Ghost Interview
Bill Gates abre o jogo
Na semana passada ele saiu da sua cadeira no board da Microsoft para focar apenas nas suas ações de filantropia e nessa semana o vídeo dele, lá em 2015, prevendo uma pandemia como a que estamos passando agora rodou mundo a fora.
Mas, calma, que ele vem com boas notícias!
Para quem não conhece, Gates criou a …. Brincadeira! Quem é que não conhece ele, não é mesmo?! Então, vamos pular direto para a entrevista de hoje. Nela ele fala um pouco do que fez de certo, o que fez de errado e qual o futuro da tecnologia?
MORSE: Bill, vamos ao começo da Microsoft, lá nos anos 70, não eram muitas as empresas que faziam software, principalmente programas para computadores, e vocês faziam isso muito bem. Mas houve uma mudança de visão de negócios logo no começo dos anos 80 que foi considerada ganhadora, qual foi?
Bill Gates: No começo, a gente criava softwares. A gente tinha o Word, que fazia algum sucesso, e fazíamos Multiplan, conseguimos um contrato com a IBM PC, que nos ajudou bastante. Mas, no final dos anos 70, chegamos na pergunta: qual seria a próxima mudança de paradigma que abriria para a gente continuar na computação? Já tínhamos o Word, que era baseado em texto. O Windows não estava na ideia ainda, ele veio no começo dos anos 90. Fizemos a aposta de que o paradigma mudaria para a interface gráfica. E, na verdade, começamos com o Macintosh, com 128KB de memória.
Essa aposta de mudança de paradigma fez a diferença, mas tivemos que esperar os computadores, de fato, chegarem ao ponto correto.
(…)
Corta para 1995, quando a interface gráfica, que a gente tinha apostado lá atrás, começou a fazer sucesso. Foi com o Windows 95 que o mercado entendeu que aquela era a forma que aplicações iriam rodar num computador.E foi incrível, de 1993 a 1994, não era mainstream, e em 95 já era mainstream. Foi a maturidade do mercado, que as pessoas conseguiram ver.
Fonte: Entrevista em conjunto com Steve Jobs na D5 Conference de 2007
MORSE: Nesse tempo todo de Microsoft, Bill, qual foi o seu maior erro? E por que você acha que ele ocorreu?
Bill Gates: Trabalhando no negócio de criar sistemas operacionais para computadores, a gente sabia que o smartphone seria muito popular, e a gente estava tentando desenvolver o Windows Mobile. Mas a gente não conseguiu ser o OS dominante do Mobile logo de começo. Nós estávamos distraídos durante o processo antitruste. Nós não colocamos as melhores pessoas no time. Então, esse foi o maior erro que eu fiz, pensando nisso de errar algo que estava claramente dentro das nossas habilidades. Era muito claro que a gente deveria ser a companhia a ter o OS Mobile, e não fizemos isso. Nós abrimos espaço para o design da Motorola ganhar e, assim, abrimos uma janela enorme para o crescimento do Android como o OS global Mobile de telefones não-Apple.
Fonte: Reportagem da CNBC em 25 de junho de 2019
Bill Gates: No mundo do software, particularmente para plataformas, o mercado é do tipo “o vencedor leva tudo”. Então o maior erro de todos os tempos que eu cometi, e foi por uma má gestão minha, foi fazer com que a Microsoft não se transformasse no Android.
Se você estiver lá com metade do número de aplicativos ou 90% do número de aplicativos, estará a caminho do fim. Há espaço para exatamente um sistema operacional que não seja da Apple e quanto vale isso? US$ 400 bilhões que seriam transferidos da empresa G para a empresa M.
Fonte: Apresentação no evento da Village Global em 20 de junho de 2019
Bill Gates: A Microsoft teria muito mais valor se a gente tivesse ganho a competição do OS Mobile. O Android é um ativo gigante para o Google.
Fonte: Reportagem da Geekwire em 24 de junho de 2019
MORSE: É, nem sempre é possível acertar todas. No entanto, desde que Satya Nadella entrou na Microsoft, vocês trabalharam pesado para a migração para os produtos em cloud – o que, sozinho, teve receita de US$ 44,7 bilhões para a companhia no ano passado. Como você vê esse mercado?
