Ghost Interview

O criador do Big Brother!!!!

Uma aula sobre formatos autorais com John De Mol

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Acredito que, sem correr riscos, você nunca encontrará o próximo grande sucesso” – John de Mol 

Num mundo digital onde muita coisa se copia e se adapta, os formatos autorais, aqueles criados do zero, apesar de mais raros e desafiadores, mostram que possuem força! Apenas aqui no Brasil estamos na 24ª Edição do Big Brother.  O programa de origem Holandesa revolucionou a forma como enxergamos reality shows e só no Brasil bateu grandes recordes de audiência. Em 2023, o programa registrou 142 milhões de pessoas alcançadas e o faturamento, através de seus patrocinadores, chegou a R$ 1 bilhão. Quem esteve por trás da idealização do programa foi John De Mol, também criador do The Voice.  Em pelo menos 150 países há uma emissora exibindo algum de seus programas.

No Morse Trends ‘Um formato para chamar de seu já falamos sobre formatos autorais, e para abrir o ano de 2024 inspirando a todos a pensarem fora da caixa e criar algo único, o nosso “convidado” do Ghost de hoje é John De Mol que dá uma aula sobre formatos autorais e a importância do risco para inovar e revolucionar o entretenimento! 

E temos uma novidade! Agora teremos o Ghost Interview em formato de Podcast. Comentaremos sobre o nosso convidado, respostas e perguntas, além de compartilhar também as nossas visões e opiniões. Sexta-feira no ar! 👀


John, como surgiu o Big Brother?

Há muito tempo, havia um projeto nos Estados Unidos chamado “Biosphere 2”. Eles colocariam pessoas num local onde tivessem que plantar sua comida e sobreviver lá por dois ou três meses. Li sobre isso, achei intrigante e comecei a discutir o assunto com a minha equipe. Tentamos tornar isso um formato de TV. E uma das melhores ideias foi a de que as pessoas na casa não teriam contato com o mundo exterior. Eles não saberiam o que aconteceria fora. Foi muito novo. Pela primeira vez, 100 câmeras estavam gravando simultaneamente. Chamamos engenheiros do Japão para tornar isso possível. Mas eu não conseguia vender para nenhuma emissora, porque todos pensavam que era muito perigoso. E depois de um ano e seis meses, finalmente encontrei uma emissora na Holanda que topou exibir se nós assumíssemos a responsabilidade por todos os riscos. Então pagamos pelo programa. A emissora exibiu de graça e nós dividíamos o lucro da propaganda.

Mesmo depois de mais de uma década, o “Big Brother” é exibido em vários países, inclusive no Brasil, que tem recorde de audiência. Como você analisa o forte interesse do público? 

Acho que é porque os reality shows são o espelho da sociedade. Mostram pessoas que vivem ao seu lado, que você reconhece, estão na rua. Algumas pessoas se gostam, outras não, umas se apaixonam, outras brigam. Sempre traz a pergunta: como você reagiria a essa situação?

Por que há tantas pessoas loucas para participar de um reality show?

A maioria das pessoas tem o objetivo errado ao querer entrar para um reality show, que é se tornar famoso em poucas semanas e ganhar dinheiro fácil depois. A razão para entrar no “Big Brother” é, primeiro, ter uma grande experiência, aprender sobre você mesmo, se conhecer melhor. Acho que hoje há pessoas mais reais que no começo. 

O programa recebe também muitas críticas. Alguns dizem que perdeu a graça, outros que fez cair a qualidade da TV. Como rebate esses comentários?

Tenho duas respostas: primeiro, há um controle remoto. Se você vê algo que não gosta, apenas troque de canal. Minha segunda resposta é que há uma questão de diferença de gerações. Quando começamos o “Big Brother”, havia muitas críticas de pessoas que não sabiam nem do que o programa se tratava. É o mesmo que aconteceu com Elvis Presley, Rolling Stones, Beatles. Eles eram muito populares com os mais novos, e os mais velhos achavam que eram coisa do diabo. Sempre vai haver pessoas mais velhas que não vão gostar do que os mais novos gostam. Acho que o “Big Brother” trouxe os mais jovens de volta para a TV. 

