primeiro porque os “carros” desenvolvidos pela Zoox são elétricos, não têm volantes e têm mais espaços para pessoas. Como isso tudo funciona? Aicha explica.


MORSE: Aicha, duas perguntas sobre a Zoox: primeiro o que é, exatamente, a Zoox e a segunda é, como a empresa cria os carros? Qual a diferença da Zoox para outras criadoras de carros autônomos como Tesla e Waymo?

Aicha Evans: Não se trata só de criar um carro, mas de todo o conceito que nos levou a redesenhar e repensar a arquitetura de um carro com o propósito de colocar a IA como motorista – e de fazer os humanos apenas gostarem da experiência. Quando você se liberta dos pensamentos anteriores, de que o motorista humano é o centro do carro, faz diferença, você integra mais rápido, foca nos lugares certos. É um conceito integrado e não apenas em recriar um carro que já existe. Quando começamos a olhar para carros de passeio, percebemos que vários elementos ali fazem sentido para um motorista humano: o volante, o para-brisa, os espelhos, mas não são objetos de fato úteis para uma IA dirigir, em alguns casos, até atrapalham. 

A Zoox não é uma companhia de carros, mas de viagens e transporte. 

Nós ficamos surpresos, quase todo mundo que entrou no nosso veículo se acostumou com o fato de não ter motorista muito rápido. Porque o que acontece é que o transporte é muito suave e quem entra neste espaço não está preocupado com dirigir. Nós não estamos construindo um veículo autônomo, mas um meio de transporte. A experiência do usuário é a de se movimentar de um lado para outro. Bom lembrar que nossos veículos são elétricos, com baterias. Sem necessidade de gasolina. 

Somos um negócio diferente da Tesla [empresa que também trabalha na área de veículos autônomos], por exemplo. O negócio da Tesla é vender carros para as pessoas, carros que poderão ter habilidades extra no futuro. Nós não estamos no negócio de vender carros, mas sim para vender transporte para as pessoas. Então temos que ter certeza de ter uma frota de táxis-robôs que estão movimentando as pessoas nas cidades, então, são modelos de negócio diferente. Num taxi robô, toda a decisão de direção é feita por uma inteligência artificial, não tem outro motorista ali. É um uso diferente do que de um carro parcialmente autônomo como os que estão sendo lançados.

Do modelo de negócios, o Uber seria nosso concorrente. Eventualmente, a expansão, com a experiência, com o modelo econômico, as pessoas usarem TaaS. O Uber e a Lyft não substituíram os táxis, pode ser que no primeiro momento até tenha, mas depois o que elas fizeram foi expandir a clientela desses serviços, aproximou pessoas que nunca usavam táxis deste tipo de uso. É o que imagino que acontecerá com os carros autônomos, haverá uma expansão de mercado e de usuários. 

Fonte: Entrevista ao podcast Recode Decode em 6 de março de 2020

MORSE: Quando esperam lançar o negócio de veículos autônomos? Qual o futuro do transporte as a service, nesse sentido?

Aicha Evans: Em 2020, a gente já pretende demonstrar as capacidades dos nossos veículos. Um ponto é que a gente não acredita que encher um carro de sensores vai transformá-lo em autônomo, por isso a importância de conceber um veículo a partir da autonomia. Em 2021, nós esperamos já começar um programa comercial piloto para transportar pessoas.

Acredito que o futuro do transporte será ir do ponto A até o ponto B quando necessário, simples assim. O Transporte como um Serviço, e já estamos vendo a gênese desse segmento, vai mudar a maneira com que as pessoas pensam em veículos. Porque os veículos serão apenas uma utilidade, não um objeto. Um veículo não será diferente de ter acesso a internet ou a eletricidade. 

Fonte: Entrevista ao Wall Street Journal em 24 de outubro de 2019

MORSE: O CTO da Zoox comentou que vocês fazem updates de duas em duas semanas nos seus sistemas a partir de dados dos testes. Existe o ponto também que, diferente dos humanos, a Inteligência Artificial é capaz de melhorar sempre a forma que dirige. Mas, diga para a gente, de verdade, quando você terá certeza que o carro autônomo é 100% seguro?

Aicha Evans: Quando eu colocar minhas duas filhas no veículo para dar uma volta sem que eu esteja junto. Ainda não estamos nesse estágio.

Fonte: Entrevista à Axios em 27 de março de 2019

MORSE: No MorseCast, entrevistamos Francisco Forbes, executivo do Hyperloop, um meio de transporte em massa também autônomo, e um dos pontos que ele comentou foi sobre como as cidades com esse tipo de transporte. Passamos essa pergunta para você: como as cidades irão mudar e que segmentos devem ser afetados com uma frota de veículos autônomos como o da Zoox?