Bill Gates: Eu estou animado para entender como os serviços em cloud e novos devices podem se comunicar entre si e criar colaborações. O OS não vai estar em apenas um device e a informação não estará apenas em arquivos – o que acho que entrará na história para a gente mostrar para as crianças no futuro, inclusive. Eu fiquei bastante impressionado quando o Satya me pediu para colaborar com essa visão inovadora para a Microsoft. Até no Office há muito para ser feito.
O projeto do Windows, que exigiu muita paciência, foi ótimo. O Office também foi ótimo. Juntos, eles definiram o grande sucesso dos anos 90 para a Microsoft. O Office conectado à nuvem tem muito potencial e estamos começando bem. Agora indo mais para a nuvem, acredito que o armazenamento pode ser mais rico e tem mais a oferecer.
Fonte: Entrevista aos usuários do Reddit em 10 de fevereiro de 2014
Bill Gates: O Windows segue sendo um ativo incrível, mas, porque o mundo está mobile-centric, é um ativo que precisa ser gerenciado de maneira cuidadosa, afinal, precisamos garantir que ele esteja estendido em todas as esferas. Por isso é fantástico o que estamos fazendo na cloud, e somos uma das únicas companhias que possuem massa crítica, negócios como clientes e ferramentas para levá-los para a nuvem.
Fonte: Entrevista à GeekWire em 14 de fevereiro de 2017
Bill Gates: As naturais companhias para fornecer a cloud [num serviço como a AWS], seriam os clássicas empresas de tecnologia B2B, como a IBM, a Oracle, a SAP que, realmente, falando do escalonamento horizontal [do cloud], não estão lá. O que é ao mesmo tempo uma surpresa e um crédito enorme para o Jeff Bezos e o seu time. A Amazon se lançou à frente, a AWS fez o melhor produto em cloud. Hoje a Microsoft é um número 2 forte, com uma grande distância do número 3. O cloud é uma fonte de força para a Microsoft, mas, sim, há muitas empresas que não conseguiram correr na frente da Amazon e oferecer os serviços que elas já teriam capacidade de oferecer.
Fonte: Reportagem do Entrepeneur.com em 25 de junho de 2019
MORSE: No final dos anos 90, a Microsoft foi acusada de monopolizar o ecossistema de sistema operacional e software de PCs, o que levou à Justiça norte-americana a condenar a empresa a se dividir. A condenação foi revogada, mas a Microsoft teve que abrir a sua plataforma para terceiros – principalmente de softwares de browser. Qual o impacto que esse processo teve para vocês? E qual o impacto para as Big Tech que, hoje em dia, estão passando por um processo parecido com relação ao OS dos smartphones?
Bill Gates: A primeira coisa que falo é que não acho que as Big Techs têm que ser divididas, não acho que é esse o caminho. Não acredito que cria mais competição. Tome o que aconteceu com a Microsoft como exemplo, eu era contra a Microsoft ser dividida, a gente foi até o fim no processo antitruste! Eu não desejo esse processo para ninguém.
Com certeza não fez a competição melhorar no caso da Microsoft. Foi anti-consumer, na verdade. Não tenho dúvida que o caso antitruste foi ruim para a Microsoft, nos tirou o foco de criar o sistema operacional de telefones. No lugar de usar Android hoje em dia, vocês poderiam estar usando o Windows Phone se não fosse esse processo.
Eu estava muito distraído, focado no processo, nos possíveis resultados. E perdemos o timing. Nós estávamos perto, nos atrasamos em três meses para entregar um produto em conjunto com a Motorola, um protótipo de OS. Hoje em dia, ninguém nem escutou falar direito do Windows Phone – algumas milhões de pessoas aqui e ali.