O “The Voice” é hoje o programa mais exportado e está em 55 países. Qual o segredo do sucesso?

Desde o começo dos anos 2000 programas musicais se tornaram muito populares, como “Idols” e “X-Factor”. Faziam sucesso porque contavam com pessoas que achavam que eram bons cantores, mas não eram. O júri é que dizia: “Você não é bom, não pense que vai ganhar dinheiro com isso, vá fazer outra coisa”. É um tipo de programa que as pessoas gostaram por muito tempo. Achei que era hora de fazer uma competição com pessoas talentosas. Nos outros programas, a maioria dos vencedores não teve carreira porque não era artista de verdade. Já no “The Voice”, para participar, é preciso ser um bom cantor. O público quer ver artistas com talento e não que finjam ter talento.

Como busca inspiração para seus programas?

Estou na televisão há 30 anos. Meu desejo é continuar criando. Todo dia, dirigindo, olhando pela janela, tomando banho, estou sempre pensando em televisão. As ideias vêm em momentos até meio loucos. Também quando ouço pessoas falando de suas vidas penso se há algo que possa virar um programa de TV.. Qualquer informação que tenho me faz pensar se posso transformar em um programa.

Você acha que os criadores de formatos ainda estão sendo criativos nos conceitos que apresentam?

Acredito que a próxima grande novidade sempre vem de um canto inesperado. Quando lanço todos os meus grandes sucessos, a primeira reação das redes é um olhar que diz: ‘Você está falando sério?’ Acho que a diferença entre os executivos das redes e os criadores de conteúdo é que as redes dirão não para evitar riscos, enquanto os criadores tentam para obter o máximo de ‘sim’ que puderem e estão abertos ao risco. Acredito que, sem correr riscos, você nunca encontrará o próximo grande sucesso. 

Você disse que “pode levar uma eternidade hoje em dia” para um produtor levar uma ideia direto para a série. Por que você acha que é isso?

Não mudou muito nos 25 ou 30 anos em que estou no ramo, mas é muito difícil ter uma ideia captada nos EUA, o principal mercado televisivo onde todo mundo sonha em ter um programa, porque os diretores de programas e os executivos de rede não estão dispostos a correr riscos. É muito difícil vender um formato nos EUA, no Reino Unido, na França e na Alemanha – os grandes mercados. Um país pequeno como a Holanda é o primeiro passo ideal porque então você pode ir às redes e às emissoras nos países maiores, pode mostrar-lhes as filmagens, pode mostrar-lhes as classificações e mostrar-lhes a demografia. Isso torna o acesso muito mais fácil agora.

Acha que pode surgir logo outro programa, como os reality shows, que revolucione a TV mais uma vez?

A grande diferença entre o “Big Brother” e outros formatos que vieram depois é que com o “Big Brother” não criamos apenas um formato, mas um novo gênero de televisão que não existia, os reality shows. Será muito difícil aparecer algo tão novo e arrasador. Mas gosto de pensar que com minha equipe vamos criar algo nos próximos anos. 

Acredita que a internet pode tomar o lugar da TV?

Não. Acho que será um extra. Por exemplo, quando você está em casa assistindo a um programa como o “The Voice”, sabe que ao mesmo tempo há milhares de pessoas vendo a mesma coisa. E você pode comentar sobre o programa com seus colegas. Seriados, por exemplo, faz mais sentido ver na internet. Mas os reality shows todo mundo que ver naquela noite, porque se você não assistir não pode falar sobre ele. A graça é todo mundo ver o programa ao mesmo tempo.

Fonte: Isto É, Real Screen, Financial Times

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