Morse News
Bem vindos ao metaverso!!!!
Zuckerberg falou que o Facebook vai se tornar uma empresa de metaverso, a Epic Games entrou na briga toda com a Apple, exatamente, por defender seu metaverso; Roblox chegou ao valuation de US$ 45 bilhões levando o seu metaverso para o ar e até mesmo a Microsoft chegou a dizer que quer se tornar um “metaverso empresarial”. Mas, na boa, o que metaverso significa? E, principalmente, o que ele diz sobre o futuro do digital?
What?!
Em linhas gerais, o metaverso é um espaço digital compartilhado. Mas um espaço onde é possível habitar, transitar e fazer compras, ou seja, viver como se vive no mundo físico. O termo nasceu lá em 1992, pelas mãos de um autor de ficção científica e volta e meia ele é tema de filmes, como Palyer 1 e, lógico, Matrix. Se você já acompanha a gente, sabe que comentamos sobre o metaverso quando falamos aqui sobre a volta do Second Life e também quando explicamos como a Epic Games e a Roblox vêm ganhando espaço no mercado. Tendo esse conceito claro, podemos continuar com o Morse.
Marvel também tem um metaverso
Não confunda metaverso com multiverso. Quer dizer, quase. Nas HQs, multiverso é o conceito que apoia as várias narrativas ligadas a um mesmo herói ou a um mesmo mundo. No multiverso o mundo ficcional é composto por várias linhas do tempo diferentes, por vários outros espaços e por vários universos paralelos, e todos eles coexistem. Uma história, dessa forma, pode ter diversos desfechos, mas com o mesmo personagem; o mesmo herói pode ter diversos caminhos e, até mesmo, diversas feições. A Marvel é uma das que usa e abusa do multiverso para, exatamente, ter várias versões e várias linhas do tempo de um mesmo herói. Para a Disney, dona da Marvel desde 2009, explorar o multiverso foi um caminho para diversificar seus produtos e suas histórias. O que antes era apenas uma franquia de filmes super rentáveis (só a franquia de Vingadores somou US$ 30 bilhões em bilheteria no mundo), virou espaço para roteiros de séries a serem lançadas e acompanhadas fielmente na Disney+. Desde o ano passado, pelo menos quatro séries do mundo Marvel estrearam no serviço de streaming. Apenas WandaVision, a primeira dessas séries, foi 81,3 vezes mais assistida do que qualquer outra série em streaming no mês de janeiro. E é aí que o multiverso se encontra com o metaverso: ambos são uma forma de manter usuários mais e mais engajados; e a audiência cada vez mais e mais fiel. Só para contexto, o usuário médio da Roblox passou em média mais do que duas horas e meia por dia na plataforma de game em 2020.
O game tá on
Uma outra produtora de filmes e séries de streaming também olhou para o metaverso, mas não usou exatamente essas palavras. Estamos falando da Netflix, que está trazendo executivos para estruturar uma nova área voltada para games. O projeto deles é ter jogos já lançados na sua plataforma até o ano que vem. E, não, não é apenas pelas opções de entretenimento para os usuários. Nem apenas para captar mais dados deles, mas para conseguir diminuir seu churn (= saída de assinantes) e abrir espaços novos para gerar receita. O Fortnite, da Epic Games, fez parceria com uma série de marcas, entre elas a Gucci e a Louis Vuitton, que vendem skins e roupas dentro do espaço do jogo. Ou seja, um metaverso – porque o conceito do metaverso precisa passar pela relação econômica completamente digital. Falando em Fortnite, a Epic Games somou US$ 700 milhões em vendas dentro de seus games apenas em 2020. A Roblox usa bastante das parcerias com marcas para monetizar os seus 42,1 milhões de usuários ativos diários; mas com uma venda um pouco diferente do que de itens parecidos com roupas ou acessórios numa versão virtual, o que a Roblox vende são minigames dentro do espaço do metaverso, e as marcas pagam para estar ali.
Do trabalho para casa
Ok, mas se os games estão nessa há algumas décadas e a ficção científica fala disso desde 92, por que o assunto voltou para o hype? A resposta está no seu Google Calendar. Ou agendada no Outlook. Estamos falando de suas reuniões e calls (algumas que, a gente sabe, podiam muito bem ser um e-mail). O trabalho remoto massificado que aconteceu no último ano, forçado pela pandemia e encorajado pelas empresas, acabou mostrando para as Big Techs que a tese de que as pessoas convergiriam todas as áreas de sua vida, e não apenas o entretenimento, para o digital estava correta. E que o mundo está pronto não só culturalmente, como também em termos de infraestrutura para suportar o evento “metaverso”, sem parecer que estamos todos entrando numa Matrix do mal. Em outras palavras: estamos prontos para migrar para um espaço completamente digital com qualidade. Foi a partir dessa experiência com as reuniões que a Microsoft está criando o seu próprio metaverso: eles lançaram o Mesh, um tipo de VR para o Microsoft Teams, onde os participantes de reuniões podem conversar entre si com uma presença mais física mesmo – usando um headset de realidade virtual. Para a companhia, esse é só o começo do seu metaverso. Nos últimos meses, Satya Nadella tem falado cada vez mais esse termo, inclusive aqui comentando que a Microsoft quer criar um “metaverso empresarial”.