Fonte: Apresentação na New York Times DealBook Conference em 6 de novembro de 2019
Bill Gates: A tecnologia se tornou tão central que o governo precisa entender qual o papel dela, principalmente em assuntos como eleições. Então, o governo precisa se envolver. No começo da Microsoft, eu costumava me gabar para as pessoas que a Microsoft não tinha um escritório em Washington, eu acabei me arrependendo de falar isso, porque era como se eu estivesse provocando Washington. Agora, as empresas de tecnologia, parcialmente por causa das lições da Microsoft, estão mais engajadas. Elas sabem que terão mais regulações no setor de tecnologia – pensando em questões de privacidade, muito provavelmente terão regulamentações federais com relação a isso em algum ponto. O fato que o digital se tornou a forma que as pessoas consomem a mídia faz com que a gente tenha que criar formas de analisar para que os benefícios pesem mais do que quaisquer malefícios.
Eu tentei comprar o Facebook. Nós compramos uma parte pequena do Facebook, e foi um investimento de sucesso. O que Mark [Zuckerberg] fez não estava dentro do nosso âmbito, diferente do sistema operacional mobile – que absolutamente estava por causa da nossa cultura dentro da engenharia. Mas não estava na nossa estratégia ou no nosso caminho ser líder em redes sociais. A gente acabou comprando, recentemente, o LinkedIn, que é uma rede profissional, e há uma oportunidade de crescimento nesse sentido.
Fonte: Apresentação no Economic Club of Washington em 24 de junho de 2019
MORSE: Lá nos anos 80, você criou a Microsoft com a visão de que todo mundo teria um computador pessoal, e agora, qual a sua previsão para os próximos anos? E, fala a real para a gente, tem alguma tendência de tecnologia que você não entende direito?
Bill Gates: Nos próximos 10 ou 20 anos, a inteligência artificial vai ser extremamente útil. E o risco de que ela fique superinteligente fica muito para o futuro próximo. Mas pela primeira vez, já falamos que computadores conseguem ver tão bem quanto humanos, o que já é incrível. Se combinar isso com a manipulação de um braço, por exemplo, já muda todo um mercado.
Google, Facebook, Apple, Microsoft, estão indo bem rápido para melhorar os softwares de inteligência artificial. E a rapidez é maior do que há uns anos.
Uma área é a que chamamos de “agentes” onde se você está procurando conhecimento, pode falar naturalmente com um “agente virtual” e ele vai te responder tão bem quanto um humano. Um exemplo específico disso é ter um software que pode te ajudar no seu dia a dia. Hoje a gente fica meio perdido quando está no computador, fica entrando em vários programas, o software vai resolver isso para você, sabendo os seus interesses e os seus hábitos, o que nos fará ganhar em eficiência e em valor. Eu chamo isso de “o software alter-ego”.
Fonte: Entrevista à CNBC em 2 de maio de 2016
Bill Gates: O computador ainda não está tão inteligente, tanto que as pessoas não confiam que ele tenha contexto para entender os seus e-mails e calendários, o usuário ainda não deixa o computador escolher para quem enviar o e-mail. O usuário ainda escolher qual aplicativo usar, qual item comprar. Ainda está trabalhando no low level, acho que teremos assistentes executivos baseados em inteligência artificial em 5 a dez anos.
Geralmente, eles progrediram. É um projeto prioritário para companhias como o Google e a Microsoft. Em algumas áreas, como em tradução, o deep learning já está surpreendentemente bom.
Fonte: Entrevista ao MIT Technology Review em 27 de fevereiro de 2020
Bill Gates: Eu entendo bastante de física e bastante de matemática. Mas o único assunto que quando vejo slides, me parecem hieróglifos, é a computação quântica.
Fonte: Reportagem do MarketWatch em 29 de setembro de 2017
MORSE: Como você era no começo da Microsoft e o que você aprendeu com a vida nos negócios?
Bill Gates: Éramos intensos. Se tinha alguém trabalhando num programa, a gente queria terminar logo. Não se preocupava em dormir.
Adorava ir trabalhar e aquele trabalho era a minha vida. A minha maior vantagem era ser fanático, ou seja, usar todas as minhas habilidades, dia e noite e focar em criar um programa bom. Eu amava ser fanático. No final, eu passei só a gostar. Não ligava para fins de semana e não acreditava em férias. Para muitas pessoas não era o lugar ideal para trabalhar. Éramos agitados, exigentes.
Eu era famoso por dizer: “é a ideia mais idiota que já ouvi”. E, claro, as pessoas perguntavam: “como pode, ele já escutou tantas ideias hoje, por que essa é a ideia mais idiota?”.