Aicha Evans: Muitos imaginam que assim que os carros autônomos chegarem, as cidades serão as mesmas, só que sem pessoas dirigindo na rua. A gente olha para o TaaS e os carros autônomos sob outra lente: para a gente, as cidades precisarão ser diferentes do que são hoje. Hoje em dia o motorista e os usuários de carro passa 1/3 do tempo do trânsito apenas procurando vaga para estacionar, se você tem menos veículos na rua, não haverá esse problema, o que acontece a partir daí? Além disso, hoje em dia, os carros só ficam ativos 4% do tempo do dia, o que significa que 96% do tempo eles ficam estacionados em algum espaço físico – estacionamentos, prédios, garagens. O que acontece com esses prédios [sem os carros na rua]? Hoje em dia, quando você planeja uma cidade, é essencial pensar nas vias para estacionamento, o que acontece quando não precisar mais desse espaço? Além disso tudo, as cidades hoje em dia arrecadam dinheiro dos seus sistemas de estacionamento, o que irá acontecer com esses sistemas, se haverá alguma transferência, isso precisará ser pensado. 

Há também de se pensar em toda a malha de transporte público que terá que ser feita próximas do espaço de shuttle dos veículos autônomos, para garantir a última milha. É uma transformação muito profunda e completa em termos de jeito da cidade. Governos e autoridades vão precisar fazer ajustes, e precisarão discutir isso tudo. 

Em termos de espaço, alguns estacionamentos serão parques. Mas também há oportunidade para o mercado de casas e imobiliário de maneira geral, e também tem espaço para mais empresas entrarem nas cidades. Não será apenas parques e áreas verdes, veremos um novo nível de infraestrutura nascendo e isso trará mais oportunidades. 

Às vezes acho que precisamos de um pouco de perspectiva histórica na discussão sobre veículos autônomos, estamos falando sobre transporte. Eu acredito que, para a América ter nascido, um pessoal veio de barco para cá. Esse era o tipo de transporte na época. De lá, fomos para um tipo de transporte mais comercial, como trens e transatlânticos. Fomos de carruagens levadas por cavalo para um automóvel dirigido por uma pessoa, e agora AI vai dirigir. Com isso vem oportunidade e também mais igualdade. Menos pessoas tinham acesso a cavalos, transatlânticos e carruagens, com os carros como conhecemos, ele conseguiu atingir mais pessoas.

O que quero dizer é: as cidades passaram por essas transformações de transporte muitas vezes, e as cidades se adaptaram. E isso vai acontecer novamente, e elas vão se adaptar. 

Fonte: Apresentação no TC Disrupt 2019 San Francisco do TechCrunch, em 3 de outubro de 2019

MORSE: Não tem como fugir deste assunto no momento, como está sendo passar pela pandemia – e essa pergunta vale para o seu lado pessoal e para profissional!

Aicha Evans: Preciso ser honesta, quando começou a pandemia, eu fiquei meio impressionada, tentando entender do que se tratava o vírus e as implicações. Obviamente que como membro da sociedade, entendi que era algo horrível, que era uma guerra contra um inimigo invisível e fiquei estarrecida e bastante incerta com o futuro. Dito isso, eu quero dizer que acredito na humanidade e no espírito humano’, eu acredito que a ciência vai descobrir uma saída, mas também não acho que iremos voltar ao que éramos antes. 

Vou dar um exemplo pessoal: eu não sou daqueles tipos de líderes que são incríveis trabalhando de casa, eu gosto de todos no escritório e de sala cheia. Se alguém me perguntar o que eu sinto mais falta na quarentena, eu vou dizer que é o falatório na empresa, o “buzz” do escritório. Com a pandemia, posso dizer que melhorei minha habilidade de trabalhar de casa e posso afirmar com certeza que a política de home-office da Zoox será mais relaxada a partir de agora. 

Um dos elementos da tecnologia autônoma que não é muito falada é a simulação, e o fato que a gente não pode dirigir agora deu tempo, software e espaço para os engenheiros trabalharem melhor os nossos sistemas de simulação. Progredimos muito nesse ponto.

Tem muito código sendo testado agora. 

