O Ghost Interview é um formato proprietário do Morse que recria narrativas em forma de entrevista para apresentar personalidades do mundo dos negócios, tecnologia e inovação.
O convidado: Adam Grant é um psicólogo organizacional super conhecido e uma figura chave no mundo do trabalho e da psicologia. Ele é professor na Wharton School da Universidade da Pensilvânia e já escreveu vários best-sellers. Ele também é o anfitrião do podcast “WorkLife”, onde compartilha suas ideias e conversa com pessoas influentes sobre como melhorar nossas vidas profissionais.
Livros:
Seu propósito: “Quero dar às pessoas os insights mais úteis das ciências sociais para ajudá-las a pensar de forma mais clara e crítca e a fazer escolhar que irão construir felicidade, significado e sucesso”.
Como você define os “Originais” de seu livro? E quem seria um “original” do mundo tech e inovação?
Eu penso que os Originais são pessoas que não apenas questionam a maneira como sempre fizemos, mas que tomam a iniciativa de criar uma maneira melhor. Muitas vezes se diz que ideação sem execução é apenas alucinação, há tantas pessoas que sonham com ideias interessantes, mas nunca fazem nada a respeito.
É difícil não colocar Elon Musk nessa lista. Você pode amá-lo ou odiá- lo, mas, quando se trata de sonhar com a visão e também tomar a iniciativa de tentar nos tornar um multiplanetário e nos mudar para um futuro de carro totalmente elétrico, ele com certeza é um “original”. Acho que ele se encaixa principalmente porque desafia o status quo e, em segundo lugar, acho que ele é implacável na tentativa de tornar sua visão uma realidade.
Como lidar com a procastinação?
Não procrastinamos pelas razões que achamos que fazemos. Muitas pessoas pensam que estão sendo preguiçosos, estão evitando esforço, se questionando “o que há de errado comigo?” quero trabalhar duro!”. Mas acontece que não é o trabalho árduo que você está evitando quando procrastina, são emoções negativas, sentimentos desagradáveis, você está evitando um conjunto de tarefas que faz você se sentir frustrado, confuso, entediado, ansioso, muita procrastinação é motivada pelo medo.Uma das melhores maneiras de gerenciar isso é perguntar quais são as tarefas que você consistentemente procrastina. Sobre quais emoções negativas elas estão provocando e então como você muda isso?
O que é inteligência emocional?
Eu comecei como um cético em relação à inteligência emocional, uma vez até um colega me disse que inteligência emocional era inteligência para pessoas burras! Obviamente, isso não é verdade… A pesquisa sobre inteligência emocional a define como a habilidade de lidar com as emoções. A inteligência emocional permite que você reconheça, entenda, gerencie e regule as emoções, sendo essa última parte – a regulação – muitas vezes a mais difícil que enfrentamos como indivíduos e líderes.
Há muito a ser repensado quando se trata de emoções. Sempre que você fica com raiva, frustrado ou desapontado, vale a pena lembrar que essas emoções são apenas um rascunho inicial. Você nunca publicaria uma versão preliminar do seu blog, certo? Você o editaria para garantir que é a melhor versão, da mesma forma que eu nunca publicaria o primeiro rascunho de um livro! O mesmo vale para as emoções – muitas pessoas simplesmente vão em frente e “publicam” – internalizando como se sentem – sem parar por um segundo e pensar que talvez deveriam fazer uma revisão, um primeiro ou segundo rascunho.
Quais são os principais modos de pensar que orientam nossos valores e crenças?
Há duas décadas, li um artigo brilhante de Phil Tetlock, que me apresentou a ideia de pensar como um pregador, um promotor ou um político. Depois que internalizei esse conceito, não consegui mais deixá-lo de lado. Eu o via em todos os lugares… Eu o via no meu próprio pensamento… no pensamento de outras pessoas… Eu o via na maneira como nos comunicamos.
A ideia básica é que, quando você está pregando, você está tentando converter outras pessoas e defender suas crenças sagradas. Quando você está acusando, você está tentando ganhar uma discussão, o que significa que você terá que provar que o outro lado está errado. Minha grande preocupação é que, quando estamos presos a uma mentalidade de pregador ou promotor, não estamos dispostos a questionar nossas próprias suposições e opiniões… se eu estou certo e você está errado, então eu posso ficar parado, e você é quem precisa mudar. No modo político, as coisas são um pouco mais flexíveis. Nesse modo, estou tentando ganhar a aprovação de uma audiência – e isso significa que vou fazer lobby ou campanha. Posso dizer coisas que você quer ouvir, mas talvez não esteja realmente mudando o que realmente penso ou – se o fizer – posso estar fazendo isso para agradar meu grupo em vez de encontrar a verdade.
Como podemos manter nossos próprios valores com ceticismo saudável?
Há um tempo e um lugar para ser pregador, promotor ou político. Se você tem uma audiência receptiva às suas ideias – ou pelo menos mente aberta – não há razão para que você não possa ser entusiasta ou hipercrítico de algo que você acha que é um engodo… ou para garantir que você entenda o que eles querem ouvir para garantir que você esteja falando a linguagem deles.
Onde as coisas se tornam problemáticas é quando começamos a nos apegar a ideias que nunca fizeram sentido ou que não são mais verdadeiras. Também é problemático quando você está lidando com uma audiência que é resistente às ideias que você está apresentando. Quando essas condições estão presentes, precisamos repensar nosso instinto de pregar, acusar ou fazer política e, em vez disso, pensar mais como cientistas.
Como devemos desarmar conflitos e polarizações nos relacionamentos interpessoais?
Aprendemos muito em psicologia nos últimos anos sobre como despolarizar situações, mas temo que não exista uma bala de prata. Nosso ponto de partida é reconhecer que, se você quer que outras pessoas abram suas mentes, você também precisa abrir a sua.
Eu sei que tenho a tendência de entrar no modo promotor, já fui até chamado de “tirano da lógica” de vez em quando… mas essa não é minha intenção. Tenho esse hábito de, quando alguém tem uma visão extrema, eu tender a querer tomar o extremo oposto e empurrar os limites de um argumento. Para mim, isso faz parte da diversão de um debate animado. No entanto, isso pode parecer um ataque. Às vezes digo às pessoas que tenho essa tendência e peço que sinalizem se me virem fazendo isso. Quero que as pessoas me avisem se eu entrei no modo promotor e se preciso mudar para o modo científico e mostrar mais curiosidade e humildade. Essa pequena revelação pessoal é útil, pois dá às pessoas permissão para apontar a abordagem umas das outras e permite uma abertura para ideias e conversas sem reações exageradas se as coisas esquentarem. Este é apenas o começo, é claro, mas é um bom ponto de partida.
Como podemos aplicar uma melhor compreensão de nossos valores e crenças?
Eu desperdicei muitas horas tentando mudar os valores das pessoas em vez de apenas reformular as ideias que me empolgam em termos de valores que elas já possuem. Para começar, temos que descobrir quais são os princípios e valores que têm maior importância para a pessoa com quem estamos conversando. Isso vem da psicologia da entrevista motivacional, onde um psicólogo conselheiro geralmente lida com pessoas que estão enfrentando dependência e tenta guiá-las para superar essa dependência.
Fonte: Thought Economics, The Diary of a CEO, Thinkers 50