Eu era tão extremo. Eu sabia a placa dos carros de todo mundo, então eu andava pelo estacionamento e sabia quem estava lá e quem não estava lá.
Fonte: Parte do episódio 2 da série “Decoding Bill Gates” do Netflix
Bill Gates: No começo, eu era muito acelerado, de ficar a noite inteira trabalhando. Eu achava que um programador 5% mais lento não tinha espaço na Microsoft. Eu era bem hard-core. Eu acho, no entanto, que a indústria amadureceu, e as expectativas sobre um CEO também. A habilidade natural do Satya [Nadella] em trabalhar junto com várias pessoas, a empatia que eles têm, a capacidade que ele tem em corrigir os outros de uma forma legal e de dar feedbacks de maneira positiva é algo valorizado no mercado, e é mais natural para ele do que foi para mim.
Fonte: Entrevista à WSJ Magazine em 25 de setembro de 2017
MORSE: Bill, lá em 2015, você fez um TED falando que a maior ameaça para a população mundial seria não uma guerra, mas um vírus altamente contagioso atingir áreas urbanas. Bem, estamos no meio de uma pandemia de, exatamente, um vírus que tem se espalhado rapidamente em centros urbanos. Como a tecnologia pode nos ajudar nesse momento? O que pode ser feito?
Bill Gates: Podemos criar um sistema de reação muito bom. Temos a vantagem de toda a ciência e tecnologia de que falamos aqui. Temos telefones celulares para coletar informações das pessoas e divulgar informações para elas. Temos mapas de satélite em que podemos ver onde as pessoas estão e aonde vão. Temos avanços na biologia, que mudariam drasticamente o tempo de resposta para analisarmos um patógeno e sermos capazes de criar vacinas e medicamentos compatíveis com ele. Podemos ter ferramentas, mas elas precisam ser colocadas num sistema geral de saúde global, e precisamos de preparação. Acho que as melhores lições sobre como nos preparamos são, mais uma vez, o que fazemos para a guerra. Soldados ficam preparados para agir a qualquer momento. Temos reservistas que podem nos representar em grande número. A OTAN tem uma unidade móvel que pode entrar em ação com muita rapidez e faz vários testes de guerra para saber: as pessoas estão treinadas? Eles entendem sobre combustível, logística e as mesmas frequências de rádio? Então, eles ficam totalmente prontos para agir. Esses são os tipos de coisas com as quais precisamos lidar numa epidemia.
Fonte: Apresentação TEDx em março de 2015
Bill Gates: A crise [do COVID-19] é preocupante, mas há boas notícias. Os cientistas estão conseguindo sequenciar o genoma do vírus e, em questão de dias, já desenvolveram alguns candidatos promissores à vacina, e a Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias já está preparando até oito candidatos promissores a vacinas para ensaios clínicos. Se uma ou mais dessas vacinas forem seguras e eficazes em modelos animais, elas poderão estar prontas para testes em larga escala já em junho. A descoberta de medicamentos também pode ser acelerada recorrendo a bibliotecas de compostos que já foram testados quanto à segurança e aplicando novas técnicas de triagem, incluindo aprendizado de máquina, para identificar antivirais que podem estar prontos para ensaios clínicos em larga escala dentro de semanas.
(…)
O mundo também precisa investir em vigilância de doenças, incluindo um banco de dados de casos que é instantaneamente acessível às organizações e regras relevantes que exigem que os países compartilhem suas informações. Os governos devem ter acesso a listas de pessoal treinado, de líderes locais a especialistas globais, que estão preparados para lidar com uma epidemia imediatamente, bem como listas de suprimentos a serem armazenados ou redirecionados em caso de emergência
(…)
Além dessas soluções técnicas, precisaremos de esforços diplomáticos para impulsionar a colaboração internacional e o compartilhamento de dados. O desenvolvimento de antivirais e vacinas envolve enormes ensaios clínicos e acordos de licenciamento que atravessariam as fronteiras nacionais.
Fonte: Post no seu blog pessoal “Gates Notes” em 28 de fevereiro de 2020
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