Mundo de Zuckerberg
“O metaverso é um grande tópico. E é uma visão que se amplia para várias empresas, a indústria como um todo, na verdade. Dá para pensar nele como um sucessor da internet móvel. E, certamente, não é algo que uma companhia vai construir sozinha, mas acredito que uma grande parte do nosso próximo capítulo será contribuir com outras empresas, criadores e desenvolvedores. Vejo o metaverso como uma incorporação da internet, onde no lugar de apenas ver o conteúdo, você está dentro dele”, disse Mark Zuckerberg em uma entrevista ao The Verge publicada há umas três semanas. E ele ainda completou: “o Facebook vai deixar de ser uma empresa de rede social para se tornar uma companhia de metaverso”. Diferente da visão da Microsoft, que vê a experiência digital incorporada em momentos como as reuniões de trabalho, o Facebook vê espaço para convergir todo o nosso dia a dia dentro do digital. Para isso, eles estão investindo algo perto de US$ 5 bilhões ao ano e trabalhando em algumas frentes: o conteúdo, como já temos falado aqui das opções de monetização para criadores e influenciadores; o transacional, com o Facebook Pay, o WhatsApp Pay e a tentativa de criar a sua criptomoeda, a Libra (e que acaba tocando o e-commerce); a mensageria, com as funções de vídeo e áudio nos seus aplicativos de mensagem unificada e, lógico, a infraestrutura física, com o desenvolvimento de óculos de realidade virtual. Neste último ponto é que reside a aposta do Facebook em nos colocar mais imersos num ambiente digital.
Por trás dessas lentes também bate um coração
O FB já tem o Oculus, um headset de VR mais voltado para games, e pretende lançar um outro óculos de Realidade Aumentada em parceria com a RayBan ainda este ano. Mas estes são mais vistos como gadgets auxiliares para eles testarem conceitos e para melhorarem os headsets até eles se tornarem massificados. Dentro do Facebook, as conversas são de que até 2030, eles terão os tais óculos de VR massificados. Para isso, eles contam com o Reality Labs, e também com uma série de teses sobre como as pessoas irão interagir com o ambiente virtual. Porque talvez esse seja um dos maiores desafios: muito se imagina o metaverso como um game imersivo, com imagens 3D, todo mundo interagindo num espaço com gráficos muito reais, mas… precisa ser dessa forma? Como será o design de um mundo completamente novo e um espaço diferente de interação entre pessoas, empresas e marcas? Uma das apostas do FB, por exemplo, é que os usuários não vão querer usar um óculos de realidade aumentada que atrapalhe o seu dia a dia, então eles devem lançar juntos uma pulseira ou algum dispositivo para que os comandos sejam mais “suaves”. E, se é para falar em dispositivos no braço e de óculos virtuais para serem lançados, bom lembrar que a Apple já tem o seu smart-glasses no caminho, o primeiro será um headset mais caro, a ser lançado no ano que vem, e, até 2025, eles projetam colocar na rua o óculos mais popular e acessível. Outra Big Tech que já testou nesse mundo, resolveu desistir e depois voltou atrás foi o Google, que, no ano passado, comprou a Focals, startup que cria smart-glasses. Assim como os futuros óculos do Facebook, a Focals está analisando a maneira com que as pessoas podem interagir estando imersas no ambiente digital e físico ao mesmo tempo – a escolha deles foi fazer pequenas fatias de informação visual aparecerem na frente do usuário.
Digital Only Brands
Visão de futuro, apostas, design, novos aparelhos.. OK. Mas e o dinheiro?! Demos uma dica de como a monetização do metaverso acontece: venda dentro do espaço virtual, mas também há um caminho para os ads personalizados naquele ambiente, bem como a recriação de marcas no mundo virtual. Zuckerberg já comentou que a monetização do metaverso virá a partir de vendas de bens virtuais. O que, para a gente, é difícil de não ligar com outra buzzword quente do mercado digital: NFT. Lembra dele? Os non-fungible tokens, aqueles cupons digitais únicos? Pois eles têm tudo a ver com o metaverso e com o conceito todo de se habitar um espaço digital, já que não só são vendidos via criptomoeda, como também são ligados a um “produto” que só existe no ambiente virtual. Alguns comentam que o metaverso só pode existir mesmo num ambiente descentralizado, puxado pelo blockchain (olha lá outra buzzword, quando a gente completar cinco, ganhamos o bingo das apresentações sobre inovação e podemos escolher uma música no Fantástico). O NFT – e o blockchain – podem permitir um tipo de escala maior para o ambiente econômico do metaverso. A gente fala tanto sobre as marcas nativas digitais (DNVB), marcas que só vendem seus produtos físicos via e-commerce ou rede social, mas, para falar a verdade, um cenário bem plausível de futuro (próximo) são as marcas puramente digitais, ou seja, sem nenhum produto físico, apenas produtos comprados e trocados no metaverso.