Fonte: Entrevista no canal EconMotion do YouTube em 19 de maio de 2020

MORSE: Por último, a gente vai pedir para você voltar um passo na sua carreira e falar um pouco de Mobile. Mais especificamente, sobre o 5G, iniciativa que você estava tocando na época da Intel. Como você vê essa tecnologia, o que ela nos promete e como as empresas terão que se reorganizar para acomodar ela?

Aicha Evans: O 5G abrange muitas tecnologias e um ecossistema muito mais amplo do que já vimos nas indústrias de telecomunicações e wireless. É um ponto de inflexão, um lugar no tempo em que veremos e experimentaremos tudo sendo inteligente e conectado. Mas, para que bilhões de pessoas e máquinas estejam conectados, precisaremos de redes mais inteligentes, mais rápidas e eficientes. A habilidade para conectar uns com os outros, com as nossas máquinas e com a nuvem, bem como para extrair conclusões acionáveis da imensa quantidade de dados, trará novas experiências para o nosso dia a dia e transformará as empresas e negócios.

A conectividade interliga a nuvem, a Internet das Coisas (IoT), todos os nossos dispositivos, memórias e FPGAs – criando um círculo virtuoso de crescimento delineado por Brian Krzanich recentemente. Habilitar a conectividade mais inteligente, rápida, eficiente e poderosa para os 50 bilhões de “coisas” previstas para estarem conectadas, o que tornará as nossas casas, cidades e o nosso mundo mais inteligente.  O 5G possui o potencial para fornecer dados centenas de vezes mais rápido do que a atual tecnologia wireless. Mas, tal potencial só pode ser atingido quando a computação e as comunicações convergirem, e é aí que a nossa indústria precisa se alinhar.

A atual e a próxima onda de tecnologias de conectividade – LTE, millimeter wave, modens 5G, Wi-Fi, Bluetooth e Ethernet, apenas para citar algumas – são essenciais para essa conectividade onipresente de ponta a ponta para dispositivos, bem como para necessidades de aplicação extremamente diversas, de velocidades multigigabit por segundo a latência ultrabaixa.

Da mesma forma, devemos projetar modens, dispositivos e redes para garantir que tudo que possa processar e se conectar à rede. Pense sobre isso dessa maneira – cada dispositivo que se conecta à rede redefine a conectividade e estabelece um novo ponto de convergência. Com isto em mente, devemos redefinir o significado da rede. Cada dispositivo torna-se um “nó” por definição.

Tal conectividade também requer análise e resposta imediata. Muitas pessoas acreditam que os dispositivos são apenas fontes burras de dados e que todas as análises ocorrem na nuvem. Isso não é verdade. O fato é que o processamento e a análise ocorrem não só na nuvem, mas também na rede e em nossos dispositivos. O processamento não ocorre no vácuo, mas é onipresente como a conectividade.

Para fornecer conectividade 5G e inteligência precisamos trabalhar juntos. As parcerias da indústria estão mais meticulosas do que nunca. Nenhuma empresa conseguirá fazer esta tecnologia avançar sozinha. Para mim, isto significa a colaboração com os líderes da indústria, de fabricantes de dispositivos e equipamentos a operadoras de rede e provedores de serviços. Também significa criar uma forte base para o 5G em áreas como Virtualização de Funções de Rede (NFV) e NB-IOT imediatamente.

Fonte: Texto publicado no site oficial da Intel em 11 de abril de 2017

Aicha Evans: O 5G vai possibilitar que um bilhão de “coisas” se tornem smart a partir da conectividade perfeita, massivo poder computacional e acesso a dados ricos e analytics localizados na edge da nuvem. Assim, o 5G vai mudar a experiência da nossa vida em nossas casas, cidades e no mundo em volta. Ele vai acabar com as fronteiras entre o físico e o digital.

(…)

Com o 5G, os veículos autônomos poderão tomar decisões em milissegundos para dar segurança a motoristas e veículos. Drones poderão ajudar a recuperação de desastres e prover dados em tempo real para bombeiros e profissionais de emergência. As smart-cities poderão monitorar a qualidade do ar e da água em tempo real a partir de milhões de sensores.

Falando mais especificamente de veículos autônomos, eles serão data centers sob rodas. Os veículos vão gerar uma quantidade massiva de dados, mas eles também precisarão usar essas informações em larga escala para navegar pelas cidades e para reagir a mudanças repentinas. É aí onde o 5G entra. Ele entrega velocidades mais rápidas, latência ultra-baixa e tecnologias inovadoras que permitem coisas como o V2V, ou seja, a conectividade entre veículos, que poderá ser criada entre uma frota autônoma no futuro.

Fonte: Texto publicado pela Intel em 4 de janeiro de 2017

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